Capítulo 24

591 42 0
                                    

Matteo

Encaro a parede silenciosamente enquanto penso em tudo que vinha acontecendo, Klara havia voltado a falar comigo, o que era a grande coisa que me fazia sorrir novamente. Suspirei rindo para o nada e me levantei, jogando as cobertas para o lado, esfregando os olhos e bocejando enquanto caminhava até a janela, empurrando a janela até abrir ela e resmungando por ter acordado antes do nascer do sol novamente. Esfreguei o rosto de leve, tirando a calça do pijama e a jogando sobre a cadeira do escritório, caminhei até o banheiro, abrindo o registro e mergulhando em baixo da água fria e suspirando com meus músculos relaxando.

Estava a talvez uns 15 minutos em baixo da água, talvez mais, quando meu telefone começou a tocar, e eu abri os olhos resmungando alguns xingamentos, tentando voltar a relaxar, mas o toque não parava. Respirei fundo correndo os dedos pelos cabelos os jogando para trás e desliguei o chuveiro, caminhando de volta até o meu quarto, sem ânimo de por uma toalha enquanto andava até a mesa ao lado da minha cama. Meu celular estava vibrando desesperadamente sobre a madeira, e eu o peguei sorrindo um pouco ao ver o nome de Klara enquanto voltava para o banheiro.
-Klara? São 5:30 da manhã. Mesmo eu te amando desesperadamente, não devia estar dormindo? - Resmunguei ainda rouco de sono, colocando o telefone no viva-voz, e voltando a tomar banho enquanto a ouvia rir suavemente, estranhando ela estar em algum lugar barulhento a essa hora. - Você está numa festa?
-Não estou numa festa. Estou num lugar especial e queria te convidar. - A voz dela era meio abafada por algo que parecia vento e talvez oceano? Ela estava na praia? - Se importaria em vir até o porto? Quero dar uma volta com você.
Tentei achar uma desculpa, qualquer uma tolerável, mas eu não podia negar aquela pequena coisa para ela. Com o coração meio hesitante ainda, concordei suavemente, pedindo que ela esperasse apenas uns minutos pra eu me arrumar e pedindo o endereço para encontra-la, ouvindo ela me mandar um beijo através do meu leve desespero. Não estava com medo de sair com Klara, na verdade estava feliz como nunca por isso, meu medo era o mar, e esse passeio de barco. Não sabia se estava preparado para algo assim sem surtar, ainda mais com a maior parte dos meus pesadelos envolver cenários irritantementes semelhantes ao marítimo.
Com toda a resignação que pude juntas, desliguei a água, e me enrolei no roupão, secando os cabelos enquanto ia até o armário me vestir, encarando o espelho a cada peça de roupa posta, reafirmando que eu iria me divertir e não teria um surto. Klara estaria lá comigo, e seria perfeito. Nada mais que isso. Ao menos era o que eu repetia muitas vezes enquanto arrumava minha aparência diante do espelho, fechando o zíper da jaqueta antes de ir ao banheiro escovar os dentes, tomando um calmante leve enquanto secava o cabelo e o arrumava, colocando o celular no bolso antes de sair, tomando um grande fôlego do ar matinal antes de tomar o rumo do porto.
Quando cheguei lá, mesmo com o sol brilhante, o vento e o oceano mantinham o ar frio e eu vi Klara antes que ela me visse, parada ao lado de um barco grande até, conversando suavemente com o capitão, sorri de lado sentindo o nervosismo ser aplacado enquanto ia até ela, vendo o sorriso dela se abrir ao me ver, seus passos suaves até mim antes que eu abraçasse ela, enterrando o rosto em seu pescoço e a tirando de leve do chão.
-Você veio! Achei que iria me ignorar e ir dormir de novo. - Ela sussurrou rindo meio nervosamente e se afastou de mim, segurando minha mão e me guiando até o barco, fazendo as apresentações entre eu e o capitão. - Esse é meu acompanhante no passeio hoje. Então tem que ser bem especial certo?
Vi o homem sinalizar algumas coisas, e reconhecia aquilo como linguagem de sinais, e eu sorri de lado ao ver Klara fazer os movimentos que eram desconhecidos para mim antes de rir de leve e segurar minha mão me guiando barco a dentro. O sorriso não abandonava seu rosto quando ela se sentou ao meu lado, o capitão subindo até seu lugar, e eu senti a vibração suave do barco antes de começarmos a nos mover lentamente. A animação era evidente em Klara e eu tentava espelhar sua animação.
-Você vai se apaixonar tanto por isso que sempre vai querer repetir. É como descobrir um mundo inteiro novo. - Estranhei suas palavras até ver o meio do barco se abrir, revelando uma tela de led enorme, mostrando a água lá em baixo e eu precisei respirar fundo para continuar olhando para lá. - Eu amo viajar assim, ver o mundo marinho é sempre uma experiência calorosa. Um mundo inteiro dentro do nosso mundo.
Concordei mecanicamente, puxando o ar quando notei que o barco finalmente se encaminhava ao mar aberto, a água sob nós era um turbilhão negro, de onde algumas vezes subia algo brilhante em cores verdes, amarelas e azuis. Fechei os olhos respirando mais fundo, mas era difícil sentir o ar em meu pulmão, eu sentia meu coração acelerando e sorri tentando disfarçar isso ao ver Klara falar comigo, incapaz de ouvir suas palavras, mas tentava disfarçar isso.
Meu peito se apertou suavemente e eu tentei respirar, me desesperando suavemente ao sentir o ar faltando, e quando olhei para a mão que não segurava a de Klara, meus dedos tremiam, e eu mal tinha forças para apertar os dedos de Klara, encaixados em minha palma, senti uma gota de suor escorrer pelo meu pescoço, e fechei os olhos, me arrependendo disso naquele mesmo instante, as imagens daquela escuridão sob nos engolindo a nós três, o ar sendo expulso dos meus pulmões enquanto a pressão esmagava meu corpo, e eu senti minha pele esfriar enquanto aquelas cenas se repetiam em minha, mente, respirar era quase doloroso agora, minha cabeça tinha a sensação de leveza desconfortável.
Senti meu estomago se revirar, e arregalei os olhos de súbito ao sentir um calafrio percorrer meu corpo, pisquei os olhos desesperado em me livrar daquelas visões, tentando me convencer que aquela não era a realidade, mas as imagens se repetiam, Klara afundando nas águas, o desespero em seus olhos, o chão se estilhaçando sob mim e eu mergulhando na escuridão. Tentei engolir, mas minha garganta se fechava, e eu só notei que estava perdendo o controle ao olhar e notar que eu estava no chão, minhas mãos espalmadas na madeira do barco e senti mãos quentes em meu rosto, me forçando a olhar para cima. A preocupação em seus olhos nem sequer me atingia e eu não conseguia ouvir sua voz, pelo menos não até ela beijar meus lábios e eu pisquei os olhos, finalmente ouvindo sua voz, mesmo sentindo como se ela falasse de debaixo da água.
-Matteo, por favor, olha pra mim. - Ergui os olhos, falhando em manter minha vista em seus olhos, mas ela pareceu alivia ao notar que eu podia ouvir ela, seus dedões acariciando minhas bochechas. - Preciso que olhe pra mim. Quero que faça algo por mim, olhe ao seu redor, quero que ache algumas coias e me diga elas. Pode fazer isso?
Assenti um pouco e ela manteve meu rosto entre seus dedos, acariciando suavemente minha pele. Enquanto tentava respirar, mesmo sentindo meu peito doer a cada fôlego, mas ela ainda se esforçava em manter meus olhos nela.
-5 coisas que pode ver. - Seu pedido foi suave, sua voz mal passando de um sussurro.
-Você, o céu, as nuvens, o mar...- Respirei um pouco mais, ainda com a garganta doendo e pisquei os olhos, tentando pensar. - O barco.
-Isso, você está indo bem. 4 coisas que você pode tocar. - Ela tirou uma mecha do meu cabelo da frente do meu rosto, beijando minha testa.
-O chão, seu cabelo, a água, minha roupa. - Dessa vez as palavras fluíram mais facilmente, e eu sentia minhas mãos mais firmes, e ela sorriu ligeiramente.
-3 sons que pode ouvir Matteo. - Ela sorriu quando pediu isso e eu a deixei me puxar, deitando minha cabeça em seu ombro.
-Sua voz, o mar e as gaivotas. - Ela acariciou minha cabeça, afundando seus dedos nos meus fios.
-Agora é mais fácil, 2 coisas que pode cheirar. - Fechei os olhos delicadamente, mais relaxado a cada segundo.
-O sal do mar, e seu perfume. - Sentia meu coração finalmente bater mais leve, e eu correspondi seu abraço.
-A última coisa que preciso de você. 1 coisa que pode sentir o gosto. - Beijei seu pescoço, abrindo os olhos finalmente respirando devagar, e vendo ela acariciar meu rosto.
-Você. - Sussurrei baixinho, puxando seu rosto para perto, beijando seus lábios e ela envolveu seus braços ao redor do meu pescoço, seus dedos afundados no meu cabelo e quando ela se afastou, eu mantive meus olhos fechados suavemente, ao poucos ouvindo o mundo ao meu redor voltar, e senti seus dedos acariciando minhas bochechas. - Obrigado por isso Klara, desculpe arruinar seu passeio.
-O passeio era por você. Se você está aqui, não existe mais como isso ser arruinado. - Ela beijou minha testa com carinho, e acariciou meu rosto continuamente, sua voz mostrava uma leve preocupação ainda sobre mim. - Vamos voltar okay?
Ela se manteve do meu lado o caminho todo de volta e consegui aproveitar um pouco mais o vista do horizonte clareando ao nosso redor e assim que estamos en solo firme respiro profundamente reafirmando para mim mesmo que estou seguro agora

Sinto o toque de Klara em meu braço e a olho sorrindo levemente envergonhado por ter estragado algo que ela se esforçou para planejar e não sei o que dizer nesse momento que seja suficiente para que ela me perdoe por ter tido aquele ataque de pânico

- Matt...você está bem ? - Sua foz tinha um forte tom de preocupação e pude ver em seu olhar que ela ainda estava com receio de ter que me socorrer novamente

- Klara me desculpa pelo ataque de pânico, deixa eu te recompensar de alguma maneira...Que tal irmos tomar café naquela cafeteria que você ama ? Sei que não é o suficiente mas vou me esforçar para recompensar por tudo

Ela concorda com a cabeça passando os braços em volta do meu e inclinando a cabeça em minha direção e beijo sua testa com calma sentindo o seu perfume mais uma vez me certificando de que ela está do meu lado antes de irmos para o carro

Quando entro no carro minhas mãos ainda estão um pouco molhadas e as seco antes de pegar a chave e destrancar o carro entrando sendo seguida por ela e dou uma última olhada no mar antes de respirar fundo ligando o motor

Durante todo o caminho posso sentir seus olhos em mim como se quisessem saber o porque de eu ter surtado mesmo que seja uma simples explicação e tento encontrar dentro de mim alguma desculpa para dar a ela mas não posso fazer isso de novo, não posso ficar me escondendo atrás de desculpas toda vez que algo do meu passado me confrontar

No entanto não consigo encontrar palavras para contar a ela o que houve, toda vez que paro para lembrar daquele dia, eu ainda era muito pequeno mas consigo lembrar de cada detalhe que se torna cada vez mais vívido em meus sonhos

Meus malditos sonhos, noites e noites a fio sonhando com o navio afundando, eu perdendo meus pais pra escuridão do mar que não tinha fim e perdendo uma parte importante de mim

- Matt...eu sei que você não vai falar sobre o que aconteceu ou o porque aconteceu mas quero que saiba que estarei com você para o que precisar...E agora que sei do seu problema com navegar eu não vou mais planejar nada desse tipo

- Por muitos anos eu não consegui nem pensar na ideia de voltar a subir num navio por menor que fosse mas hoje quando você me ligou eu já sabia do que se tratava e mesmo assim eu fui... Eu consegui encarar o mar novamente mesmo que por poucos momentos e tudo isso porque você estava comigo então já me sinto grato só por ter me feito encarar meu medo...uma pequena parte dele ao menos

- Espero que eu consiga te ajudar mais ainda, que eu consiga entender você para não ter que ficar preocupada com sua saúde e que consiga se abrir comigo assim como estou tentando fazer com você - Estaciono o carro me virando para ela e acaricio sua bochecha ternamente sorrindo ao sentir sua mão junto a minha e um olhar carinhoso e acolhedor como o que minha mãe costumada fazer e respiro fundo me sentindo como aquela pequena criança outra vez

- Klara...eu sei que o momento não é o certo e isso possa estar soando muito impulsivo e eu te prometo que vou refazer isso de uma forma digna mais para frente mas agora eu quero e preciso saber...Você me ama a ponto de se casar comigo ? - Seu olhar surpreso me diz que a peguei de surpresa e a vejo recuar um pouco afastando seu toque de mim e engulo em seco quando ela começa a gaguejar e ja consigo prever a resposta

Rei da noiteWhere stories live. Discover now