Kiss

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Eu fiquei imersa, meu corpo e nem a minha mente correspondia aquilo. Eu simplesmente não conseguia afasta-ló, quanto mais beijávamos, minha boca pedia mais e agora estávamos intensos e incesantes.
Sua boca era macia e nosso beijo agora tinha gosto de floresta negra. Sua mãos estavam no meu rosto e as minhas seguravam seus braços, ele afastou um pouco o rosto do meu.

— Me perdoe. Eu te amo Madu.

E me beijou novamente.

Em meio segundo minha mente pareceu funcionar novamente e todo o meu corpo gritou para que eu me afastasse dele. Eu não podia fazer isso.
Tirei meu rosto do seu o fazendo abri os olhos e o fitei profundamente.

— Eu te perdoo Valentin...

Sua expressão radiou e ele fez menção de vi me beijar novamente e eu virei o rosto.

— Mas não te quero de volta.

Aquilo foi como uma facada no peito dele, rapidamente ele afastou o corpo do meu, seu semblante havia mudado.

— Maria, eu amo você. Não pode fazer isso comigo, você não sabe toda a verdade. Não sabe o que a Sofhia fez e

— Não importa o que a Sofhia ou outra pessoa tenha feito. — Meus olhos começaram a se encher de lágrimas. — Importava o que você fez. Não tem mais volta.

Ele me encarou entristecido e mais uma vez tentou se aproximar mas eu o rejeitei. Sai da cozinha depressa e fui para o quarto. Me afoguei em lágrimas.

[...]

Mais tarde liguei pra meu pai, estava morrendo de saudades dele e queria saber se já havia voltado de Flórida. Foi passar uns dias na casa do meu avô que estava muito doente, mas como dias trás ele me informou, agora está melhor.
Uma voz alertou sobre a taxa de cobrança e depois de 3 toques meu pai atendeu.
Quase não me deixou terminar o bom dia e já foi perguntando se eu estava bem.

Pais protetores...

Respondi que sim, estava tudo bem. Ele continuou com mais perguntas sobre minha saúde, perguntou se eu estava me alimentando direito, se eu realmente estava bem...

— Não está tomando muito refrigerante né? Você sabe que a família de sua mãe tem um grande índice diabético. Filha, eu

— Pai. Por favor. Sério, está tudo bem mesmo. Nada que você precisa se preocupar, okay? E o vovô?

Ele fez uma pausa antes de responder, com certeza estava averiguando mentalmente se estava tudo bem. Depois que meu pai perdeu a minha mãe, tudo que pudesse me tirar dele era motivo de o deixar atordoado, Sílas é muito protetor, do tipo que faz tabela de alimentação e pergunta todas as noites quantos copos de água eu bebi no dia. O medo dele era que eu contraísse a mesma doença que minha mãe, anemia.

— Ele já está bem melhor. Já estou organizando tudo pra voltar e cuidar de você.

Resolvo não contestar. Eu entendia suas razões de tantos cuidados, por mais que fosse sufocante. Pelo menos dessa vez ele não me ligou de 8 em 8 horas, até porque as taxas de cobranças que vinha eram altas e meu pai odiava gastar sem moderação.

— Queria falar com ele, pode ser? Sinto saudades.

Meu coração apertou. Eu sentia muita a falta do meu avô, desde que ele foi embora de São Paulo por conta da cidade ser muito poluída e ele ter problemas com asma, tenho dificuldade em lidar com a ausência dele em casa.
Rubem é um velho muito sábio, carismático e amoroso. Ele e meu pai cuidaram de mim desde meu nascimento, fizeram o papel de pai e mãe ao mesmo tempo e eu sou eternamente grata por isso.
Foi meu avô que me mostrou a beleza da leitura, das músicas e da vida.
Sempre me ensinou a viajar nos livros ao som dos Beatles que ele escutava toda manhã.

— Deixe-me falar com ela, seu idiota!

Ouvi ao fundo uma voz rouca que pedia pra falar comigo. Era ele.

— Maria? Maria? Como se usa isso Sílas? A menina não me escuta, oh céus. Me ajude aqui.

Tive consciência do meus desvaneio e logo voltei ao normal.

— Estou escutando vovó, como vai o senhor?

— HAHA! — Soltou uma curta e rouca gargalhada. — Olhe só pra isso, que extraordinário. Como vai mocinha?

Sorri.

— Estou muito bem e o senhor?

— Uns colesterois ali, outros aqui mas nada que me faça tão mal do que ficar longe de você. Ah minha neta... Sinto tanto a sua falta. Por que não vem me visitar? NÃO GOSTA MAIS DO SEU AVÓ?

Ele havia gritado a última frase, já estava ficando meio surdo. 83 anos.
Afastei o celular do ouvido rapidamente e quando me recompus voltei a falar.

— Claro que eu te amo vó, eu amo muito. Eu não pude ir porque... Sabe a Sofhia? Ela vai fazer 18 agora e eu tive que ficar.

Abrir mão de ir ver meu avô que não vejo a um ano, foi uma decisão muito difícil a ser tomada. Gostaria que a Sofhia fosse grata por tanto sacrifício que faço por ela, mas em troca ela me chame de egoísta. A vontade de chorar me veio de novo, eu devia ter ido ver meu velho Rubens.

— Mas vô, nas férias de natal eu estarei aí. Meu pai não te avisou?

— QUEEEM?

Repeti de novo mas agora um pouco mais alto.

— EM DEZEMBRO EU VOU ESTÁ AÍ, SÍLAS NÃO TE AVISOU?

— Ah, o Sílas é um idiota!

Ri. Ah como sinto falta dele.

— Mas porque não vem antes minha neta? Eu vou morrer e você não me veio aqui.

— Eu prometo que antes do senhor bater as botas, eu vou aí. Iremos fazer café juntos enquanto escutamos I Want to Hold your Hand ou quem sabe uma dos Queens? Te deixo escolher.

— HAHAHA! PODEMOS FAZER ISSO! Enquanto lemos as poesias ridículas que seu pai fazia quando tinha sua idade! HAHAHA querida! Quando você vem? Anh?

— No natal. Prometo. Agora é melhor desligar antes que a conta venha alta.

— Mas já? Desligar? Ah não, não. Você já vai? — Questiona com voz de decepção e tristeza. Vê-lo assim me doía na alma.

— Sim vô, mas eu ligo novamente. Agora passe pra o meu pai, tá bom? Eu te amo e amo muito.

Depois de choramingar e pedir que que continuassemos conversando sobre livros que ele havia colocado como seus favoritos, finalmente cedeu o celular pra o meu pai que se despediu, perguntou se eu estava bem ou precisava de dinheiro e logo depois desligou.

Vazio.

Fala Sério Vida!Where stories live. Discover now