Capítulo 19

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19 - Miguel

Clarice está visivelmente assustada, suas lágrimas se misturam com a poeira da estrada. Pego o lenço em meu bolso e limpo seu rosto, ela não protesta, é possível ver o medo em seus olhos.

José entrou na casa grande correndo, pedindo autorização para pegar o carro da fazenda. Eu estava sentado, almoçando meu macarrão com queijo. O questionei para que queria o carro e o motivo da sua cara assustada, então ele explicou que uma das mulheres que busca o filho no ponto contou que Gael não tinha vindo no ônibus, que para o desespero de Clarice alguém tinha pegado o menino na escola. Clarice saiu correndo sozinha pela estrada, dizendo que ia buscar o filho. Algumas das mães que estavam no local gritaram por ela, mas ela sequer olhou para trás.

A minha reação imediata foi pegar a chave da camionete e eu mesmo encontrá-la na estrada. Ela está precisando de mim, Gael está em algum lugar, não poderia deixá-la sozinha.

Quando a encontrei na estrada me dei conta de onde eu estava, que tinha ido atrás da pessoa que vinha ocupando meus pensamentos. Não me desesperei, estava no lugar que eu queria estar, ao lado da Clarice, ela e o filho significam muito para mim. Mesmo eu querendo negar, eles trouxeram um colorido a minha vida. Gael com sua amizade e Clarice com seus cuidados.

Vou buscar o menino e não volto para a fazenda sem ele.

Ajudo Clarice a subir na caminhonete, fecho a porta e dirijo o mais rápido possível para a cidade.

— Quem pegou o Gael? — questiono, já imaginado a sua resposta. Em uma das nossas conversas secretas no escritório, enquanto ajudava Gael em sua tarefa escolar, ele acabou falando da avó paterna, o que disse foi o suficiente para saber os motivos de Clarice querer o filho longe dela.

— A avó paterna. — Tenta limpar as lágrimas que caem em seu rosto. —Ela não pode tomar meu filho.

— Ela não vai — afirmo. — Ele é seu filho.

— Mesmo assim ela o quer. Não basta o inferno que fez na vida do filho, agora quer fazer o mesmo com o neto. Eu não vou permitir. É meu filho, meu.

— Seu filho — afirmo.

— Rosana nunca aprovou o meu casamento com Ryan, deixou o filho morrer com um tratamento precário, só porque era casado comigo. Agora colocou na cabeça que meu filho tem que morar com ela, fez de tudo para conseguir isso, me fez perder o emprego, subornou pessoas, tentou de toda forma comprar o Gael. Quando Erika me ofereceu o trabalho na fazenda eu já estava desesperada, aceitei sem pensar duas vezes, mesmo sabendo que você era uma pessoa difícil de conviver. Trabalhar na fazenda era minha última chance, não importava sua fama, seus gritos, a única coisa que sempre me importou era ter meu filho ao meu lado.

— No início só dificultei as coisas para o seu lado. — Olho para a estrada, ela cheia de problemas e eu agindo como um animal raivoso.

— A sua cara fechada era o que menos importava, me incomodava o fato de ser ignorada. Nesse tempo que estou aqui Rosana ligou duas vezes atrás do Gael, troquei o número e nunca mais tive notícias dela, evito ir à cidade para não a encontrar. A fazenda acabou sendo meu refúgio. Hoje ela reaparece e pega meu filho sem a minha autorização — Clarice desabafa, não a interrompo, deixo que ela fale tudo o que precisa. Eu já sabia parte da história, mas ouvir da sua boca tem um efeito diferente dentro de mim. — Ela não pode pegar meu filho de mim.

— Vamos buscá-lo, eu já disse, mas tenta ficar calma.

— É impossível ficar calma, Gael é a minha vida, não sei o que vai ser de mim sem ele. Você não pode imaginar a dor que estou sentindo.

REFÚGIO:  Você irá encontrar a paz e o amor no improvável.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora