Prólogo

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Vinte e cinco de agosto de 1997 (1:47 da noite). 

Palácio de Kensington

O pano em minha boca deixava-a tão seca como as arreias de um deserto, mas eu sabia que aquilo era preciso. Segurando a mão de Ània como se minha vida dependesse disso, eu me perguntava como uma vida que imaginei ser um sonho se transformou nisso.

"—Eu preciso que faça mais força alteza. " 

A voz de Henrique, meu médico pessoal, parecia tão distante quanto minha capacidade de manter as lagrimas em meus olhos. Mas fiz o que ele pediu, em consequência, um grito abafado pelo pano foi liberto do fundo de minha garganta. Não sei quanto tempo tinha se passado desde que a bolsa estourou, 8 horas talvez? Meu corpo estava tão esgotado, o suor descia pelas minhas costas como água em uma cachoeira, minha garganta doía e parecia estar rodeada de espinhos.

"—Só mais uma vez alteza, eu já consigo ver a cabeça da criança. "

Meu corpo fora tomado por uma dor excruciante desde o início do trabalho de parto, era como se eu estivesse sendo queimada viva. Juntei o resto das minhas energias, fiz o máximo de força que pude e teria gritado mais uma vez, mas minha voz tinha ido embora. Comecei a sentir meu corpo mole e os meus olhos ficarem pesados, senti uma mão passando pela minha testa e sussurrando palavras calmas que meu cérebro não se importou em decifrar. A última coisa que ouvi antes de apagar foi um choro estridente, então eu soube que tudo ficaria bem. Minha menina tinha nascido.


Como flores na primaveraWhere stories live. Discover now