Como flores na primavera

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4 de fevereiro de dois mil e dezenove

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4 de fevereiro de dois mil e dezenove.

New florest, Inglaterra.

Ter algo de valor imensurável nunca foi nada que me preocupou, com tanto que estivesse repleto de sentimentos dentro já superava meus desejos.

Penso que o apego ao minúsculo IPod que eu tinha era variado desta afirmativa. É um aparelho simples, apenas os botões de comando básico e sua cor rosada predominavam, mas tinham tantos sentimentos que era mais valioso que o próprio tesouro de Cleópatra escondido no escaldante deserto do Egito. Quase sempre me distraia com as diversas categorias de músicas e sempre chegava atrasada em todos os lugares, coisa considerada inadmissível por minha mãe já que, para ela, os ingleses sempre deveriam estar adiantados e não atrasados.

Cigarette day dreans tocava em meus ouvidos e nada no mundo poderia explicar a falta de alguém que eu nunca tive, vir a tona com essa música, já que relacionamentos estavam fora da minha lista de prioridades.

O livro sobre gastronomia árabe dos séculos passados estava em minha frente com meu caderno de anotações ao lado, afinal o que poderia ser mais interessante do que estudar o que um povo desértico comia décadas atrás? Exatamente, nada.

Não sei bem quando comecei a me interessar mais pela biblioteca pública do que por saídas ao fliperama com o pessoal da escola, mas com toda certeza meu cartão da biblioteca foi feito com meus 9 anos, e uma foto minha nele poderia comprovar essa afirmação facilmente.

Meus dedos eram rápidos em anotar como os árabes faziam para trocar tecidos e especiarias por dinheiro ou comidas e objetos exóticos, quando uma mão tocou em meu ombro. O susto pelo simples toque foi tanto que, o que era para ser um 'E' se transformou em um risco enorme pelo caderno de anotações que eu adorava tanto. Tirando um dos fones, olhei para trás e tive o deslumbre do que poderia ser o homem mais bonito que eu já tinha visto.

"—Sinto muito por assusta-la." Uma pausa foi feita em suas palavras e meus olhos se desviaram do maravilhoso castanho levemente dourado que cobria sua íris e foram diretamente para seu lábio que estava sendo molhado por sua língua.

Um sorriso nada puro brotou em seu rosto quando meu desvio de atenção foi percebido e minhas bochechas poderiam ser comparadas a vermelhidão vibrante de marte.

"— Uma de minhas maiores paixões sempre foi a forma como diferentes povos lidavam com as diferentes disponibilidades de alimentos em determinada região. " Sua fala foi acompanhada de passos lentos até seu corpo estar parado completamente em minha frente do outro lado da mesa de madeira polida. "— Eu amaria saber como é possível que até os povos que abitam regiões mais precárias, como o deserto Saara e as partes mais remotas da Rússia, sobreviverem apenas com seus instintos em relação à comida." Um sorriso pequeno se formou em seu rosto, como se ele esperasse por algo muito especial. Minha expressão deve ter demonstrado minha surpresa e confusão.

"— Dominic, Dominic Winchester." Sua mão se estendeu para que fosse apertada e assim fiz. Ela era fria, mas a sensação que tive de conforto e desejo foi tão inesperada que afastei de modo brusco minha mão. Ao olha-lo observei sua expressão séria, mas os olhos me demonstravam um brilho de surpresa que desapareceu tão rápido quanto apareceu e quase tive certeza que meu cérebro estava me castigando pela falta de noites bem dormidas.

"— Bem..." Seus olhos estavam com uma intensidade tão firme me olhando que, para continuar, desviei o olhar para minhas mãos que brincava com a caneta cor de sangue. "— O instinto de sobrevivência humano sempre prevalece a qualquer outro. Civilizações muito antigas como a egípcia desenvolveram técnicas que matavam bactérias existentes no rio Nilo para preparar alimentos, já que lá eles também jogavam seus dejetos. Culinárias como as do Japão exploram muito a vida marinha por ela existir em excesso nessa região e ser de fácil acesso até para as pessoas mais simples. Regiões como o deserto do Saara e os locais mais afastadas da Sibéria, apesar de serem muito pobres em plantações e gado, são ricas em carnes exóticas e o aproveitamento extremo de suas caças, até mesmo dos seres mais venenosos." Mesmo podendo sentir seu olhar pesado sobre mim, minhas palavras não se embaralharam por algum milagre inexplicável. Quando, ainda olhando para minhas mãos, senti o silêncio excessivo do homem a minha frente, tomei uma dose de coragem e olhei para cima. Seus olhos, que tinham um marrom mesclado com o dourado mais bonito que já vi em minha vida, estavam mais pesados do que antes e estavam profundos em um sentimento que eu não entendi muito bem.

"— Então, em sua teoria, os humanos sobrevivem em lugares inóspitos pelo simples instinto de sobrevivência." Sua voz era rouca e macia e quase cedi ao desejo de fechar os olhos e me inclinar para frente, apenas para apreciar melhor. Sua postura ereta e suas mãos escondidas de modo diplomático atrás das costas me fez lembrar o que li uma vez em um livro sobre monarquia francesa. "— Sua teoria é realmente fascinante. Peço imensas desculpas pelo incomodo inesperado, mas precisava de algo mais profundo para um estudo que estou fazendo e a bibliotecária me recomendou imediatamente falar com a senhora." Apesar da voz calma e rouca, seus olhos detinham uma intensidade que nunca tinha visto.

"— N-não se preocupe, não foi incomodo algum." Tive vontade de brigar comigo mesma por minha voz ter falhado tanto e minhas bochechas estarem tão quentes.
A figura alta e masculina se curvou levemente, como se saldasse alguém da realeza, assim que sua postura ficou totalmente ereta, seus olhos encontraram os meus e tive a impressão de ser a única pessoa do ambiente.

"— Adeus Királyi magasság." A saudação em outra língua me deixou confusa, mas quando a figura alta passou ao meu lado para ir embora, seu perfume me fez ficar tão desnorteada que quase esqueci até mesmo meu nome.








Obrigada por lerem mais um capitulo de Como flores na primavera. 990 palavras como desculpa pela demora. Amo vocês. XOXO

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⏰ Last updated: Apr 21, 2020 ⏰

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