Capítulo 4

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O Asíate é um restaurante localizado no topo do Hotel Mandarin Oriental, um dos hotéis mais caros e sofisticados de Nova York. Nem em meus sonhos mais delirantes pensei em colocar os meus pezinhos neste local. Mas aqui estou eu, em uma das melhores mesas, com vista panorâmica de toda a cidade, como se estivesse bem acima do Central Park. Cada célula do meu corpo tenta não surtar. Enquanto isso, a minha frente, Ethan está entretido em alguma coisa no celular. Durante todo o trajeto até aqui, caminhamos em silêncio, completamente desconfortáveis, ele, inclusive, dava mais atenção ao aparelho que não parava de apitar por um segundo do a mim.
Um dos garçons se aproxima e deve ser a terceira ou quarta vez que pergunta se já escolhemos o pedido, mas Ethan está concentrado demais no celular para sequer olhar o cardápio. Eu, ao contrário, já o li de frente para trás e trás para frente, varias vezes e continuo não fazendo ideia do que significa casa prato.
-Lisa, já escolheu?- ele pergunta sem desviar os olhos da tela do Iphone.
Fecho o cardápio e dou o meu melhor sorriso.
-O mesmo que o seu, querido. - Isso é o bastante para chamar a atenção dele. Suas sobrancelhas se erguem e um sorriso desafiante se estende por seus lábios.
- Ok, o mesmo de sempre, então, Alfred, por favor. - O garçom se retira com um aceno.
-Você vem sempre aqui? - pergunto tentando quebrar o gelo.
-Eu realmente não esperava uma cantada tão ruim de você, querida. - Pelo amor de Deus? Ele acha que eu estou o que, flertando? Dando em cima de um cara patético como ele? A propósito, ele me chamou de querida?
Vejo que minha indignação causa graça em Ethan e me contenho. Ele é só mais um cara babaca de Nova York! Vou apenas comer o que quer que seja "o de sempre" de Ethan e dar o fora daqui.
Novamente o celular dele vibra. Sem pestanejar, ele volta a se dedicar a responder as mensagens.
Não sei se é o jeito de Ethan, tão frio e esnobe, ou o fato de me sentir completamente deslocada em um lugar assim, sem nem ter alguém com quem conversar ou simplesmente porque me sinto irritada comigo mesma por ter aceitado esse almoço, mas acabo tomando o celular da mão dele que me olha bravo e confuso.
-Vai ser assim? - Aponto o aparelho na direção dele. - Vai ficar o tempo todo olhando esse celular ao invés de conversarmos?
Ele se estica todo para tirar o eletrônico da minha mão, sem fazer muito alarde, mas o levanto mais, acima do seu alcance. Várias pessoas que estão no restaurante nos olham, alarmadas. Ethan percebe e volta a se recompor na cadeira. Passa a mão pelo cabelo engomadinho várias vezes e bufa antes de falar:
- Eu falei em almoçar, não conversar, inclusive fui muito claro. Agora você pode, por favor, devolver o celular?
Ele estende a mão em minha direção como se eu fosse devolver o Iphone como uma boa menina. Eu encaro seus olhos, em desafio. Ele sabe que não vou fazer o que ele manda, sem antes receber algo em troca e sinceramente, agora, eu só quero uma resposta.
- Qual é a sua, hein? - Faço a pergunta e seus olhos azuis se fincam nos meus. - Se estava tão ocupado porque aceitou a proposta da sua mãe?
Vejo a surpresa em seu rosto e aproveito para continuar:
-Eu não sou idiota, tá legal? Eu sei que foi a Eve que pediu pra você me trazer aqui, mas era só dizer que não, sabe? Não precisava ser escroto.
Eu coloco o celular em cima da mesa e desvio o olhar. Escuto o aparelho vibrar e, apesar de Ethan o pegar, sinto ainda que seus olhos não se desgrudam de mim.
- Sabe... - A voz dele sai calma, mas cortante. - Acho uma indelicadeza você reclamar. Quando uma garota assim teria a chance de almoçar em um restaurante como o Asíate?
É o bastante.
Existe um limite para todo o tipo de humilhação e eu já aguentei demais todas as vindas de Ethan Lloroy. Eu me levanto apressada, derrubando a cadeira.
-Você é um babaca, Ethan!  -  Minha raiva é tanta que esmurro a mesa. Não me importo se todo o restaurante está olhando para nós agora ou se lágrimas caem dos meus olhos, só quero fazer com que Ethan engula suas palavras. - Você nem me conhece, cara!
- Exatamente! - Ele também eleva a voz. - Eu não faço ideia de quem você é e de repente você aparece no meu apartamento, com a minha mãe toda machucada e...
- O que você está insinuando?
- Ah, por favor, Elisa, eu também não sou burro!! Sabe de quantos tipos de golpe eu já me livrei? Milhares! - O que esse cara tá dizendo? Que eu queria tirar proveito da situação? Que eu ia assaltar o apartamento dele? Qual é!!!! Ele não seria tão otário! - Uma menininha pobre que passa o tempo vagando pelo Central Park vê uma senhora rica precisando de ajuda e descobre aí a oportunidade perfeita para conseguir grana fácil...
Meus olhos estão ardendo em fúria e sinto meu corpo tremer.
- Quem você pensa que é para julgar as pessoas? Só porque não tenho roupas caras ou não tenho toda a grana do mundo não quer dizer que não tenho caráter! Você não sabe nada sobre mim! - Pego meu casaco que havia deixado apoiado na cadeira ao lado e saio a passos duros. Ethan também se levanta, mas não faz nada além de me seguir com os olhos. Quando estou quase no meio do salão do restaurante, com todos os olhos virados para mim, digo. - Mas eu aprendi muito sobre você, Ethan. E não sei como uma senhora tão bondosa e educada como a Eve deu a luz a um ser tão esnobe e babaca quanto você.
Antes que eu caia em um choro compulsivo, saio dali.

Little Christmas TreeWhere stories live. Discover now