1. Regras

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     Ele não tinha certeza do que estava fazendo, mas alguma coisa na frase que o homem havia dito, sobre o fim da linha, algo do gênero, mexia com sua mente e trazia um aperto em seu peito. Não sabia que era capaz de chorar até sua visão embaçar com as lágrimas sem razão aparente. Na verdade, ele sentia que sabia o motivo do choro repentino, tinha a ver com aquela dor horrível no coração e na cabeça. Seu cérebro buscava respostas, porém nada além de borrões surgia.

     Arrastar o corpo do loiro para o banco de trás da van roubada foi mais fácil do que o Soldado esperava, ele era mais leve do que parecia. Não sabia muito bem para onde estava dirigindo, mas seu corpo estava no automático naquele momento e, por mais que não soubesse se podia confiar em si mesmo, ele resolvera escutar seu instinto. Tinha medo de estar arrastando sua missão para mais perigo, porém era uma força interna que dizia que ele deveria proteger aquele homem, logo imaginava que seu corpo estava de acordo com aquela ideia.

     A viagem foi longa, felizmente o loiro continuava desmaiado no banco de trás, acordando apenas por alguns segundos e ficando inconsciente novamente assim que se sentava no banco. De tempos em tempos o Soldado parecia voltar para a realidade (ou mergulhar em sua cabeça, perdendo o controle novamente) e parava o carro no meio da estrada, esquecendo-se de qual era seu objetivo e como completa-lo, pois não estava seguindo ordens.

     Uma vez que descobrira que era capaz de chorar, fazia-o a cada parada. Era desesperador não saber o que acontecia com sua mente, era frustrante e o deixava com vontade de socar alguma coisa. Em vez disso, encolhia-se do lado de fora do carro e chorava encostado contra a porta. Imagens que ele não entendia, mas reconhecia, não paravam de perturba-lo durante o caminho.

     Horas se passaram até ele finalmente chegar em o que parecia uma base abandonada. Entrou no automático mais uma vez, levando o homem pelos corredores cinzentos até um quarto empoeirado.

     Sem saber o que fazer em seguida, o Soldado sentou-se no chão, em frente ao colchão fino onde havia deitado o loiro. Ele ficou ali por um dia inteiro, observando o outro e esperando novas ordens, fosse de alguém de fora ou do que parecia viver dentro de sua cabeça. 

     Pela primeira vez, começara a questionar sua vida. Ele não sabia mais quem ou o que era, apenas que havia matado muita gente. Lembrava da dor e do peso de seus atos em seus ombros, lembrava de garotinhas dançando balé e sangue, muito sangue.

     Lembrava de cabelos loiros e olhos azuis, idênticos aos que disseram "você é meu amigo" e o chamaram por um nome estranho. Mas o resto não encaixava, seus ombros não eram mais os mesmos, seu rosto e seu queixo não combinavam com o que tinha em mente, isso tornava tudo mais difícil para o Soldado.

     Porém, ele se lembrava de um nome.

     — Steve. – murmurou após vários minutos em silêncio.

     O loiro havia acordado e não dissera nada. Parecia um pouco assustado, mas menos do que deveria. Ele não movera um músculo desde que se sentara no colchão e percebera a presença do Soldado o observando contra a parede.

     — Você sabe quem eu sou? – ele indagou, parecendo temer a resposta.

     — Não sei. – o Soldado respondeu.

     Steve, se é que esse era  seu nome, suspirou.

     — Você era menor. – era para ser uma pergunta, mas não conseguiu processar seu pensamento antes que saísse pela boca.

     Steve deu um sorrisinho, desviando seu olhar para o chão. 

     — Sim, eu era. 

     O Soldado assentiu e continuou analisando Steve. Ele não demonstrava medo, o que era um pouco preocupante, e não parecia se importar em saber onde estava, mas o Soldado resolveu dizer do mesmo jeito.

     — Você pode ir se quiser. Eu não estou te prendendo aqui. Todas as portas podem ser destrancadas por dentro. 

     — Então por que me trouxe aqui? Onde estamos? – o loiro questionou.

     O Soldado não respondeu. Não sabia o que dizer. Por que levara Steve até uma base abandonada? Por que seu subconsciente parecia querer proteger aquele homem a todo custo? Onde estavam?

     Eram muitas perguntas e nada ali poderia respondê-las, então o Soldado se levantou e deixou o quarto, sem sequer encostar na porta. Um plano se formava em sua mente, mas parecia ir contra todas as regras que por algum motivo havia de seguir.

     Não conseguia se obrigar a se importar, Steve estava vivo e a salvo, e essa era uma regra que não podia ter sido quebrada de modo algum e ele havia quebrado. Não havia mais nada que viesse em primeiro em sua mente naquele momento. Então o que o impediria de jogar todas as outras para o alto e fazer suas próprias?

Heavy || StuckyWhere stories live. Discover now