4. Perspectiva

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     Eles desenvolveram uma rotina. Bucky saía cedo e Steve passava o dia andando pela casa e desenhando esperando ele voltar. Parecia que toda noite davam dois passos para frente e Bucky (ou melhor, James) dava um passo para trás quando voltava de suas "missões".

     Por outro lado, após anunciar que sua missão havia sido completada com sucesso e se retirar para seu quarto, o moreno sempre voltava para fazer alguma pergunta sobre alguma memória que reaparecia durante seu dia. Inclusive coisas estranhas, James não tinha medo de perguntar, insistia que se lembrava de serem um casal. Isso sempre fazia Steve rir amargamente, como Steve queria que aquilo fosse verdade.

     Mas seu foco agora era ajudar seu amigo a se recuperar, já que ele se recusava a voltar e buscar quem quer que fosse para ajudar, como Sam. Sam saberia como lidar com James. Tudo que queria para ele naquele momento era cuidado, para que aquele olhar, ora fantasmagórico, ora perdido, desaparecesse por bem.

     Eles tiveram aquela conversa algumas vezes. Sobre voltar e se entregar. Mas James ficava tenso e dizia que precisava completar sua missão. Que missão, era o que Steve queria saber, porém nunca obtia resposta.

     — Acha que consegue hoje? Está ficando fraco. – Steve estendeu um prato de frutas para James.

     O moreno encarou o prato como um desafio. Pois realmente era. Toda vez que comia, seu estômago devolvia em menos de dez minutos. Estava ficando melhor, Steve sentia que estava ensinando James a comer novamente, como se ele fosse uma criança. Aos poucos, acreditava que o corpo dele se lembraria e voltaria a processar a comida normalmente.

     Naquele final de tarde, Steve segurou o prato enquanto o outro pegava o garfo com cautela, respirando fundo antes de coloca-lo na boca. Ele continuou mastigando, até limpar o prato que o loiro ainda tinha em mãos. Vários minutos se passaram, James e Steve estavam tensos, esperando o corpo do soldado reagir.

     — Você quer água? – ofereceu.

     Água e outros líquidos leves já estavam descendo tranquilamente. Steve estava aliviado por essas coisas estarem melhorando e dando certo, pois a última coisa que queria era que James ficasse doente. 

     — Eu quero conversar. – o outro murmurou, surpreendendo Steve.

     Ele costumava soltar ou pedir informações, mas nunca mantinham uma conversa de verdade. 

     — Alguma coisa te incomodando? – indagou.

     — Você diz... – James começou. – Você diz que nós nunca estivemos juntos.

     — Porque não estavamos. – Steve tentou reprimir um suspiro frustrado.

     — Mas eu me lembro. – olhou para o loiro, a voz o fazendo parecer menor.

     Steve detestava quando James fazia aquilo, porque seus sentimentos, suas dores, ficavam muito explícitas em seus olhos. Ele não gostava de ver Bucky, sentir Bucky, ouvir Bucky e a pessoa em sua frente não ser Bucky. Ou pelo menos não se sentir como Bucky.

     — Talvez tenham te dito isso. Colocado imagens na sua cabeça. Mas nunca aconteceu, James.

     — Mas... – o soldado se interrompeu. – Você está desconfortável.

     A pior parte de estar preso com James era como ele simplesmente lia Steve como um livro aberto e não refreava nenhum pensamento e comentário.

     — Eu não... – tentou. – Não pelos motivos que você pensa.

     — Você queria ter estado comigo. – James concluiu. – Com ele.

     Steve não conseguiu responder, apenas desviou o olhar para o chão, os dedos entrelaçados em seu colo. Não queria falar sobre aquilo. Não quando ainda não era Bucky ao seu lado.

     — Eu vou... deitar. – anunciou se levantando.

     Precisava de um tempo sozinho.

     Sentia-se culpado por deixar James assim, mas não podia mais ficar ali. 

     Seguiu para seu quarto, deitando-se em seu colchão fino e desagradável. 

     Não podia evitar pensar em como estava o mundo do lado de fora. Se estavam procurando por eles. Se estavam vindo atrás deles já. Se estavam perto. Sentia um pouco de falta do conforto de seu apartamento e queria que seus colegas soubessem que estava bem, porém ao mesmo tempo o único lugar onde realmente desejava estar era exatamente onde estava.

     E por mais difícil que fosse, pretendia sair dali com perspectiva. E com James em seu melhor estado possível, pronto para voltar para o mundo do lado de fora e receber a ajuda que precisava.

~

     Acordou várias horas depois, com uma sensação esquisita. Saiu de seu quarto em silêncio, em alerta para o que quer que fosse. Seguiu pelos corredores escuros da base, até atravessar o local por completo, indo parar perto do quarto de James.

     Parou em frente à porta do outro homem, encostando o ouvido na porta. Podia ouvir uma respiração descompassada vindo de dentro. 

     — James?

     Não esperou resposta, abriu a porta devagar e se deixou entrar.

     O moreno estava encostado contra a parede, os braços em torno dos joelhos e o rosto abaixado entre os mesmos.

     Caminhou até ele com calma, tentando demonstrar que estava ali para ajudar e não para machuca-lo. Só Deus sabia o que se passava pela cabeça de James naquele momento. Agachou-se ao seu lado, apoiando uma das mãos em suas costas cautelosamente.

     — Está tudo bem. – sussurrou, envolvendo James em seus braços, agora que via que não seria rejeitado.

     James se soltou em Steve, como duas muralhas caindo uma contra a outra, formando um ponto de equilíbrio que os impedia de cair.

     Ele pesava mais do que aparentava. Era pesado para Steve, um super soldado, como se o peso de sua alma afetasse seu físico.

     — Está tudo bem...

Heavy || StuckyTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang