Inferno Pessoal

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A morte sempre foi um belo enigma para muitas civilizações existentes no mundo, a beleza do desconhecido sempre chamou a atenção da curiosa humanidade, algumas destas populações até se arriscaram em dizer que a morte não era o fim, afirmavam até ser um novo começo, uns diziam que se você fosse um bom homem iria para um lugar de paz e sua alma descansaria tranquila, mas caso você fosse o homem mal da história, cairia ao inferno e pagaria por seus pecados.
Quando eu e meu irmão, Niklaus tomamos a decisão de, juntos nos sacrificamos por nossa família, de livrar todos do tormento chamado Hollow, assumimos o destino incerto que nos aguardava naquela noite estrelada, quando a estaca feita do veneno de um familiar atravessou nossos velhos corações, a escuridão tomou conta de nossa mente, eu esperava a tão sonhada paz, mas ela nunca veio...
Nós definitivamente não estávamos no céu, após a escuridão proporcionada, acordamos em um ambiente estranho, o frio do local rasgava nossas peles e atingia nossos ossos como navalhas, o escuro confundia todos os meus sentidos, e a confusão mental piorava a cada dia. Eu não tinha certeza de quanto tempo estavamos ali, as correntes prendiam meus pulsos, não havia fome, não havia sede, me sentia vazio. Os minutos transformados em horas, os burburios em meus ouvidos e o som do choro distante de meu irmão, Niklaus, tudo me atordoava. --Ouço o barulho de um cadiado sendo aberto e logo após o estalo, a porta vermelha a minha frente, da passagem a uma jovem. A pouca luz fazia contraste com sua bela pele negra e seus cabelos ondulados, repletos de mexas rosas combinavam com seu ar jovial.--Em uma outra época eu poderia ter achado a moça atraente, mas seus olhos completamente negros eram assustadores de mais, os dentes perfeitamente afiados davam um ar macabro a seu rosto; Mary Margaret era um verdadeiro pesadelo.
Depois de muita discussão mental eu cheguei a conclusão de que aquele, definitivamente era o inferno, não era o inferno que Arcadius criou, que eu tanto ouvi falar, era o inferno onde tanto imortais quanto humanos sofriam.--Em passos lentos ela se ajoelha a minha frente, erguendo meu queixo para que à olhasse nos olhos. Um tremor correu minha espinha quando nossos olhos se encontraram e tive que usar todas as minhas forças para manter meu olhar firme ao seu.
-Seu irmão gritou como uma criança hoje!-Depois de ouvir aquilo, meu coração passou a bater mais rapidamente, fechei os olhos com força.--Hayley, Hope, Rebekah, Freya, Kol e até mesmo Davina, seus rostos invadiram minha mente, era por eles que eu estava aqui. O simples imaginar de Klaus sofrendo estava me destruindo.--Tento puxar o máximo de ar que consigo juntar em meus pulmões, eles eram minha força,minha família era minha força, preciso suportar por eles.
-Até quando?-Pergunto suspirando lentamente. Ela assimilou minha pergunta por alguns instantes antes de um sorriso macabro tomar conta de seu rosto.
-Você terá três séculos de dor e sofrimento, pagará por seus erros, e então, irá ver sua amada Hayley novamente...-Ela sussurrou próximo de meus ouvidos.
-V-você é o diabo?-Eu sussurro enquanto minha voz falha. Ela me encarava e depois de dar uma longa gargalhada ela me olha, séria.
-Querido...Você nunca vai querer conhecer o diabo!-Ela disse ainda com um sorriso ligeiramente assustador, em seu rosto.-E antes que eu me esqueça...-Sua voz sínica preenchia o local de certa forma assustadora. -Eu conheci sua irmã hoje...Rebekah é mesmo muito bonita!-Sua voz era mansa, mas sua risada era cruel.--Eu queria entender como ela conheceu minha irmã, se ela estava bem, se tinha tomado a cura... Mas tinha certeza que a demoníaca Molly, jamais me diria.
Sem forças e completamente cansado, olho para o chão frio de pedra debaixo de mim, me entregando novamente a um sono repleto de pesadelos terríveis.
Acordo após algumas horas e percebo que estou novamente sozinho, apenas com meus pensamentos sombrios e minha culpa de mil anos para compensar, naquela sala escura. Ouço um breve rugido e percebo a luz entrando lentamente na sala, a deixando parcialmente clara. Era estranho, em todo aquele tempo que havia passado ali, nunca havia visto uma luz tão pura entrando sozinha por aquela enorme porta de metal. Junto minhas forças por alguns segundos e finalmente consigo me levantar, depois de muito esforço e então, me desloco lentamente até o lado de fora da sala, ainda muito duvidoso, quando uma luz de extrema força atinge meus olhos, juntamente de um som de um trompete sendo tocado excelentemente e num impulso momentâneo, fecho meus olhos fortemente. A intensidade da luz começa a reduzir sobre meus olhos, mas ainda se demonstra muito clara e com muito esforço, abro os olhos calmamente, eles ainda demoram alguns minutos para se acostumarem com a claridade, mas quando enfim minha visão volta ao normal, posso ver uma silhueta tomando forma a minha frente, era Hope, ela exibia um lindo sorriso enquanto corria para me abraçar com lágrimas nos olhos.
-Tio Elijah!Eu consegui...Eu trouxe você de volta!-Ela sussurra em meio às lágrimas. Eu me sentia muito confuso, mas ao olhar ao redor, a confusão passou a diminuir, quando notei que Freya e Davina estavam logo atrás de Hope, me encarando com sorrisos orgulhosos e olhos cheios de saudades. "Elas realmente me trouxeram de volta... Eu sai mesmo do inferno...?" é o primeiro pensamento que me ocorre no momento.
-É...parece que a morte lhe caiu bem, irmão!-A voz masculina um tanto rouca invadiu o cômodo, era Kol. Sigo sua voz, não só com os ouvidos, mas com os olhos também e quando finalmente o encontro,posso notar que ele apresentava um sorriso genuíno em sua face, como se tivesse ganho o melhor presente de todos os tempos. Sem muita demora, eu me levanto e caminho até ele de forma rápida e o abraço fortemente.
-Poxa...Não acredito que enganamos a morte mais uma vez...O diabo deve estar muito bravo com a gente!-Ouço uma voz feminina, um tanto suave se aproximar de meus ouvidos lentamente, era Rebekah, como sempre, radiante e bem vestida.
-Oh Deus...Rebekah!-Digo ao puxa-la para um abraço caloroso.
Meu corpo parecia em total êxtase. Enquanto abraço Rebekah, eu me lembro de algo extremamente importante.
-Niklaus...Onde está niklaus?-Pergunto sério, olhando a todos ao meu redor. Freya abre um lindo sorriso quase que de imediato.
-Se acalme irmão, ele foi buscar algumas ervas para mim...-Ela diz calma com um sorriso caloroso sendo expressado em seu belo rosto.
Suspiro, um tanto aliviado ao ouvir o que ela diz, mas então os questionamentos voltam a assombrar minha mente. Eu não tinha palavras para descrever tudo, era realmente muito intrigante tudo o que estava acontecendo. "Como tudo aconteceu?Eu não deveria estar questionando isso, deveria apenas estar agradecendo, afinal... À alguns segundos atrás, eu estava no inferno e agora, finalmente estou livre com minha família."
Respiro fundo e sigo todos para fora do cômodo, descemos as longas escadarias em conjunto, até finalmente chegarmos ao nosso destino. Na sala, uma linda mesa de jantar está posta, era idêntica a nossa mesa no jantar de natal. Eu me sento no meu lugar de costume, sem muito problema.
-Elijah...?!-Meu coração dispara ao ouvir a doce voz, um tanto firme, murmurar meu nome.
-Hayley?!-Digo me levantando rapidamente e logo me virando para vê-la. Ela estava linda, como sempre e as lágrimas que escorriam pelo seu rosto macio, nunca negariam isso. Eu nem preciso me mover mais um passo, ela corre até mim e me abraça com determinação sussurrando algo difícil de ouvir.
-Eu senti tanto a sua falta, Elijah...
-Eu também senti a sua falta, meu amor...Não sabe o quanto.-Digo enquanto tento acalmar meu coração. Após alguns segundos abraçados posso ouvir uma voz um tanto distante e desfuncional "Tudo bem...Acho que todos já entenderam o quanto vocês se amam!" A voz dizia, de certa forma sarcástica o que era característica própria de um de meus irmãos.
-Niklaus...-Sussurro ao soltar Hayley, indo abraçar meu irmão rapidamente. -Você está bem sobre o que aconteceu lá?-Sussurro em meio ao abraço.
-Não precisamos falar disso agora, irmão...Afinal, estamos felizes, não?Você está aqui agora!-Ele diz, demonstrando um sorriso torto.
Hayley me puxa para perto de si, mais uma vez e não posso e nem quero larga-la novamente.
-Tudo bem...Esqueçam o jantar!Vamos fazer algo mais legal!-Rebekah saltou quase que imediatamente, demonstrando toda sua alegria e positividade. -Venham!-Ela completou nem tão gentilmente "Oh...Ordens?!Típico da Rebekah controladora Mikaelson que eu conheço." Sorrio com o meu rápido pensamento e logo a sigo junto dos outros, para outra sala, onde podia-se ver claramente, uma fogueira improvisada bem ao centro.
-Oh não...Rebekah eu não vou fazer essa coisa estúpida outra vez!-Exclamou Niklaus com sua arrogância de sempre, revirando os olhos.
-A qual é, Nik...?!É a tradição!-Insistiu Rebekah, com seu olhar intocável. Em questão de segundos, Rebekah lançou um olhar consumidor sobre Niklaus e no exato momento, ele já sabia que não poderia mais negar.-Tudo bem...-Arfou ele enquanto Rebekah exibia um de seus melhores sorrisos, o de vitória.
-Vamos lá, Elijah...Tome a frente!-Rebekah disse calmamente, enquanto me entregava um pequeno bloco de notas, juntamente de uma caneta e eu sabia que o melhor a se fazer, era nunca discordar dela.
-Tudo bem...Como quiser, irmã!-Digo sorrindo suavemente, enquanto pegava o bloco de notas e caneta de suas mãos. Era estranho como eu havia sentido falta até mesmo dessa tradição boba, que eu nunca, em mil anos, havia dado valor. Escrevo algumas poucas palavras no papel amarelado "Apenas peço que nenhum de meus familiares nunca tenham que ir ao inferno e que eles possam finalmente conseguir paz e felicidade." Arranco a pequena folha do bloco e à dobro no meio, logo, a jogando na fogueira, a encarando se transformar em cinzas de forma rápida,o que me lembra da noite em que eu e Niklaus fomos transformados em cinzas como a daquele papel envelhecido.
Depois de todos os desejos virarem cinzas em meio às chamas, Davina ousou colocar um Jazz suave, que inundou a sala trazendo ainda mais harmonia.
-Venha...Vamos dançar!-Disse Hayley ao me puxar para junto de si novamente. A controlo, ditando seus passos lentos. Olho ao redor e posso notar que meus familiares formaram pares e também estavam a dançar. A forma que Rebekah conduzia Klaus, demonstrava o quão controladora ela era, porém sempre, muito elegante. O jeito como Kol girava Davina pela sala, mostrava o quanto se amavam e haviam evoluído no tempo enquanto estive fora. A forma como Freya e Hope dançavam desajeitadamente, rindo dos passos estranhos uma da outra, mostrava como elas estavam próximas e o quanto confiavam uma na outra.
-Eu disse que esperava por essa última dança...Achava que nunca ia acontecer, já que você ajudou a me matar!-Hayley diz de forma tão calma, próximo ao meu ouvido,enquando a mesma me encarava, havia um sorriso estranhamente assustador, desenhado em seus lábios carnudos.
-Desculpe...O que disse?-Digo rapidamente, apenas esperando uma resposta curta.
-Você ouviu bem, Elijah...Eu doei meu coração a você e acreditei na promessa que você me fez anos atrás, a promessa de me proteger para sempre, a promessa que você ignorou e quebrou no momento em que entrou naquela casa, viu aquela vadia me machucar, olhou em meus olhos, me ouviu sussurrar seu nome pela última vez, em um pedido desesperado de ajuda e então...Você enfiou uma estaca nas costas de Klaus, o impedindo de me salvar...Eu nunca deveria ter confiado em você, eu nunca deveria ter amado você...Você é um monstro, não é digno de amor!-Ela diz inicialmente, cheia de raiva e mágoa, mas ela logo começa a rir. Eu estava pasmo, as batidas do meu coração estavam aceleradas e eu sentia o desespero correr por minha veias. Estava em pleno pânico, quando meus olhos passaram ao meu redor e pude ver todos me encararem de uma forma um tanto estranha.
-Sabe, Elijah...-Klaus começa e desde já, começo a soar frio na espera das palavras que viriam a seguir.-Você é o pior irmão do mundo todo. Em mil anos, continua falhando miseravelmente com sua família e ainda tenta manter seu papel ridículo de nobreza eterna...-Suas palavras cortam o ar antes dele cravar uma estaca no coração de Rebekah, meus olhos lacrimejam e ouço as risadas dos de mais presentes.-Uma grande e verdadeira piada!
Ouço um barulho em meio às risadas um tanto altas e o sigo com meus olhos, levando-me até Davina que acabara de tombar a fogueira ainda em chamas, sobre o chão emadeirado da sala da enorme mansão, fazendo o fogo de alastrar pelo ambiente. Meu olhar se desloca rapidamente para os lados, me possibilitando ver que agora, todos ali queimavam de forma lenta enquanto esboçavam sorrisos horripilantes.
-Não...-Sussurro em um impulso enquanto as lágrimas transbordam para fora de meus olhos castanhos.
-Isso é culpa sua, Elijah...-As várias vozes diziam repetidamente em um sussurro assustador, seguido de algumas gargalhadas sombrias.
Sinto a dor dilacerar meu peito. Não era possível, minha família estava morrendo diante aos meus olhos e eu sequer conseguia me mover.
Vejo Kol se aproximar de Klaus de forma rápida e então eles, assim como eu fiz à algum tempo atrás, quebram uma estaca no meio, à transformando em duas e então, às fazem atravessar o peito um do outro, me encarando com um sorriso assombroso. Não demora muito e seus corpos um tanto musculosos viram cinzas. Embora seus rostos já não existissem ali, ainda conseguia os ver, demonstrando aquele sorriso macabro e gargalhando como nunca e, em um impulso repentino, fecho os olhos fortemente, tentando manter a esperança de que tudo fosse apenas um horrível pesadelo. Não poderia acreditar no que estava acontecendo, estava rezando para que ainda estivesse no inferno.
Por alguns segundos, um silêncio puramente estranho toma conta da sala e eu abro os olhos lentamente, na esperança de que tudo havia acabado.
-Por favor, Elijah...Não me diga que esqueceu da parte mais importante.-Posso ver Hayley falar pausadamente a minha frente. Ela parece estar engasgando com o próprio sangue e em um rápido impulso de me livrar da dor, desvio meu olhar do seu, passando a olhar ao redor, onde apenas haviam corpos dilacerados e pequenos montes de cinzas jogados ao chão, enquanto o fogo ainda se alastrava pela sala.
-Olhe para mim, Elijah...Seja nobre, tenha coragem de olhar o que você fez comigo!-A voz de Hayley ainda incomodava aos meus ouvidos com suas palavras frias, porém verdadeiras. Tomo coragem e volto a encará-la e então seu corpo começa a pegar fogo tão facilmente, como se tivesse sido banhado a álcool puro.
-Você me matou, Elijah...Você me tirou da minha filha, tirou a minha vida. Você é um monstro!-Ela grita, cheia de mágoa enquanto gemia de dor, pelo fogo que incendiava seu corpo e de repente, ela começou a gargalhar de forma descontrolada. Com uma forte luz, o rosto de Hayley se desconstruiu à minha frente e um novo rosto tomou forma, seguido daquela risada maléfica, era Molly. Seu sorriso era largo e perverso. Outro pesadelo, outro sonho horrível. Respiro fundo tentando conter meu desespero e frustração.
-Pobre Elijah. Pobre e sofredor...-Sua voz queimava meus ouvidos como ácido, naquele momento desejei ser surdo.
-Você tomou a decisão de encarar o inferno pelo bem da família...Uma decisão que certa vez, eu também tomei!-Ela comentou sarcástica e ao mesmo tempo, ligeiramente amarga.-Eu implorei aos céus e cai no inferno pela minha família, e se tem algo que aprendi aqui, é que não se desce ao inferno se não estiver disposto a se queimar...
Minha visão fica turva e seu belo rosto se torna apenas um borrão, o barulho de sua risada preenche meus ouvidos antes de novamente eu apagar em pesadelos tortuosos.

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⏰ Last updated: Feb 23, 2019 ⏰

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