Carta Oito: Olá, Rodrigo

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Olá, Rodrigo 

É fácil parecer culpado quando um estudante de Direito tem raiva de você e escreve sete cartas organizadas cronologicamente como se estivesse contando uma história. Não que eu esteja dizendo que eu não seja culpado. Eu sou. Eu, Ricardo Carvalho, confesso que fiz tudo o que foi dito até aqui. Eu sei sim que te machuquei.

Mas eu acho que preciso contar meu lado. Por que eu fiz o que eu fiz. É minha réplica (é como vocês chamam?). O problema é que não sei escrever tão bem como você. Afinal, estudei Engenharia, não foi nenhum curso de Humanas. Passei cinco anos estudando cálculo em cima de cálculo. Eu juro que eu só quis o melhor para ti.

Eu disse isso naquele dia. Claro que você não entendeu. Eu nunca fui muito bom me expressando. Eu nem deveria ter expressado nada. Sim, eu sei, Rodrigo, que eu era o mais velho da relação, e era portanto, responsável emocionalmente por você. Mas eu precisava expressar, era maior do que eu. Eu estava sentindo algo pra valer.

Como que você não entendeu, mesmo ao escrever?

EU acho que já tá tarde

AMO dormir depois das duas mas estou cansado da viagem

VOCÊ tem que acordar cedo pra voltar pra casa

Eu amo você. Pode voltar ao que escreveu na carta sete, palavra por palavra do que eu disse. Não estou mudando nada. Eu te amava, Rodrigo. Não diga que eu não amava. Meu problema era que eu sabia bem que você também amava. Não poderia te prender a mim, sendo que eu não te merecia, se aquela cidade não te merecia.

Por isso, eu disse o resto, duas vezes.

PRECISO dormir

TE fazer dormir

DEIXAR o despertador ligado

IR enfim dormir

Preciso te deixar ir. Eu precisava te deixar ir. Principalmente se estava com a ideia oca na cabeça de estudar Engenharia Civil na cidade ao invés de Direito, o curso que queria de verdade, em um lugar imensamente melhor. Por mim. Eu tinha que te machucar. Eu te machuquei. Mas você está aí em São Paulo, agora, não é mesmo?

Era o único jeito de te convencer.

Minha resposta para tudo vai aqui.

CARTA UM: Eu estava bêbado quando te liguei, antes de qualquer coisa. Eu não devia ter ligado, eu sei, mas é, eu, o próprio irmão Ricardo em pessoa, estava bêbado. Durante esse tempo todo, eu torcia para que em algum momento notasse que eu não diria todos aqueles absurdos DE VERDADE, mas, você jamais notou.

Era o que eu estava pensando quando te liguei.

Começo me desculpando por aqui.

Sim, íamos à igreja todos os domingos (e terças e sextas à noite). Não contou como nos conhecemos. Minha família era recém-convertida, LEMBRA? Eu te vi pela primeira vez em algum dia que sua mãe estava brigando com você por não se comportar no culto. Te achei fofo, até os seus treze anos você era o cúmulo de fofo.

Minha mãe se aproximou da sua e você se aproximou de mim. Eu não tinha ideia de que já sentia atração por mim nessa época. Eu definitivamente não sentia nada por você. Você era como um irmão mais novo, o que eu falei foi sério. Se você aos doze anos era tão pervertido, eu com doze estava chutando bola na rua, okay, moço?

Geovana foi a primeira pessoa que eu gostei. Eu gostei de verdade, de uma maneira que não imaginei gostar aos quinze anos. Um azar que ela era lésbica. Fazia sentido, acho que ela odiava me beijar. Bem você e Patrícia. Mas é, eu gostava dela. E ela era minha prima (que pecado horrível, esse incesto, Ricardo!!).

minhas razões para ir embora (ROMANCE GAY - FINALIZADO)Where stories live. Discover now