Horas desastrosas

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Passei a noite pensando naquela frase, de algum modo mexeu comigo, não sei se foi seu tom propositalmente sexy, ou o convite jogado no ar, mas o fato era, alguma coisa tinha ali, vi que não iria conseguir fechar os olhos e descansar então desisti de dormir, e continuei meu trabalho. Passei horas a fora, tão concentrado que nem notei quando amanheceu o dia, olhei para a hora com espanto e corri para vestir o uniforme, ou me atrasaria para a aula, nem mesmo me olhei no espelho e corri para fora do quarto.

Mas como nada são flores, em meio a minha correria acabei esbarrando em um aluno, que além do olhar mortal, ainda me lançou ameaças por ter derrubado seu precioso café, então aqui estou eu, atrasado, com a roupa suja e em chamas por ter virado alvo da bebida quente, e quando achava que meu dia já tinha sido azarado o suficiente, chegando na sala a única coisa que escutei foi: - Esta atrasado senhor May, a aula começou a 15 minutos, pode se retirar – Aquela maldita tolerância de horário, conformado ou nem tanto, me encaminhei para o banheiro mais próximo, para ao menos me limpar antes de ir para a biblioteca.

- Como pode saber tanto a respeito do universo e não fazer ideia de como tirar uma mancha de café do uniforme – Pensei comigo mesmo.

Após me molhar todo e não obter nenhum resultado, desisto e sigo para a biblioteca, abri a porta da mesma, vendo que estava vazia como de costume, agradecendo mentalmente por isso.

- Querido o que aconteceu com você? – Indagou a senhora Rose.

- Acho que hoje não é meu dia – Lamentei desapontado.

- Se quiser trazer o uniforme depois, posso dar um jeito pra você – Ofereceu.

- Agradeço a preocupação, mas não quero incomodar, eu arrumarei uma solução – Proferi lhe depositando um beijo na bochecha e seguindo para as últimas sessões.

Mesmo que inconscientemente procurei uma certa cabeleira loira, mas não o encontrei por ali, contudo um recorte da nossa conversa passou pela minha mente, e me encaminhei para a sessão reservada, o encontrando com seu típico cigarro, ele estava deitado com um livro em mãos. Pelo o local que estava, já pude imaginar o conteúdo dele.

- Você é realmente viciado em romance erótico? – Questionei atraindo sua atenção, seguido de um sorriso doce do mesmo.

- Sei o que está pensando, mas dessa vez não é um livro erótico – Justificou – Na verdade é um livro de poema.

- Oh, não sabia que gostava – Exclamei. Sentando ao seu lado.

- E não gosto, só estava entediado te esperando, aliás...- Disse me analisando melhor – O que aconteceu com você, se meteu em alguma briga? – Falou fazendo uma expressão confusa, ao qual eu achei muito adorável.

- Disse me analisando melhor – O que aconteceu com você, se meteu em alguma briga? – Falou fazendo uma expressão confusa, ao qual eu achei muito adorável

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- Isso se chama, uma noite sem dormir, a mancha de café foi uma consequência – Expliquei.

- E isso no seu cabelo? – Disse retirando um pedaço pequeno de folha que estava presa.

- Meu Deus, eu sou um desastre – Ele riu com minha cara de decepção.

- Para de se lamentar Doutor May, levanta daí e eu te ajudo a limpar sua bagunça – Proferiu se erguendo e me dando a mão para que eu fizesse o mesmo, sem questionar eu lhe segui.

Estávamos andando pelos longos corredores, atraindo mais olhares do que eu esperava, não sei se era o fato de eu estar todo sujo e bagunçado ou se era as mãos entrelaçadas, Roger não havia soltado desde a biblioteca, e eu não fiz questão de reclamar, até estava gostando de uma certa forma, sua mão parecia encaixar tão bem na minha.

- Aonde está me levando? – Perguntei.

- A um local onde eu possa tirar essa mancha.

Passamos por mais alguns corredores, e finalmente paramos de frente a uma porta.

- Freddie?! – Bateu algumas vezes, chamando esse tal de Freddie mas não obteve resposta.

- É parece que não tem ninguém – Suspirou frustrado pegando uma chave de dentro do jarro que ficava ao lado da porta – Meu companheiro de quarto é meio imprevisível, já perdi a conta de quantas vezes dormi do lado de fora – Falou destrancando a porta, seu quarto era relativamente grande, e bem colorido, tinha vários pôsteres de bandas e muitos rabiscos de desenho por todo o lugar.

- Não liga para a bagunça – Disse Roger.

- Meu quarto é dez vezes mais bagunçado que isso, me admira eu ainda ter um lugar pra dormir – Ele riu com meu comentário.

- Você é uma graça Doutor May – Falou indo até o banheiro, era bem limpo e organizado, e possuía muitos produtos de beleza – Pode me entregar sua blusa por favor– Pediu.

- C-Como? – Perguntei um pouco envergonhado.

- Prefere que eu lave com você vestido nela? – Debochou – Vamos logo, eu não vou abusar de você.

- Está bem – Me dei por vencido, e comecei a tirar meu uniforme, ele permaneceu me encarando, e não deixei de notar seu olhar sobre meu corpo – Aqui está – Entreguei a roupa suja para ele.

- Nossa você fez um estrago nisso, mas não há nada que os amaciantes do Freddie não resolvam, já consegui tirar até mancha de vinho.

Ele continuou a esfregar até a roupa voltar a sua cor original, eu permaneci o encarando enquanto ele estava distraído e conversando coisas aleatórias, passei a analisar seus pequenos detalhes, seu sorriso doce e bobo em contraste com seus lábios finos, seus olhos grandes e um pouco caídos, seus cabelos longos e um pouco desalinhados, tudo nele parecia se encaixar perfeitamente, como uma corrente de estrelas, qualquer um notaria sua beleza peculiar.

E naquele momento eu percebi, que o caminho ao qual eu estava me dirigindo, não teria mais volta.

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