{🍯} sweeter than honey

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— O que foi, Jungkook? Perdeu alguma coisa?

Trata-me com a mesma grosseria usual ao me flagrar espiando pela porta entreaberta do quarto de meu "irmão". Está sentado no chão, organizando os papéis do trabalho em equipe que estavam preparando, o mesmo trabalho que o fazia vir quase todos os dias à nossa casa.

— Só tava procurando o Will — abro a porta inteiramente e adentro o quarto, já que fui visto, antes de me explicar.

— Você sabe muito bem que ele não tá aqui, agora pode me dar licença ou vai inventar mais uma desculpa? — o garoto nem ao menos se dá o trabalho de olhar em minha cara; continua mexendo nos papéis, mesmo que não tenha por que alterar suas posições, são só folhas aleatórias que irão para o lixo mais tarde. Sei que faz isso apenas para me evitar, e gostaria de entender o porquê, pois nem sua aparência e muito menos seu comportamento com os demais condizem com o modo que me trata.

Jimin se veste como um adolescente dos anos 90, usa bastante a cor amarelo e tem cabelos cor de ouro, quando anda pelos corredores da escola a luz solar intensifica seu visual e a impressão que fica para quem observa é de que está brilhando. Ele pinta girassóis em seus tênis All Star e customiza sua mochila com buttons de suas bandas e artistas favoritos, cantarola "Cherry Wine" do Hozier enquanto faz exercícios de matemática e sempre fica depois da aula para ajudar os professores e apagar o quadro. Não come carne, só gosta de comidas doces e sua estação favorita é o verão.

Somos parecidos em alguns pontos e muitos diferentes em outros. Seus cabelos dourados diferem dos meus tingidos de um pêssego opaco, prefiro Vans pretos e, ao invés da música alternativa que ele tanto gosta, prefiro pop. Adoro hambúrguer, gosto de café amargo e minha estação favorita é o inverno. Mesmo assim, com a convivência e depois de ser invadido por seu espírito, hoje em dia já carrego muitas características emprestadas dele.

Quando cheguei aos Estados Unidos, descobri que na realidade o "High School" é muito diferente dos filmes. Eu não esperava ser zoado por ser calouro e levar uma raspadinha na cara, ou ter a cabeça enfiada no vaso sanitário, mas esperava algo pelo menos um pouco mais estereotipado, com líderes de torcida e jogadores de futebol americano que se acham melhores do que todos andando pelos corredores.

Não sei sobre as outras escolas, porém a minha é até bem normal. A estrutura do prédio é parecida com a do meu antigo colégio na Coreia, os professores são legais e os jovens são como em qualquer parte do mundo: têm estilos e interesses diferentes, e formam grupinhos baseados nisso, nada anormal. Sinceramente, me senti até um pouco decepcionado e desiludido do "sonho americano", mas tudo mudou quando vi Jimin.

O único coreano na escola além de mim, ou melhor, descendente. Ele é estadunidense, contudo, seus pais são da Coreia e se mudaram para cá quando sua mãe estava grávida. Apesar disso, ele fala coreano fluente e tem contato com a cultura, tanto é que às vezes leva para o almoço pratos típicos coreanos, que me fazem ficar com água na boca e saudade de casa.

Jimin parece ter saído da ficção. Eu não acreditava mais nos clichês do Ensino Médio estadunidense até encontrá-lo, praticamente um protagonista de filme cult. E, além disso, é a única pessoa que conheço na Califórnia capaz de me ajudar se eu esquecer alguma palavra em inglês, ou de entender minha vontade constante de comer hotteok.

É verdade que minha host family é a melhor possível e fazem de tudo para eu me sentir confortável, inclusive encomendar comidas coreanas e reagir falsamente para não me magoar, ou me cumprimentar de vez em quando com um "annyeonghaseyo" num sotaque bem estranho. Entretanto, mesmo admirando o esforço deles, chega a ser tão forçado que acabo ficando com mais saudade de casa, mas, é claro, não reclamo de nada, apenas agradeço por me receberem, embora quase todas as noites me encontre frustrado.

my 90s daydreamOnde histórias criam vida. Descubra agora