VI - Cedendo Espaço

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"The male is not less the soul nor more, he too is in his place, (...)"

(Walt Whitman, I Sing the Body Electric - VI)

"Sua função é a de ponte focal para (...) emoções que podem mais facilmente ser sentidas em relação a um indivíduo do que a uma organização."

(George Orwell, 1984)


Manter uma quantidade muito grande de pessoas sob vigilância é uma tarefa dispendiosa. Tomar essas mesmas pessoas sob seu domínio, quer elas se deem conta disso, quer não, devia ser infinitamente mais prático.

Millicent ficou surpresa por essa ideia não lhe ter ocorrido até então. Mas agora que se debruçava sobre dela, achava-a óbvia e lógica.

- Estou entendendo - disse, pensativa - Mas como isso é feito, senhor?

O General logo se dispôs a explicar. Assumiu um tom que pretendia ser casual, como um nativo que falasse sobre um costume característico de seu planeta a um visitante.

- Há mais de uma forma. Com alguns mantemos negócios em andamento. Com outros, podemos dar a entender que os deixamos como estão, com sua preciosa ideia de liberdade e sua estranha noção de lei e ordem. Assim, em algum momento no futuro, eles se lembrarão do que fizemos e não hesitarão em demonstrar sua gratidão, fazendo tudo o que a Primeira Ordem desejar, na esperança de perpetuar as circunstâncias anteriores. Nos dois casos, estamos um passo à frente. Nós os deixamos acreditar que estão a ganhar, e de certa forma você verá que eles estão, mas a verdadeira vitória pertence à Primeira Ordem.

Millicent mantinha as mãos atrás das costas e olhava diretamente para seu superior. Parte dela agora se perguntava a razão de ele ter decidido falar sobre todas aquelas coisas, mas outra parte, menos controlável e acostumada a vencer, a aconselhava a continuar a ouvir e não fazer mais do que uma ou outra pergunta discreta.

- E quanto à Resistência? De que forma a Primeira Ordem está à frente dela nesta questão?

- Esta é a parte mais interessante de tudo - uma sutil mudança no semblante indicou que aquela na verdade era a parte mais interessante para ele - Lembra-se do que falei sobre trabalhar juntos por uma causa em que se acredita? É algo belo, e até divertido, para registros e livros de cabeceira, mas terrivelmente limitado na prática. E é bem este o caminho seguido pela Resistência. Não será surpresa, portanto, quando, em um futuro próximo, o idealismo falhar e os rebeldes desaparecerem.

Essas últimas palavras foram ditas como a grandiosa conclusão de uma verdade inexorável, mas chegaram calmas e baixas aos ouvidos de Millicent. Talvez sinalizassem o fim da conversa.

A oficial tinha os dedos entrelaçados; imaginava que o ar, cada vez mais frio com a partida do crepúsculo e o avanço do anoitecer, era o que os fizesse tremer, assim como o restante do corpo. Por isso estranhou que um detalhe tão insignificante fosse trazido à tona por Hux. Dando um passo à frente, passou uma das mãos por trás dela; tomou seu pulso, o mesmo que havia segurado para impedi-la de agredir o oficial, e afastou a manga do uniforme.

A pele exposta ao ar gélido arrepiou-se instantaneamente, e ela não teve tempo de controlar o impulso de escondê-la de volta sob a manga. Mas foi impedida por ele, que a segurou com a mesma firmeza de que usara na ponte de comando.

- Por favor - ele pôs dois dedos sobre o pálido pulso e o avaliou com o que pareceu precisão médica - Os tremores não são apenas externos. Sua pressão está alta. Vejo que nossa conversa seguiu por caminhos imprevistos por você. Caminhos sinuosos, você diria.

Millicent - Uma História de Star WarsWhere stories live. Discover now