IV - Sono

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Mais alguns passos e Hux alcançava a porta de seus aposentos.

Os dedos digitaram uma senha sobre o painel lateral, e a placa negra à sua frente se dividiu em duas para ceder-lhe passagem.

Ele se viu desejando ter dito à garota que iria vê-la o mais cedo possível. Mas a promessa teria sido inútil: aquela semana havia sido mais atarefada do que o habitual, e ainda não chegara ao fim.

E aqui estou, fazendo uma pausa fora do horário normal dentro do ciclo.

Mas não havia muito o que fazer a respeito, ou ela só o veria dali a horas, o que não seria bom. Ele lhe disse para não sair até que ele fosse encontrá-la e ela, ele sabia, obedeceria mesmo com prejuízo para si.

A cena com que se deparou ao entrar no lugar não era de todo inesperada: um pouco adiante, no sofá que mantinha próximo à mesa do datapad, Millicent dormia. Via-se logo que a posição não era confortável: os pés, calçados, não estavam sobre o móvel e sim suspensos enquanto as pernas dobravam-se, ligeiramente voltadas para a direita, como todo seu corpo. A cabeça apoiava-se no encosto, mas parecia prestes a deslizar para cima do braço do sofá. Os braços cruzavam-se diante do corpo como se o frio causado pela febre ainda se fizesse sentir com a mesma intensidade de quando ela estava desperta.

Foi até ela.

Ele parou diante da moça e a observou por um momento. Ela não se moveu. Estendeu uma das mãos e, com os dedos, fez um carinho em seu rosto, que terminou como um afago em seu cabelo, agora desalinhado. Novamente, não houve qualquer reação. A única coisa próxima disso era o movimento do corpo que indicava o quanto sua respiração era profunda: o sono era pesado; ela não acordaria tão cedo.

Aquele deve ter sido o primeiro lugar para onde Millicent se dirigiu quando chegou, e onde decidiu permanecer. Ele olhou em volta e não viu sinal de que os droides tivessem passado pelo local: o único que se fazia presente era o diminuto exemplar que a acompanhou até ali, ainda emitindo bipes perto dos pés dela. Aquilo só podia significar que não houve solicitação de serviços de qualquer espécie.

Hux suspirou enquanto desativava o pequeno droide. Não obstante sua condição, a garota adormeceu de estômago vazio, contrariando as instruções recebidas.

Um segundo olhar para ela, no entanto, o impediu de se exasperar.

Estava mais pálida do que ele havia julgado possível. No rosto, os traços da exaustão eram mais do que visíveis; era estranho que isso não tivesse sido trazido à tona por quem teve contato com ela na ponte durante o dia. Se ela estava naquela posição desde que adormecera, era por não ter encontrado forças para se mover.

Ele descalçou as luvas e as deixou sobre a mesa. Voltou para perto dela e, após alguns instantes tentando descobrir a melhor forma de fazê-lo sem que ela acordasse, tomou-a nos braços.

Hux não teve problemas para erguê-la de seu lugar: mesmo para uma garota tão magra, Millicent era surpreendentemente leve. Ele não descartava a possibilidade de ela ter perdido peso devido à enfermidade, caso esta estivesse presente por um período considerável: ela disse que o mal estar havia começado ontem, mas a doença, que se instalara primeiro, devia ter causado prejuízos antes que fosse notada.

A leveza não era o que mais impressionava, contudo.

Se antes era possível ter certeza de que ela era feita de uma matéria delicada demais para mãos rudes, fosse em sua forma física ou em sua estrutura mental, a ideia não parecera tão verdadeira quanto agora. A moça, que tinha a cabeça apoiada em seu ombro esquerdo, os braços ainda cruzados sobre o corpo, as pernas dobradas apoiadas pelo braço direito dele, dormia alheia à própria fragilidade. Era como se pudesse se dissolver caso ele a segurasse da maneira errada.

Millicent - Uma História de Star WarsDonde viven las historias. Descúbrelo ahora