Capítulo 2

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Bati a porta ao entrar no quarto. Quero esquecer esse dia, fingir que ele nunca existiu. Um nó trava a minha garganta, um lembrete claro que eu quero chorar — rainhas não choram —, lembro a mim mesma — só que eu ainda não sou rainha —, me permito uma desculpa.

Mas esse dia não pode simplesmente ser esquecido, e o laço cinza em minha mão — que estava no pulso do boneco — é a mais perfeita lembrança .

Deitei-me de bruços na cama, enterrando o rosto em meio aos travesseiros macios e os lençóis de seda branca. Estou cansada, queria apenas fechar os olhos, e quando acordar ter sido apenas um sonho, um sonho ruim. Aperto o laço cinza pequeno e delicado nas mãos, a raiva que sinto no momento poderia queima-lo sob o calor da minha pele.

Pensei que isso tinha parado, afinal, já faz dois meses que não recebo nenhuma ameaça — acho que me enganei. Não deveria está surpresa, essa não é à primeira vez que isso acontece. Toda operação em que já estive, tinha um boneco desses acompanhado de um laço, e às vezes até um bilhete com alguma ameaça ou indireta, que indicava que, quem quer que seja, sabe todos os meus passos de cor.

Tenho minhas suspeitas, só que não tenho provas. Não posso acusar ninguém sem argumentos convincentes. Meu pai nunca acreditaria que seu próprio irmão está tentando se livrar da sobrinha. Mas, acho que as suas maquinações vão além, e ele quer se livrar de todos nós, e ficar com o trono.

Mas, quem suspeitaria dele? Eu mesma não suspeitava até ver um laço cinza cair do bolso de seu paletó. Qualquer um diria para não tirar conclusões diante de tão pouco, até onde sei aquilo poderia ter sido colocado lá para incrimina-lo. Todavia, quem ganharia o incriminando? E quem ganharia com a minha família fora do caminho? A resposta é clara.

Não confiar em ninguém... uma voz sussurra na minha cabeça — a voz da Anastasia —, me lembrando toda vez, que estou sozinha nessa batalha.

Me viro na cama, encarando o teto amarelo, abro o zíper do uniforme, levo a mão ao colar que pende em meu pescoço, sempre faço isso quando estou nervosa. O colar foi um presente da minha avó materna, não a conheci, mas minha mãe fala que ela me amava, e que quando criança sempre me contava histórias para dormir, queria tê-la conhecido, tudo que tenho dela são algumas fotos, e esse cordão com uma pequena estrela cadente, deixando o rastro de poeira estelar para trás, delicada, e ornamentada com safiras azuis e pequenos diamantes. Me apego a ela como se fosse meu porto seguro. Como se eu pudesse fazer um pedido e ela o realizaria — mas eu sei que não pode.

Contudo, se essa pequena estrela realizasse meu maior desejo, o que eu pedisse, não sei o que seria. Nunca sei o que quero.

Às vezes penso se minha avó me deixou isso para que eu pudesse acreditar em desejos realizados.

Meus pais falam que me pareço muito com ela. Herdei a cor dos cabelos e dos olhos dela, ambos castanhos.

Não sei se estou vivendo um pesadelo, não sei se as coisas vão melhorar, mas ultimamente tudo tem se mostrado pior.

                                                                                         ***

— Rachel.

Ouço alguém chamando meu nome.

— Rachel.

Acordei assustada, acho que dormi.

— Rachel, sou eu, Liam. Posso entrar?

— Pode — minha voz saiu preguiçosa.

Me forcei a levantar-me ainda meio tonta, Liam abriu a porta e veio rápido em minha direção.

A herdeira do trono [COMPLETO]Where stories live. Discover now