Capítulo 5

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O carro de William já está na porta de casa quando saímos pela porta da frente. Ele, como um perfeito cavalheiro, abre a porta do carro para mim e depois se senta no lugar do motorista. Abro a bolsa e pego meu celular. Nenhuma mensagem do Fernando. É, acho que ele ainda deve estar na reunião com o chefe, espero que não esteja zangado comigo.

Meu pai dirige meio rápido, parece mesmo que está atrasado para resolver o tal problema que ele comentou logo cedo. Ele parece um pouco tenso, mas não acho que seja só por causa do problema que estamos indo solucionar. Só que minha curiosidade nesse momento fala mais alto, então decido tentar entender o meu pai, pela primeira vez em anos.

- Pai?

- Sim, querida. - Responde.

- Está tudo bem com o senhor? Está parecendo meio tenso demais... - Eu não sei o que acontece comigo, mas ver William assim, faz meu coração amolecer um pouco. Finalmente vejo aquele homem que me criou, e não o homem que abandonou minha mãe.

Ele demora um pouco, pensando o que me responder.

-Eu, hum... - Ele para como se não estivesse achando palavras para me contar o que está acontecendo. Essa pausa, me deixa um pouco aflita. Afinal, o que está acontecendo? Parece ser muito grave. - Eu estou com alguns problemas na empresa, como já te disse. Mas acho que a questão não é apenas o homem que está nos colocando na justiça, e sim, quem é esse homem. Ele é um grande político, tem muito dinheiro. A minha empresa pode ser grande, mas estamos passando por uma pequena crise, e acho que esse dinheiro que terei que gastar, irá fazer falta no final do mês, entende?

Fico muda. Sim, pai, eu entendo. Eu realmente entendo pelo o que ele está passando, só não esperava que ele me contasse tudo isso tão abertamente, como se nada tivesse acontecido entre nós. Eu acho que sentia falta disso. E o modo como ele despejou tudo isso, me deixou um pouco assustada. Nunca imaginei que ele estaria passando por isso.

- Tudo bem pai, eu entendo. Sei que ainda não sou formada, mas se precisar da minha ajuda para realizar projetos e tudo mais, eu poderia... hum, tentar fazer algumas coisas. - Respondo meio envergonhada. Sei que é estranho, mas poxa, faz tanto tempo que não o ajudo com nada.

Quando termino de falar, ele me olha. Seus olhos brilham.

- Sim! Sim Mel, é tudo o que eu precisava. - William está entusiasmado com a simples ideia de me ter por perto? - Você poderia trabalhar na empresa enquanto está aqui, o que acha? Assim, não precisará ficar em casa o tempo inteiro e passaremos mais tempo juntos.

- Claro pai! Eu acho uma boa ideia. Seria bom me distrair um pouco sabe?! Não ficaria em casa mesmo. - Rio e ele me acompanha.

- Ótimo, o que acha de depois de falar com o meu advogado, irmos na empresa para você conhecê-la um pouco antes de começar a trabalhar?

- Por mim, tudo bem.

Passamos o resto do caminho em silêncio, apenas vendo a paisagem pelo caminho. Meu pai, as vezes me olha e vejo seus olhos brilharem. Acho que finalmente fiz algo certo em relação a ele. E estou me sentindo muito bem com isso. Acho que podemos, agora, começar a mudar um pouco a situação ruim entre nós. Não que eu vá perdoar o que ele fez a mim e a mamãe. Entretanto, vou poder voltar a ter aquela ligação que nós tínhamos quando ele ainda estava em Orlando.

Sinceramente, é isso que eu mais gostaria que acontecesse.... Tudo voltando ao normal, sem despedidas, sem rancor, sem mágoa. Quero tentar esquecer esse orgulho por um tempo para conseguir viver em harmonia com ele nesse verão. Nada de mais.

Meu pai cutuca o meu braço e me avisa que chegamos. Estamos no centro de Manhattan, o coração de Nova York. O prédio que está a nossa frente é grande, todo espelhado. Muito bonito. Em cima das portas da empresa, está o seu nome: Brock's Lawyers (Brock's Advogados.), em letras grandes.

Simplesmente Acontece.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora