Eu devia ter pedido o número do telefone de um deles. É o que eu penso quando minha mãe para na porta do meu quarto as 13hrs daquela sexta-feira e pergunta por que eu ainda não estou arrumado para irmos para a fisioterapia.
- Eu tinha me esquecido totalmente. - Digo me levantando e andando até o guarda-roupa para pegar a bermuda de moletom que eu uso nas sessões.
Faço fisioterapia dois dias na semana: terça e sexta-feira. No início, quando eu ainda estava no hospital, eu fazia todos os dias; mas conforme fui melhorando, o número de sessões foi diminuindo e estou ansioso para chegar ao estágio de precisar ir apenas um dia por semana - eu diria que estou ansioso para não precisar mais fazer fisioterapia, mas Ananda, a minha fisioterapeuta, sempre diz que é bom a gente ir um passo de cada vez. Focar na alta sim, mas não colocar o carro na frente dos bois.
Estou no meio do meu horário encima do que parece uma rampa - na verdade é uma tabua de madeira pequena sobre um cilindro também de madeira - tentando me equilibrar enquanto me seguro ao que parece um estrado de cama preso à parede. Fico com o corpo de um lado para o outro treinando para que meu corpo relaxe e possa conseguir andar ereto, porque eu fico um pouco inclinado para a direita quando estou de pé.
Fico pensando que fui muito burro porque eu passei o meu número para Rafaela, mas não peguei o número de nenhum deles - porque estava muito envolvido na conversa para sequer cogitar essa ideia - e não pude avisar que teria que vir para a clínica e não poderia ir encontrá-los.
Eles provavelmente vão achar que eu não quis ir e nem me dei ao trabalho de avisar.
- Então parece que você não é tão antissocial quanto eu pensava hein, José?! - Ananda diz escorando na parede ao meu lado e me encarando. Minha mãe está sentada em uma cadeira do meu outro lado e acabou de contar para ela que eu fiz amizades na escola.
Amizades que provavelmente eu vou perder depois de não comparecer ao compromisso que marquei com eles.
- Na verdade a iniciativa foi total deles! - Eu digo em tom de brincadeira, e ela ri.
- Mas logo você se solta e começa a interagir com todo mundo - minha mãe fala, e sei que ela se segura para não dizer "como antes" no fim da frase.
- Quando a gente menos esperar você já vai estar com uma namorada por aí! - Ananda fala sorrindo.
- Ou um namorado! - Minha mãe faz questão de apontar.
Sinto meu rosto ficando quente e sei que fico vermelho.
- Mãe! - Digo. - Não vamos falar sobre isso.
- Qual o problema? Eu sou sua mãe, mas nós podemos falar sobre relacionamentos.
Paro de tentar me equilibrar e olho para ela.
- Tudo bem, e enquanto a senhora? Quando vai voltar a sair com alguém?
- Me respeita garoto, sou sua mãe. Não vamos falar sobre isso! - Ela diz rapidamente e Ananda e eu rimos.
Ananda então me diz para descer da rampinha e me fazer ficar parado com os pés alinhados ao ombro, ela me entrega um cilindro de madeira do tamanho do meu braço e faz com que eu o segure com os braços esticados enquanto dobro um pouco os joelhos.
E é nesse momento que vejo meu telefone, que está encima da mesa junto à cadeira da minha mãe, se acender mostrando que uma nova mensagem chegou. Saio andando apressado até a mesa e pego o meu telefone.
Você esqueceu o nosso compromisso?
Rapidamente digito a resposta.
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José e os NERDS Contra o Mundo
Ficção AdolescenteJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...