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Rachel 



  A necessidade de afastar todo o nervosismo presente no meu trémulo corpo tornava-se cada vez mais urgente. Pensamentos inseguros relativamente à nova turma que iria frequentar neste novo ano letivo, rejeições ou amizades, opiniões dos professores e dos meus novos colegas de turma quanto à minha pessoa. O receio não poderia tornar-se maior. 

  Com frequência aventurava-me ao fim da tarde em passeios nas distintas ruas de Flórida, servindo de objetivo principal o intuito de afastar quaisquer pensamentos indesejados. Caminhava sem destino, entregando-me ao puro luxo de permitir que o meu corpo traçasse o caminho. Permanecia num mundo paralelo, distinto. 


  – Permanece tranquila. Vai correr tudo bem – proferi num sussurro e fechei com força as minhas pálpebras, tentando manter o relaxamento e afastar todo o medo. Saí do meu quarto e desci a escadaria de mármore da vivenda, saindo depois da habitação. 


  Pus em prática o plano delineado há minutos atrás, iniciando a habitual caminhada que tanto apreciava realizar, e conectei os auriculares ao meu meio de comunicação pondo os mesmos nos meus ouvidos, começando seguidamente a ouvir música. Os meus passos compassados acompanhavam a singular e intoxicante batida da canção, enquanto os meus olhos divagavam pelo ambiente que me rodeava. O característico frio de Setembro instalara-se há poucos dias, trazendo consigo ventosas tardes, nubladas manhãs e gélidas noites. Árvores nuas e desprotegidas do forte clima; animais abrigados; pessoas com vestes quentes e confortáveis. Puxei para baixo as mangas do quente casaco que vestia, tentando aquecer as minhas frias mãos. 

  O meu olhar captava as diferentes paisagens, os diferentes movimentos, as diferentes mudanças. Desde murmúrios provenientes do vento a crianças nos jardins, a correr e brincar alegremente com familiares ou outros pequenos das suas idades. Os matizados céus do Verão eram atualmente substituídos por tons serenos e pálidos, e nuvens de tons cinza. E ao passar pelo parque que se torna tão familiar, agora deserto devido ao terrível frio que consumia esta ventosa tarde, reparei que se encontrava sentado na verdejante relva um rapaz que aparentava ter a minha idade. 

  Já o avistara anteriormente. Os seus distintos olhos azuis, assemelhados a tempestades marítimas, seriam impossíveis de esquecer com facilidade pois destacavam-se de todas as pessoas que ocupavam os corredores da escola secundária que ambos frequentávamos. O seu pálido rosto assemelhava-se a uma obra de arte, no canto esquerdo do seu lábio inferior descansava um piercing preto, e os seus cabelos loiros encontravam-se cuidadosamente penteados para cima. 

  O loiro atribuía-me uma impressão sua de mistério. As suas roupas negras, a sua expressão, a solidão e timidez do mesmo apenas me aplicavam mais curiosidade. Porém, tinha a nítida noção que não conhecia de todo o rapaz que contemplava neste momento. 

  Afinal, todos nos veem como querem, nos termos mais descomplicados e nas definições mais apropriadas. 

  Prossegui o meu passeio, evitando que o esbelto ser, de estatura alta pelo que eu já presenciara previamente, denotasse a minha presença. A indecifrável expressão sempre presente no rosto do loiro não abandonava os meus pensamentos. Ao chegar à vazia moradia que eu intitulava 'casa', dirigi-me de imediato para o meu quarto, não tendo fome. A ausência da minha ocupada mãe atribuía à habitação um desconfortável silêncio. O seu trabalho roubava-lhe grande parte do tempo, portanto eram poucas as vezes que a via durante a semana. E quanto ao meu pai, era raro vê-lo, devido também ao seu trabalho e ao facto de os meus progenitores se terem separado há anos atrás.

  Cansada, deitei-me na confortável cama do meu quarto e encarei o teto branco, permanecendo em silêncio. Sempre em silêncio. 


Falling In Love // lrh [em edição]Where stories live. Discover now