3. epílogo: depois do verão

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O verão havia me ensinado algumas coisas.

A primeira delas foi sobre sexualidade.

Eu nunca tinha pensado sobre heteronormatividade até perceber que sou um produto dela. Desde criança, consumindo contos de fadas entre príncipes e princesas. Na pré-adolescência, ouvindo coisas como “e os namoradinhos?” e na adolescência qualquer amigo próximo virava um namorado em potencial. Como eu não poderia simplesmente supor que era heterossexual? Então após eu me assumir lésbica aos 17 anos meus pais simplesmente supuseram se tratar de uma fase.

— Mas você já beijou garotas pra saber se realmente é?

Minha mãe não conseguia nem falar o nome e depois de escutar questionamentos iguais várias vezes eu posso ter sido ríspida na resposta.

— E quantos homens você beijou até descobrir o que é?

Ela silenciou o assunto para sempre na nossa casa após deixar o quarto com o mesmo silêncio sepulcral.

A segunda foi sobre sonhos.

Quando as pessoas te dizem “siga seus sonhos” e baboseiras assim é porque elas esperam que seu sonho seja condizente ao delas. Portanto, a minha aceitação em Harvard foi festejada — literalmente. Mas ninguém se empolgou com minha decisão.

A terceira foi sobre o “jeito certo” de fazer as coisas.

Estudar, se formar e trabalhar com a mesma coisa pelo resto da vida.

Sky Hunter nunca fora adepta disso. Ela não era o tipo de gente que consegue esperar cinco anos sentada em uma carteira dura se contentando com qualquer profissão por medo de seguir seu sonho. Ela me fazia sentir um bicho acuado.

Portanto, quando eu decidi abandonar os Estados Unidos, suas universidades e sonhos americanos para vir trabalhar e estudar na Europa em uma das melhores faculdades de fotografia do mundo eu pensei no quanto ela ficaria orgulhosa de mim. E agora, na República Tcheca, vendo seu nome ser anunciado como a nova promessa da música o que eu realmente sei é que o seu jeito certo não é o mesmo que o meu. E definitivamente não é o mesmo que o dela.

 E definitivamente não é o mesmo que o dela

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