Capitulo 11

1.2K 114 14
                                    

Dubai Março de 2001

As modernas estradas que se espalhavam por Dubai eram um lembrete do progresso intenso da região. Prédios eram erguidos rapidamente, e a vista da cidade era sempre pontuada por inúmeros guindastes. Mas bastava um vento forte para lembrar a todos onde realmente estavam. As areias cobriam o asfalto e impediam a visão da cidade. Porque o deserto era mais forte, e era selvagem e autoritário.

Da janela de sua nova casa, Rashyda assistia à tempestade de areia. Em um dia normal ela teria uma bela vista do mar a sua frente, mas hoje nada era visível, apenas a areia jogada pelo vento.

Era engraçado como a vista lá fora se assemelhava com a visão que ela tinha do próprio futuro naquele momento. Estava casada há dois meses, e a última vez que olhou para o rosto do marido foi no fim doloroso de sua lua de mel fracassada.

Viver em Dubai já tinha sido um sonho para ela. A vida isolada em Al Ain era tediosa. Queria poder se misturar com as moças das famílias emiratis que havia ali, frequentar os Shoppings que estavam sendo erguidos na capital, as festas e toda a diversão que havia surgido nos últimos anos. Desde que Sheikh Maktoum subiu ao trono, Dubai havia se modernizado, aceitando os luxos da cultura ocidental, tentando equilibrar tudo com a cultura muçulmana.

Mas a sua vida na capital agora não era feliz. Recebia dezenas de convites, todas queriam se tornar amigas da jovem que havia conquistado o coração do herdeiro. Mas todas essas coisas não pareciam mais interessantes. Sentia que tinha envelhecido muito em dois meses.

Gastava seu tempo entre treinos com cavalos, e eventos bobos realizados pelas mulheres ricas que não tinham onde gastar todo o dinheiro de seus maridos. Não gostava mas precisava ir, afinal, agora era um membro da família real.

Ouviu Brianna bater e entrar em seguida no quarto. Não abriu mão da jovem e a trouxe para Dubai. O marido não se opôs, parecia não guardar mágoa da jovem assistente. A loura trazia uma rosa branca na mão, se aproximou de um vaso grande e a pôs ali, junto com outras vinte rosas coloridas. Analisou o arranjo para ver se não havia nenhuma murcha, e ajeitou as flores no vaso.

Isso acontecia todos os dias. Desde a chegada do casal em Dubai, todas as manhãs Rashyda recebia uma rosa com uma pequeno bilhete amarrado com uma linha dourada. No bilhete apenas uma palavra: perdão. A letra de Rashid, de quem havia recebido cartas de amor anos atrás, e que havia lido até decorar cada detalhe. Nunca tocava nas rosas, e nunca respondia ao bilhete. Mas elas continuavam a chegar.

-Os seus compromissos foram cancelados, Sua Alteza.- a voz de Brianna ecoou -- Não há previsão para o fim da tempestade de areia. Quase toda a cidade está parada, com esse tempo é impossível fazer qualquer coisa fora de casa.

Achava engraçado o fato de Brianna se referir a ela como 'Sua Alteza' , na verdade não chegava a ser uma princesa. Apenas era chamada de Sheikha por causa da alta posição do marido. Mas a assistente parecia a enxergar como uma princesa.

- Já que tenho o dia livre, vou ficar no estúdio e pintar um pouco.

- Ah, Sheikha Rashyda, seu pai ligou novamente. - Brianna parecia escolher bem as palavras - Ele insistiu em vir na próxima semana para se encontrar com a senhora. Eu disse que não seria possível, mas creio que ele virá assim mesmo.

- Não tenho dúvidas de que ele virá. Diga a Hassan que preciso falar com ele. Vamos resolver isso de uma vez.

Hassan e Rashid tentavam reorganizar a agenda pela milésima vez, e isso deixava o secretário profundamente irritado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Hassan e Rashid tentavam reorganizar a agenda pela milésima vez, e isso deixava o secretário profundamente irritado. Aquela agenda existia com o intuito de facilitar a vida e não de torná-la um caos. Mas o príncipe fazia tantas alterações, que ela estava se tornando um pesadelo.

Desde o retorno a Dubai, ele estava trabalhando praticamente todo o tempo. Hassan se admirava de quanta coisa Rashid conseguia fazer ao mesmo tempo. No momento, estava empenhado em construir um hospital que fosse referência no golfo pérsico. O príncipe queria que as pessoas não precisassem se deslocar até a Europa em busca de tratamentos modernos. Também estava trabalhando na aprovação de um projeto que previa grandes alterações em favor dos direitos das mulheres. Sheikh Mohammed estava extremamente satisfeito com a dedicação do herdeiro. Mas o que mais causava admiração em Hassan, eram as habilidades do príncipe para os negócios.

- Acho que assim está bom.

- Certamente, Sheikh Rashid. - o secretário lutava para não passar os olhos pela agenda rabiscada - A propósito, tenho um pedido de sua esposa.

O príncipe fechou a agenda e deu toda sua atenção a Hassan.

- Sheikh Youssif deseja ver a filha. Mas ela não quer se encontrar com ele. Ele parece estar decidido a vir aqui, mas ela deseja que o senhor impeça isso.

Rashid olhou para o teto por alguns segundos, depois depois de um suspiro prolongado voltou a encarar Hassan.

- Não posso me manter longe de Youssif. Ele é meu sócio e eu preciso do apoio dele. Mas se ela não quer vê-lo não será obrigada a isso. Caso ele venha, impeçam que ele chegue até ela.

- Será como o senhor deseja, Sheikh Rashid.

- Mas se ele insistir, então eu mesmo o impedirei.

Deitada num divã, Rashyda observava o resultado do seu trabalho

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Deitada num divã, Rashyda observava o resultado do seu trabalho. O esboço do rosto de uma mulher. Um rosto tao importante, para o qual ela nunca tivera a oportunidade de olhar ou tocar. A conheceu apenas em fotografias, e apenas duas. Uma que seu pai deu a ela, e a outra a Karin. Sentia tanta falta da mãe, e ao mesmo tempo sabia muito pouco sobre ela. Como teria sido se a mãe estivesse viva? Será que a mãe teria intercedido por ela, em relação ao casamento com Rashid?

Pensou até que seus olhos ficaram pesados, e adormeceu.

Despertou ao ouvir a voz de Brianna.

- Alteza, uma mulher está aqui para ver você. - Brianna parecia preocupada- Com essa tempestade de areia não tive como dispensa-la.

-Quem é? - Rashyda perguntou com voz sonolenta, sem nem se dar ao trabalho de abrir os olhos.

- Ela se identificou como Fatuma bint Sharifullah.

Brianna se assustou quando Rashyda se sentou bruscamente com os olhos arregalados.

- Desculpa alteza, não queria assusta-la.

A Sheikha olhou pela janela e ficou admirada ao ver que a tempestade havia aumentado. Como aquela mulher conseguiu chegar até sua casa?

- Eu preciso me arrumar antes de vê-la. Fique com ela e a faça se sentir em casa. Quero que seja tratada da forma mais hospitaleira possível.

- Sim, alteza.

Rashyda caminhou rápido até a porta, e se virou com as feições muito sérias.

- Brianna, é muito importante que ela pense que tudo está bem por aqui. Nada pode parecer fora do normal, absolutamente nada. Por favor, alerte meu marido da chegada dela. Creio que não vamos nos livrar dessa mulher em menos de uma semana.

Rashid - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora