CAPÍTULO 3

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Abro a porta do apartamento em que viverei pelos próximos meses e analiso ao redor, sentindo minha respiração se tornar ofegosa pela raiva, busco com vigor conter a vontade de incendiar esse lugar e fugir pelo mundo

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Abro a porta do apartamento em que viverei pelos próximos meses e analiso ao redor, sentindo minha respiração se tornar ofegosa pela raiva, busco com vigor conter a vontade de incendiar esse lugar e fugir pelo mundo. Qualquer um de seus aliciadores adorariam viver aqui, o imóvel está num dos melhores bairros da cidade, na região central, em um dos prédios mais modernos de Volar.

E enquanto alguns possam achar que Nolasco nos hospede em locais luxuosos como este para nosso conforto, sei que não passa de uma isca. É assim que ele engana garotos sem esperança no futuro, garotos que nascem e vivem em famílias desamparadas e sem estrutura, com a promessa que trabalhar para ele é muito mais vantajoso que estudar e trabalhar como qualquer homem honesto.

Não posso contar a quantidade de vezes que vi esses garotos escolherem o caminho mais fácil, vindos de famílias em alto grau de vulnerabilidade, vivendo na presença da fome e da carência, a resposta é sempre rápida. Para muitos deles, é difícil se manter incorruptível, quando só uma porta está sempre aberta.

E eu me odeio por estar aqui para trazê-los exatamente para essa porta.

Avanço, examinando cada cômodo, cada móvel ostentoso, cada aparelho de última geração que compõe o ambiente. Posso classificar esse apartamento como uma reprodução em escala menor da casa de Nolasco, e isso por si só já me causa asco. Caminho até a última porta do corredor e antes de abri-la inspiro e aperto meus lábios, sabendo com exatidão o que tem detrás dela.

Nada.

Não entendo porque ele me colocou aqui, sabendo que não vou tocar num fio de cabelo dessas crianças.

O cômodo vazio e escuro, com proteção acústica é para ser usado caso alguns dos aliciados causem problema. O comando inicial é que eu os tranque e espere por outro homem de Nolasco, um menos afável.

Fecho a porta, certo de que não usarei esse quarto e decido sair por algumas horas, mesmo que esse apartamento seja um espaço majestoso, ele me causa enjoo, assim como a casa de Nolasco.

Saio do prédio e vejo meu carro estacionado do outro lado da rua, olho para a máquina e penso que ela é o chamariz mais funcional de todos, a maioria dos meninos a enxergam como o sonho de consumo, imaginando que o dia em que tiverem um carro como esse, será o dia em que alcançaram o topo do mundo.

Bobagem.

Aperto os olhos e lembro da casa humilde em que vivia com meus pais e irmão, inspiro e é como se estivesse sentindo o aroma do leite quente que minha mãe preparava para mim todas as noites antes de dormir, as risadas de Juan ecoando pela casa enquanto brincávamos correndo de um lado para o outro no chão de terra batida no quintal, os banhos com água de mangueira para nos refrescar nos dias quentes eram melhores que qualquer piscina. Os abraços de minha mãe antes de eu sair para a escola, os beijos na testa ao me deitar, os afagos no cabelo quando eu tirava uma boa nota. 

Por vontade própria eu jamais os teria trocado por qualquer dinheiro ou luxo desse mundo, nunca. Se não fosse por meu pai, eu não estaria aqui, eu não estaria há dezessete anos nesse inferno.

Paro de caminhar e baixo a cabeça, percebendo meus olhos molhados pelas lágrimas que há anos eu tento cessar, a saudade ainda dói tanto que até o dia da minha morte vou sentir meu coração sangrando.

Se eu soubesse onde eles estão agora, se conseguisse descobrir em que cidade Nolasco os colocou. Se eu pudesse vê-los nem que por alguns minutos, talvez essa dor abrandasse, talvez sangrasse menos, talvez essa vida fosse mais suportável.

Seco meus olhos e volto a peregrinar pelas ruas do pequeno bairro espaventoso e pelo que notei, completamente contrastivo com restante de Volar, uma cidade perfeita para iludir esses jovens garotos com a promessa do dinheiro rápido, com a ideia de que pertencerão a um grupo próspero, mesmo que seja para causar o mal.

Aos poucos a mudança de um bairro para o outro se dá mais aparente, percebo que saí do bairro requintado que viverei e entrei num intermediário, com casas comuns, pessoas comuns que passeiam pela rua com seus cães e sentam-se em praças para conversar com seus amigos e vizinhos.

Acompanho todas as nuances, analisando essas pessoas. Ouço as tagarelices das senhoras questionando-se se irá chover ou os preços das frutas no supermercado. Vejo mães e avós nas calçadas acompanhando suas crianças que brincam despreocupadas, vejo adolescentes com uniformes escolares e mochilas nas costas e percebo que esse bairro ainda não é suficientemente suscetível para eu agir.

Na verdade, se um dia eu tivesse uma família para chamar de minha, ele seria a escolha para eu viver.


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sem revisão

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