Retrato

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Lembras daquela foto no fundo de sua gaveta?

Andávamos descalços e mesmo assim íamos para qualquer lugar,

Hoje, nós temos o carro do ano,

Mas do outro lado da rua já fica difícil chegar.


Ainda não tínhamos o "bom emprego",

Somente nos permitíamos sonhar,

Queríamos trabalhar viajando pelo mundo,

No fim das contas, o seu mundo se tornou uma boutique e o meu um pequeno escritório.


Não tínhamos filhos para criar,

Na verdade, não conseguíamos nem nos ajudar,

Amávamos praia e o cheiro de grama molhada,

Hoje, preferes rolar na neve e eu no chão de um bar.


Não perdíamos nenhum show de rock,

Rock na veia e você no ar,

Mas sei que de um tempo para cá,

O som que antes te fazia vibrar, agora te faz chorar.


Você dizia que me amaria para sempre,

O "para sempre" permanece somente no retrato,

Acabou naquela praça,

Não chegou ao altar.


 Já eu dizia que venceríamos qualquer dificuldade,

  Mas, no primeiro aperto,

  Eu desisti de tudo,

 "Não aguento, é demais para mim, vou para outro lugar".


  Eu sei, agora não adianta chorar o leite derramado

  Mas, se tivesse alguma oportunidade,

  Guardaria cada gota do nosso tempo,

  Outro copo de leite tentaria contigo compartilhar.


  Enquanto isso, deixe o retrato na parede!

  Não irão notar os detalhes,

  Daquele dia, daquela manhã, daquele nosso lugar,

 De um tempo que não volta, mas que sonho em regravar.


Marcos Malagueta.

Manaus, 19 de fevereiro de 2019.

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