Prada negra

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Passei os dedos entre meus fios negros, tentando ajeita-los de maneira apresentável.

Eu estava feliz por meu pai ainda estar dormindo. Não queria vê-lo.

Desci as escadas, de dois em dois degraus. Archie não havia chegado ainda, mas precisava pegar minha mochila que estava no andar de baixo.

Quando estava me agachando para pega-la sinto o celular vibrando repetidas vezes, em meu bolso. O retirei de lá e li o nome de Archie brilhando na tela do aparelho.

Aceito a chamada e grudo o celular na orelha.

--O que foi? --resmungo, por conta do mau-humor, ainda presente em todo o meu corpo sonolento.

-Oi para você também! -- pude perceber a aparente rouquidão em sua voz. -- me desculpa, Jug, mas não vou poder te levar para o colégio hoje.

--Por que?

--Estou doente. Foi mal, cara.

Esse era o motivo da voz rouca.

--Ok, vou andando mesmo. Obrigada por avisar! Melhoras!

--Tchau!

Me despedi e joguei a mochila nas costas, já sabendo que a caminhada seria bem mais longa do que com o carro.

Saí pela porta e comecei a caminhar apressadamente.

Cheguei a escola a tempo. Entrei pelo corredor e me escorei no meu armário. Estava um tanto cansado, pela corrida de casa até o colégio.

Peguei o material da primeira aula e me enfiei na sala.

Essa aula seria insuportável, já que era biologia. E, além disso, eu havia caído com Archie, porém ele tinha faltado.

Me acomodei na ultima mesa, as carteiras dessa aula eram para duas pessoas, já que praticamente todas as atividades eram em dupla.

Os alunos começavam a chegar e se sentar confortavelmente nas cadeiras.

--Bom dia, alunos! Bem-vindos de volta! -- diz o professor, quando adentra na sala de aula. Todos soltaram um resmungo de reprovação. -- bem, seria bom pra vocês se eu dissesse que não começaríamos um trabalho de biologia no segundo dia de aula, porém seria uma mentira.

Os alunos soltarão um "há não!" em coro, fazendo o professor balançar os ombros, indiferente a reação das pessoas ali presentes.

--Vou escolher as duplas! E, atenção, não quero ninguém trocando de parceiros, sorrateiramente! Caso contrário, será mandado, imediatamente, para a sala do diretor.

Soltei um suspiro, apenas esperando o meu nome ser dito, e minha dupla escolhida.

--Reggie Mantle com Fangs, Cheryl Blossom e Veronica Lodge. -- ao ouvir esses nomes, fiquei com um tanto de raiva, por até o professor bajular as mais populares. Por tanto, ainda não tinha ouvido ele mencionar a abelha rainha. -- Charles Connor com Maya Cott, Jughead Jones com Elizabeth Cooper.

Me paralisei, nem prestei atenção no que ele dizia. O único som que eu ouvia era seu salto martelando no chão e a corrente dourada da alça de sua bolsa Prada, negra, enquanto vinha até minha carteira.

Me ajeitei na cadeira, nervosamente, enquanto sentia o olhar de Cooper queimar em mim.

--Posso me sentar? -- ela pergunta, finalmente.

--Ho! Claro! -- digo levantando meus olhos, do livro, para os fios loiros que balançavam constantemente, enquanto a garota procurava se ajeitar na cadeira ao meu lado.

Sua proximidade estava me deixando relativamente nervoso. Passei os dedos por entre meus fios negros, em uma clara e inconsciente representação ao meu nervosismo.

A garota apenas se virou para o lado, a procura de suas amigas, e quando seus olhos se esbarraram, elas começaram a falar em leitura labial.

Fiquei um tanto irritado com isso, pois percebi que teria que fazer o trabalho todo sozinho. Mas acho que nem deveria ter me incomodado tanto , pois desde que ouvi seu nome, sabia que teria que trabalhar praticamente sozinho.

Após o sinal bater, a (como eu chamo) New Elizabeth Queen se virou para mim e sorriu falsamente.

--Na minha casa, as oito e meia, não se atrase, ainda temos que terminar o trabalho!

Bufei e ri debochadamente, porém internamente. Ainda temo"s" que fazer o trabalho?! Eu tenho que fazer o trabalho! Ela, provavelmente, não fará nada.

A garota saiu da sala apressadamente, junto com Blossom e Lodge, me deixando sozinho, apenas com alguns poucos alunos que ainda sobravam na sala.

Joguei a mochila nas costas e enfiei uma mordida do meu sanduíche na boca.

Fiquei nos fundos da biblioteca, passando o olho nas linhas, mas sem realmente juntar as palavras, minha cabeça girava em pensamentos relacionados a Elizabeth.

Bom, acho que qualquer garoto normal ficaria extremamente nervoso e pensativo sobre ela, se tivesse que ir até a casa da mesma, mais tarde. E, apesar de não ser normal, eu estava daquela forma.

Acabei por largar o livro e voltar para sala, já que a minha atenção na paginas que eu virava, era zero.

Depois de, finalmente, sair daquele inferno, que chamamos de escola, voltei a passos rápidos para casa.

Encostei a porta e dei de cara com meu pai.

Um arrepio percorreu minha nuca.

Meu pai havia ficado extremamente agressivo, após a morte de minha mãe, aos meus doze anos. Primeiro ele ficou triste e depressivo, mas depois transformou toda a tristeza em raiva, que era completamente descontada em mim. Ele sempre me dirigia ofensas, mas principalmente socos e espancamentos.

Eu odiava ter sua presença em qualquer momento, apesar de, mesmo com tudo o que ele fazia, desejava que ele voltasse a ser feliz.

Meu pai, cerrou os punhos e me encarou fixamente, após de alguns segundos, ele sorriu levemente e socou meu rosto.

Cambaleei para trás e toquei meu nariz sentindo a quentura do sangue que escoria em uma linha fina, no meu nariz.

O homem dirigiu mais outro soco, ao meu rosto. Dessa vez, me fazendo cair no chão, pelo impacto de sua mão com minha face. Agora o inconfundível gosto de ferrugem tomava os meus lábios e o interior de minha boca.

Ele se agachou um pouco e me socou, novamente. Me fazendo ficar ainda mais tonto e dolorido.

Então, se levantou, glorioso, e chutou meu abdômen, me fazendo gemer de angustia, e fazendo com que eu me encolhesse no chão, pela dor.

Fp chutou minhas costas, duas fezes. Fazendo com que eu ficasse paralisado com a quantidade de socos que me foram dirigidos. Uma lágrima escorreu, quente e desesperada pela minha bochecha, logo depois se juntando com linha de sangue.

Eu estava com medo.

Eu estava triste.

Eu estava desesperado.

Eu estava desesperado por amor.

Por alguém que realmente me amasse.

Alguém como minha mãe.

Mas ela foi embora.

E eu estava indo embora, aos poucos.

Meu pai se agachou e me socou umas duas ou três vezes, me fazendo ficar inconsciente.

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