Castigo

Provocações

Os olhares desejosos cruzavam-se o tempo todo durante as aulas. 

Encaravam-se os dois garotos, tentando ser discretos. Aquele segredo precisava manter-se às escondidas a todo custo. Ambos concordaram com o sigilo da situação, preocupados com as reputações caso aquilo fosse a público.

A aula se estendia preguiçosamente, com apenas os inteligentes interessados. O professor de história atrapalhado ajeitava os óculos, perdido em seus livros e dizeres.

Para que saber do passado, sendo que podemos aproveitar o agora? Questionava-se Namjoon, que chocava repetidamente as unhas curtas no tampo da carteira. Viver. Era apenas isso que o interessava; não via graça em nascer, crescer, estudar, trabalhar e morrer sem se divertir. De que adiantava ser o melhor aluno de toda a escola, sendo que não sentia-se satisfeito?

Passara tanto tempo desperdiçando sua vida que, no ensino médio, decidiu ser quem nunca foi; ou melhor, quem tinha vontade de ser. E passou do nerd de óculos grandes e arredondados, ao mais atraente, rebelde e atrevido aluno de todo o colégio. Em poucos meses, tornou-se o pesadelo da diretoria.

Aproveitou-se da ocupação dos pais para descolorir o cabelo, colocar seus desejados piercings e fazer tatuagens secretas. Nada daquilo era permitido em seu colégio. Ele era diferente. Escapava das regras, era espontâneo. E por isso, sempre levava punições.

Porém, na metade do ano, começou a perceber que não estava sozinho. Quem sempre limpava as salas era o estranhamente "incorreto", mas radiante, capitão do time de basquete. Poderia ele passar de de alegre a louco em poucos segundos.

Jung Hoseok.

Era ele. A única pessoa ao qual não se importava com críticas, chegava sempre atrasado, e certas vezes até machucado. O único ao qual Namjoon se interessava. O sentimento de não estar sozinho e recluso, de não estar solo, o excitava e finalmente conseguira chamar atenção do moreno.

Quando sentiria novamente seu gosto? Perguntava-se, pela primeira vez sentindo-se ansioso pela punição escolar. Iria finalmente redescobrir o sabor de algo tão ansiado por si.

— Preciso para que na próxima aula, leiam o capítulo dez — disse o homem mais velho da sala, juntando suas coisas ao escutar o sinal do intervalo.

Toda a classe se levantou, acompanhando o professor pela porta. Aquela prisão era cansativa demais para ficar dentro dela até nas horas vagas. Olharam-se mais uma vez, quase como se precisassem de confirmações para se falar. Com um impulso na carteira, o capitão do time de basquete levantou-se, convicto ao se dirigir para o corredor.

— Aonde pensam que vão!? — questionou o presidente do grêmio, colocando seu corpo perante a saída. — Já disse milhares de vezes que não podem se comportar assim!

— Qual o problema dessa vez, Jeon? — questionou Hoseok olhando pra baixo, com uma careta. — Estou imaginando que sua birra seja conosco, não com nossas vestimentas. — Ergueu uma sobrancelha.

— O casaco do uniforme tem de ser abotoado até a penúltima casa, não são permitidos brincos nem tatuagens, e...

— "Também não pode descolorir o cabelo" — completou Namjoon. — Eu já decorei seu discurso, Kookie... — sorriu canteiro, provocativo.

— Então trate de pintá-lo! E já mandei parar de me chamar assim, não sou criança! — disse irritado, puxando a manga do grisalho, chegando mais perto de seu pescoço para abotoar o casaco de forma correta.

— Me larga, mauricinho! — Kim o empurrou, ao qual Jeon chocou as costas na parede, ecoando um baixo afago.

— Eu posso fazer vocês ficarem suspensos por 1 mês! Posso fazer seus históricos escolares se mancharem!