Fetus in Fetu - Willian Garcia

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Nyth estava desesperada enquanto seu irmão a puxava pelo braço, eles corriam pelas vielas e a todo momento Lyth olhava para todos os becos que iam passando com medo que saísse algo deles, serpenteavam ruelas escuras naquele vilarejo escuro e desconhecido.

Lyth não parava, sua irmã gêmea, Nyth, tentava não ser um peso morto, mas ela sempre saia de arrasto. Enfim viraram numa rua e se esconderam atrás de caixas de madeiras. Lyth segurou o rosto da irmã, ele estava acabado, cicatrizes e feridas abertas por todo o corpo, havia mais sangue ali do que se podia imaginar. A única coisa que superava aquela cena era o seu completo desespero.

Eles só tinham quinze anos. Perdidos e sozinhos. Nyth usava um vestido de noiva, uma cena incomum, ela tremia enquanto olhava para o vestido com bordas peroladas.

- Nyth... por favor, me diga que você não deixou ele colocar a aliança! – Lyth falou a fitando.

- Eu... Eu não sei... O que era aquilo? O que aconteceu? Por que estou vestida de noiva?

- Você esteve desaparecida por dois meses!

- Não... não, não... Eu conheci um garoto... ele me levou a um lugar... se chamava Luci, ele era nosso vizinho...

- Escute, Nyth, o Luci morreu a muito tempo, a casa ao lado da nossa... ninguém mais vai lá. Luci está morto.

Nyth chorava e tremia, ela não sabia onde estava e porque estava vestida de noiva, lembrava-se do irmão, mais nada além disso. O que ela sabia era que estava prestes a se casar com um rapaz chamado Luci, numa igreja de madeira no meio de uma clareira que ficava num bosque de árvores negras quase sem vida.

- Eu quero sair daqui... Eu quero ir pra casa, por favor. – Nyth disse aos prantos.

- Primeiro me dê sua mão, preciso vê-la. - Nyth estendeu sua mão e ela percebeu a desesperança estampada no rosto de seu irmão, um suspiro longo e pesado. – Não, isso é mal, muito mal... Você está impregnada, de magia negra.

Lyth a abraçou quando Nyth desabou em choro, em seu dedo anelar a marca queimava. Um som estranho reverberou pela ruela. O som de um animal grande e rastejante, uma espécie de bramido e uivo. Algo estava ali na mesma ruela que os gêmeos Nyth e Lyth. O som virou gritos, a aparência disforme se tornou humanoide.

- Presta atenção, Nyth, corra... Me deixe e não olhe para trás.

- Não... não, não, não... não faz isso, irmão...

- Não confie em ninguém, não peça ajuda a ninguém. Se você for pega, você morre.

Então ela correu, desesperada na escuridão ela ouviu gritos ensurdecedores, os primeiros vieram da criatura medonha, os que vieram em seguida cortaram seu ouvido fazendo suas pernas fraquejarem e seu estômago arder. Os gritos de seu irmão, gritos de dor e desespero mesclavam com os bramidos do ser espectral.

Seus olhos cegaram sua alma, pela culpa que carregava, seu segundo irmão gêmeo morto e a culpada era novamente ela. Nyth só se deu conta que sairá daquele labirinto quando se deparou com uma praça com árvores de cores vividas no meio daquele vilarejo. Haviam lanternas de querosene espalhadas pela praça. Muitas pessoas dançavam descontraídas e com sorrisos nos rostos, um grupo de quatro homens tocava uma música alegre e contagiante com suas gaitas de fole, violino e tambores.

Nyth parou abruptamente no meio de uma das ruas mau iluminadas, havia tanta gente ali, ninguém ali estava preocupado com o que acontecia nas sombras do vilarejo, ela pensou, talvez nem fizessem ideia do perigo que rondava aquele vilarejo, nas ruelas que levavam pra fora dali, ao bosque sombrio.

Ela olhou para trás de onde veio e pressentiu um pavor imensurável, todas aquelas pessoas corriam perigo. Então Nyth correu para praça aos tropeços, seu corpo já estava sujo, seus ouvidos sangrando e sua mão tremendo. Desesperada, Nyth tropeçou aos pés de uma moça lhe implorando ajuda.

Nesse momento toda a praça silenciou-se, as pessoas a olhavam com repúdio. A moça em que Nyth esbarrou se agachou e tocou em seu rosto.

- O que está fazendo aqui, minha pequena flor? – perguntou a moça.

- Algo... no bosque... tem alguma coisa atrás de mim... matou meu irmão. – Nyth falava se abraçando na moça – Precisam sair daqui ou...

A moça desferiu um tapa em seu rosto e a agarrou pelo cabelo.

- Era pra você estar sendo comida pelos vermes, sua estúpida herege. O que está fazendo aqui?

Nyth jogada ao chão lembrou das palavras de seu irmão, não peça ajuda a ninguém. Homens, mulheres e crianças começaram a cuspir em Nyth.

- Chame o Bradador, agora! – uma voz gritou na multidão.

- Chame a criatura, pra que ela deixe nossa vila em paz.

Os músicos começaram tocar os instrumentos de forma melancólica e sombria. O som foi se tornando mais turbulento, num ritmo desenfreado.

À moça a levantou pelos cabelos e a arrastou para uma parte da floresta, gritos em protesto mesclavam com a música sombria, mas um som se sobrepôs, um grito gutural que mais parecia um ser em lamentação. As flores das árvores apodreceram e caíram das árvores, elas se amontoaram e começaram a tomar forma humanoide.

A música ficou mais forte, um corpo se formou diante dos olhos de Nyth.

- Tomarei você pra mim, a sétima mulher carregando o nome Maria. – uma voz arrenda saiu do corpo formado pelas flores podres.

Nyth lembrou-se de Luci, o garoto que morreu depois de ter descobrir o a verdade sobre Nyth, queimado vivo.

Fetus in Fetu. Dentro de Nyth havia algo, seus pais sabiam, aquela coisa dentro de Nyth foi chamada de Maria, um gêmeo parasita. Luci tentou tirar isso de Nyth, mas no final das contas ele sempre foi um meio para o fim.

Maratona de Escrita - FériasWhere stories live. Discover now