1 | A noiva adornada •

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"Que me grude a língua ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti e não considerar Jerusalém a minha maior alegria!"
‭‭Salmos‬ ‭137:6‬ ‭

  Nasci.
  Cresci.
  Viverei?
  Era tudo o que ela pensava naquele momento, sozinha.
Quando pequena foi lançada ao campo para morrer, se quer tiraram o cordão de teu umbigo; não a lavaram com água, nem a envolveram em faixas. Foi lançada ao campo por nojo de tua alma no dia em que nasceu. A encontraram, por pura pena cuidaram de ti mas não se via compaixão alguma. Era uma "coitada", sozinha e pequena. Não se compadeceu dela olho algum. Cresceu e alcançou formosura. E mesmo agora estando crescida ninguém a quer sequer em sua porta, vive por aí pedindo auxílio e socorro. Torcendo para que naquele dia alguém a ajude.

  Vive como peregrina, de terra em terra. De cidade em cidade. Rejeitada por todos os lugares, por todos os povos.

— Não há ninguém que me acolha? — Gritava pelas ruas daquele novo reino em busca de socorro, mas ninguém se compadecia dela. Ninguém a olhava — Sinto sede e fome, frio e medo...

  Quem se compadeceria dela? Suja e cheia de feridas? Mas ela precisava de ajuda e não pararia de clamar até que alguém a ajudasse.

  Passaram-se noites, sobrevivia por conta própria. Se machucava constantemente, não aprendia com os próprios erros. Suas feridas tinham cheiro de culpa, seu rosto demonstrava desprezo. Ninguém a amava.

  Até que um dia Ele a encontrou, a olhou com bons olhos. Primeira vez que sentira isso... carinho. O que Ele queria dela? Até hoje só conhecia o desprezo e a culpa. Quem era este homem que decidiu olhar para ela? Que ao invés de jogar o pão para ela resolveu se aproximar? Nunca vivera isso em sua vida.

—Eu posso te ajudar —Aproximou-se dela, que se afastou levemente com medo. Ninguém nunca a olhara daquele modo. Era empatia. Era compaixão. Vinha calmamente com uma caixa nas mãos e em seus olhos preocupação — Não tenhas medo, vim com óleo e ataduras. Trouxe também água. Vim sarar suas feridas.

  Ajoelhou-se perante a moça analisando seus machucados, preocupado pediu para que sentasse e voltou a analisar suas feridas. Eram grandes feridas, aparentemente incuráveis. Ela nunca as cuidou, sequer alguém a ajudou com suas dores. E como doíam e dificultavam a caminhada.

— Nāo há necessidade disso. Vejo que És importante nesta terra, não gaste seu precioso tempo comigo — Dizia enquanto Ele, pacientemente, lavava suas feridas com água, limpava-as com azeite e as atava, com todo cuidado possível. Todos o olhavam com bons olhos, via-se respeito perante Ele. Não se importava com os olhares, Ele estava ali por ela.

  Então Ele parou, a olhou com seus olhos serenos cheios de amor e compaixão. Era visível sua humildade e seu bondoso coração. Não a conhecia, mas a amava. Preocupação nunca presenciada por ela antes, pois nem sua própria mãe a amou assim.

—Me compadeci de ti, te escolhi e tratarei de suas feridas. Serás minha se assim quiseres. — Então voltou a tratar de suas feridas com mais amor a cada instante. Naquele momento as feridas não doíam mais, a cada novo enxágue eram tratadas. Agora poderia andar sem dor e sem culpa.

  Ela não sabia o que ele tinha visto nela, mas sua compaixão era transbordante, enchia seu coração de alegria e pela primeira vez não se sentiu abandonada. Pela primeira vez sentiu carinho.

A Noiva | Ezequiel 16 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now