2 | Confiaste em tua beleza •

207 31 6
                                    

"Mas confiaste na tua formosura, e te corrompeste por causa da tua fama..."
Ezequiel 16:15a

—Esta é minha noiva, amada minha. — Dizia o Rei ao povo, enquanto andava pelo reino — Toda formosa és, amada minha. Em ti não há mancha, em ti não há defeito algum. — Desta vez dito olhando para ela. Todos concordavam com o Rei. Ela era formosa como nenhuma outra. Tua beleza era perfeita, pois foi criada por Ele.

— Linda és pois o Rei assim a fez. Linda és pois transmites a glória dEle. — Falavam os povos por onde ela passava.

Agora era notada. As portas não se fechavam mais em sua presença, os olhos não fugiam de sua imagem, os povos não se escondiam de ti. Agora todos a acolhiam quando fosse necessário, agora ela era vista.

— Sábias são suas palavras, pois transmites mensagens do Rei — Continuavam os povos a declarar.

Agora sua voz era ouvida. Com toda a certeza, se pedisse socorro logo viriam socorrê-la, se chamasse por ajuda logo apareceriam pessoas para ajudá-la. Agora era ouvida, agora era notada. Ela era a noiva do Rei e seu nome era proclamado por toda a terra. As nações a conhecia por intermédio de sua beleza e tinham a certeza de que ela era bela aos olhos do Rei, pois fazia questão de mostrar para todos o quão bela era sua amada.

— Bela és, Jerusalém!

Então confiou em sua beleza. Esqueceu de que sua formosura era obra do Rei, ele quem a tornara tão bela. Ela confiou na própria beleza, confiou no próprio coração. Esqueceu que um dia fora rejeitada e agora, por causa do Rei, era vista por todos. Era o Rei quem a tornava tão linda, era a presença do Rei quem a enchia de formosura. Ela estava vestida do ouro e da prata que o Rei lhe dera, usava o vestido de linho e seda que ganhou do Rei, seu cheiro era doce pois usava os perfumes que o Rei lhe presenteou. Sua formosura era composta pelo Rei. Mas, ela era bela.

Pensando então não necessitar da presença do Rei começou a andar sozinha. Confiou em sua beleza e saiu. Trajava as vestes que o Rei lhe dera, usava as jóias e o perfume do Rei. Mas mesmo assim saiu. Pensando então não necessitar do Rei, usou de suas próprias forças e caminhou pelas ruas daquela terra, todos a olhavam. Onde estava o Rei?

Até que um dia se entregou ao primeiro que viu na rua. Se entregou aos deuses dele e assim continuou. Se corrompeu, a noiva se corrompeu. Esqueceu dos ensinamentos que o Rei lhe fizera.

— Este é o Deus, este é o Senhor e somente a Ele adoramos. Pois Ele é o dono destas terras, Ele comanda este povo, mesmo havendo homens contrários aos seus ensinamentos. — Foi o que o Rei lhe ensinou. E assim seguiu enquanto andava com ele.

Agora que andava com os de fora, vivia como os de fora. Montava altares para os deuses deles e como eles os adoravam, assim fazia. Seguiu os costumes de fora, era como eles.

— Não podes comer deste alimento. — Foi o ensinamento do Rei. Mas agora não estava com Ele.

Em diversos momentos se esqueceu do alimento puro do palácio, aquele que lhe dava força e vigor. Aquele que lhe corava a pele e a deixava mais bonita. Aquele que lhe dava forças para caminhar para terras distantes ao lado do Rei. Aquele que realmente matava sua fome quando a sentia, pois com o alimento que agora recebe nunca se fartará. Fraco, impuro, sem as propriedades das quais precisava. Seu corpo sentia falta, mas assim como fez com o Rei, ela rejeitou o próprio corpo. Preferia estar ali, como todos, se alimentando do que chegasse à sua mesa. Não analisava, apenas comia. E quão pobre era aquele pão, amarrotado e sem forma, feito por mãos de quem não sabia como o fazer. Como aceitava aquele alimento? Como podia não perceber que aquilo não saciaria sua fome? Percebia, mas fechar os olhos e comer era mais fácil, pois sua beleza era o que lhe importava.

A Noiva | Ezequiel 16 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now