Extra: O Homem Dos Olhos Azuis

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Nesse mundo gigantesco, onde nada é real, pessoas são como faróis. Cada uma delas brilha, todas chamam atenção, todas possuem suas próprias histórias, suas próprias guerras e suas ruínas. Não existe o bem e o mal, não exitem pessoas boas, no entanto, há pessoas gentis. Não perambulam pelos esgotos homens de preto com rostos carrancudos, mas há quem diga que o ódio é real. Palpável, cru e amargo, serpenteando por cada mísero vaso sanguíneo das criaturas inocentes, as cegando. Uma doença contagiosa que se espalha em uma epidemia de dor e sofrimento. Havia aqueles que lidavam bem com isso, outros nem tanto.

A cada ano que se passava, Steve provava mais do seu lado sombrio. Todos tem um, aliás; ele não era diferente. Sua gentileza era gigantesca, seu altruísmo o cegava e seu cuidado com a vida era intenso, mas isso nem de longe ocultava aquela pequena parte do seu coração enorme. Aquele pontinho preto, quase inexistente, que de de uma hora para outra passou a crescer, e conforme se expandia, exalava aquele cheiro pútrido e sufocante do ódio, da dor e, sobretudo, do cansaço. A verdade é que Steve Rogers estava cansado.

Coisas que um homem nunca deveria ter visto na vida, Steve viu antes dos trinta. Acordar em um mundo completamente diferente do que viu antes de apagar não era tão glorioso quanto parecia. Não foi nada legal descobrir que setenta anos tinham se passado enquanto dormia, que a guerra terminou e eles ganharam — Steve ainda hoje reflete sobre essa afirmação. Eles ganharam a guerra, mas o que foi preciso perder? Como um soldado, ele sabia bem o que era viver em conflitos, e ganhar, no fim, não era nada — e que, pelas suas contas, estaria comemorando seus vinte e sete anos no ano em que "morreu", mas quando acordou já tinha noventa e poucos. Bucky estava morto, Peggy também. Todos aqueles que conhecia e estimava estavam sob sete palmos de terra, ou velhos demais para reconhecê-lo. E doía tanto.

Steve não teve a sorte de viver. De, hipoteticamente, vencer a guerra e voltar para a sua casinha minúscula numa das inúmeras ruas outonais do Brooklyn; quem sabe até levar a Carter para dançar, talvez casar. Ter um filho ou dois, alguém para abraçá-lo quando seus demônios voltassem à sua mente para atormentá-lo e tirar seu sono. Talvez nem desse em nada, Peggy poderia ser uma grande amiga, que o visitaria nos sábados quentes de Junho.

Bucky talvez pudesse ser o seu porto seguro, se estivesse vivo. Quem sabe não seria seus braços quentes envolvendo um Steve banhado naquela bagunça salobra de suor e lágrimas. Assim, Steve seria um homem realmente velho, e não choraria todas as noites. 

Steve não queria viver em um mundo sem James Buchanan Barnes.

No fim, acabou vivendo. Mesmo sem vontade, sem estímulo. Fez novos amigos, descobriu pessoas confiáveis, conheceu deuses... Redescobriu o mundo com novos olhares. Tomou sorvete de morango, assitiu jogos de beisebol naquela engenhoca dos infernos — como era o nome mesmo? Televisão? Televisor? TV? — , desenhou as novas paisagens de Nova York e comeu sushi. Aliás, sushi era algo exótico demais para o seu paladar antiquado. É que, na sua época, eles ferviam tudo. Comer algo cru ainda lhe era estranho, mas ele podia se acostumar. E o que dizer da Internet? Incrível. Poderia ver qualquer coisa e conversar com quem quisesse a qualquer momento, e quando se diz qualquer coisa, é qualquer coisa mesmo. Steve se sentia envergonhado só de lembrar dos links que Stark havia lhe enviado há alguns meses. Se divirta, ele disse, e as coisas que ele viu naquele site nunca mais poderiam ser desvistas. Pesquisou mais, visitou museus assistiu palestras e documentários sobre temas diversos... Tudo isso para ocupar sua mente quando não tinha nenhuma ameaça alienígena ou "terrorista" — Steve descobriu que, surpreendentemente, nem tudo que o governo dizia que era verdade, realmente era; acontece que, para um país que queria ser exemplo, era importante ter uma ameaça para combater. E algumas vezes, o alvo não era realmente uma ameaça, mas sim alguém lutando para proteger o que é seu — querendo destruir uma cidade enfadonha em qualquer lugar, quem sabe o mundo todo. Acontecia de vez enquando, nada anormal.

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⏰ Última actualización: Jun 20, 2020 ⏰

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