Capítulo 1 - A saída

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- Sabes, eu gostava de ser como tu. - Disse eu a Nicole .

- Só não és, porque não fazes nada para isso. - Respondeu ela calmamente virando a página da revista que estava a ler.

Era uma sábado e eu fiquei a dormir em casa da Nicole, fazíamos isso desde os nossos 8 anos. Nicole era a minha melhor amiga desde aquela idade. Ela tinha acabado de mudar de escola e acabou por se sentar ao meu lado. Ela era muito social desde daquela altura, mas eu era mais fechada, por isso não queria muito fazer conversa com ela. Na hora de almoço ela e o seu irmão Theo acabaram por se juntar a mim no refeitório e, por alguma razão que eu desconheço, ela gostou imenso de mim e nunca deixamos de nos falar desde então.

Tinham-se passado 10 anos desde aí e, era óbvio que, eu gostaria de ser mais como ela, mais social, menos estranha e em geral mais simples de lidar. Nunca senti inveja dela, mas sempre senti que ela puxava-me para eu ser melhor e mais aberta. Se calhar era isso que eu gostava mais nela. Hoje, o sentimento de querer ser mais livre e aberta apertou-me mais, daí ter desabafado com ela.

- Eu tenho 18 anos e sinto-me como se fosse ainda uma miúda que não sabe o que fazer com a vida e tenho medo de tudo. Tu, por outro lado, parece sempre que sabes o que fazer. - Suspirei eu.

- Payson... - Ela olhou finalmente para mim com os seus olhos castanhos. - Tu não tens que ser igual à mim para te sentires melhor. Tens que ser aquilo que queres.

- Eu sei, tens razão! Mas não sei... hoje apetece-me fazer algo "à Nicole", sabes?

Ela riu-se e levantou-se da cama.

- Nesse caso, sendo um sábado à noite, que tal uma saída? - Sugeriu ela. - Seria totalmente uma coisa "à Nicole". E sendo eu a Nicole, também escolho a tua roupa!

A verdade é que eu não gostava de sair, preferia ficar em casa e ver um filme do que ir a um bar ou discoteca para ouvir uma música aos altos berros. A Nicole era uma rapariga de sair muito. Era óbvio que ela tinha mais amigos que eu e desde os seus 15 anos, quase todos os sábados era o dia de saída dela. Eu também já a tinha acompanhado várias vezes nas suas aventuras, mas aquilo tirava-me muita energia e eu precisava de algum tempo de repouso emocional e físico depois disso. E ela também me acompanhava na "aventura" de ficar em casa, como foi o caso de hoje.

- Tens a certeza absoluta que não vais embirrar comigo daqui 10 minutos que queres voltar para a casa, como sempre o fazes? - Perguntou a Nicole colocando as mãos na cintura.

- Acho que não. - Disse eu, depois acrescentei baixinho. - Mas não prometo nada.

Ela desapareceu no seu armário, mas ouviu-se a sua voz lá de dentro.

- Eu ouvi isso, Pay!

Eu só me ri, porque realmente eu não sabia se não me ia dar vontade de voltar demasiado rápido. Dependia muito do ambiente que íamos apanhar. Mas tive uma vontade estranha de sair de casa e fazer algo diferente.

A Nicole voltou a aparecer do seu armário tinha uma minissaia de ganga e um top preto.

- Não. - Sorri ironicamente para ela. - Nem penses que vou vestir isso!

- Porque não? Ficava-te bem! Podes calçar umas botas, para te sentires mais à vontade. E eu dou-te umas collants pretas. O que achas? E um casaco de cabedal, podes usar o teu.

Acabei por concordar com ela, porque realmente o que ela tinha sugerido ficava-me bem. E sim, com umas collants e casaco sentia-me mais à vontade. Eu gostava de calças e de camisas simples, as vezes usava t-shirts, e se me sentia confiante o suficiente, era capaz de colocar um vestido.

A Nicole acabou por escolheu um vestido vermelho justo que assentava perfeitamente na sua figura e salientava a sua pele morena. Eu sempre a vi como uma rapariga muito bonita e à medida que ela foi envelhecendo e aprendendo maquilhar-se e vestir-se bem, tornou-se ainda mais bonita. Era óbvio que eu ao lado dela sentia-me um pouco insegura, mas ela sempre me motivou a gostar de mim tal como sou e não me comparar com ela. Mas nos momentos como agora, era difícil.

Nicole apanhou os seus sapatos pretos de salto alto, calçou-os e vestiu um casaco preto. Ambas olhamos ao espelho e percebi que estávamos realmente giras e que eu não ficava tão atrás na beleza da amiga. Ambas éramos morenas de cabelo escuro. Mas ela tinha olhos castanhos enquanto os meus eram verdes. As nossas feições, obviamente eram diferentes mas tínhamos a mesma confiança nas nossas caras.

- Adivinha quem vai dominar hoje na pista de dança? - Sorriu a Nicole no espelho para mim. - Amiga, eu diria que estamos super giras. Pronta para ir? Estava a pensar em pedir ao Theo para nos levar.

- Achas que ele não se importa? Ele anda super ocupado com a faculdade. - Comentei eu. - Se calhar, pedíamos um Uber ou assim.

- Continuo a achar que andas a evitar o meu irmão. E antes que digas não, ele também te anda a evitar. E honestamente, não estou a gostar da vossa dinâmica! Além do mais, estou a poupar dinheiro. Por isso, a não ser que queiras ser tu a pagar o Uber, a nossa única opção é o meu irmão.

Eu não disse nada, porque sabia que mais valia estar calada, era muito evidente que nós tentávamos evitar um a outro.

A Nicole convenceu o Theo dar-nos boleia até a discoteca Lorette e mal chegamos, ela saiu demasiado rápido do carro deixando-me sozinha com Theo. Eu estava no banco de trás a tentar desapertar o sinto, mas por alguma razão este não estava a ceder. Theo olhou para o espelho traseiro e encontrou-me com os seus olhos.

- Queria te só pedir para tomares a conta da Nicole. Podes me ligar quando quiseres, ainda tens o meu número, certo?

Finalmente o cinto cedeu e eu consegui desprender-me. Suspirei e disse:

- Eu tomo. Podes contar comigo. Se for preciso eu ligo.

- Obrigado. Ah, e já agora. - Eu ia sair do carro, mas depois olhei para ele. - Essa saia fica-te bem. - Ele sorriu para mim de uma forma triste e eu saí finalmente do carro, fechando a porta com alguma força.

Theo era um rapaz bastante bonito e bem feito, alto e bem estruturado para uma pessoa normal. Ele tinha cabelo castanho claro curto e, tal como eu, olhos verdes. Ele era provavelmente o rapaz mais bonito que conhecia e pelo qual estava totalmente apaixonada desde os meus 8 anos.

Uma relação com um rapaz é mais complicada do que com uma rapariga, ainda por cima se esse rapaz é o irmão da tua melhor amiga. É fácil fazer parte das raparigas que se apaixonam pelo irmão mais velho das melhores amigas, e infelizmente, eu fazia parte desse grupo tão famoso. Fui ter com a Nicole que estava quase a entrar dentro do edifício, que parecia uma fabrica abandonada.

- Vamos lá! - Puxou-me ela para dentro.

[RESCREVENDO] Lembra-te dos sonhosWhere stories live. Discover now