Capítulo 3 - O desconhecido

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- Cerveja, por favor. - Ouvi um rapaz a pedir ao meu lado.

Vi pelo canto do meu olho que pegou no copo e encostou-se ao balcão ao meu lado. Reparei que ele estava a olhar para o mesmo par que eu.

- Estás a ver aquele ali com a rapariga de vermelho? – Perguntou o rapaz, só passados alguns momentos, é que me percebi que ele se dirigia a mim.

- Sim. A de vermelho é minha amiga. - Não tinha coragem suficiente para olhar diretamente para o rapaz.

- Eu vi-vos a dançar. O rapaz é o meu amigo. – Disse ele num tom cansado. – Vai soar estranho, mas pensei que quisesses companhia de alguém que te percebe. Sou o Dave. - Ele esticou o braço com a mão aberta e eu apertei-a respondendo:

- Payson. - Olhei para ele.

Tive que conter um suspiro, o rapaz a minha frente era demasiado bonito para ser real. Ele podia perfeitamente competir com o Theo. Era alto, talvez um metro e noventa centímetros, moreno, com cabelo preto curto. Tinha uma cara bastante proporcional e não parecia ter mais de 20 anos de idade.

- Prazer. - Sorriu ele.

Só aí percebi que ainda tinha a minha mão agarrada a dele. Rapidamente soltei-o e voltei a beber a minha água.

- O que queres dizer alguém que me percebe? - Perguntei eu curiosa.

- Alguém que veio arrastado para meio da discoteca por um amigo.

- Na realidade, fui eu que convenci a minha amiga sair de casa. - Se não fosse o álcool que eu bebi antes, duvido que teria a coragem para falar com este perfeito desconhecido. - Decidi que hoje era a minha noite maluca, mas até agora parece que é só dela.

Voltei a olhar para a amiga que estava demasiado próxima do rapaz a dançar. Invejei-a por ela conseguir ser tão solta, livre e confiante. Tal como tinha dito antes, gostaria de ser mais como ela. Suspirei por perceber que simplesmente não tenho personalidade para isso.

- Não pareces muito solta como a tua amiga. - Reparou o Dave.

- E não sou, mas hoje decidi tentar. Mas tens razão, ainda não tive muito sucesso.

- Posso te oferecer uma bebida, então? - Ele sorriu para mim e eu não conseguia acreditar que alguém como ele poderia verdadeiramente estar interessado em mim. Mas tal como a Nicole disse, eu não estou aqui para arranjar uma relação, mas sim alguém para me distrair e esquecer o Theo.

- Aceito uma bebida, muita obrigada. Então, conta-me lá mais sobre seres obrigado a sair com amigos.

- Basicamente, não são a minha cena. - Observamos o barman a fazer a minha bebida, de seguida coloca-la a minha frente. Eu suguei na palhinha e voltei para o Dave, que prosseguiu a conversa. - O meu amigo insiste que vai encontrar "a tal" aqui. E segundo ele, enquanto procura vai se divertindo. Lógica muito forte, eu sei.

- O teu amigo é muito romântico. – Comentei eu sarcasticamente.

- Se o romantismo fosse como ele acredita que é, este mundo tinha ainda mais bebés! - Brincou ele o que me fez sorrir.

- Então se não gostas de sair, porque vieste?

- Primeiro, porque sou um bom amigo. Segundo, porque também senti mais louco hoje. Se calhar foi tudo um plano do universo para nos conhecermos.

- Diz-me que não acreditas nisso. - Disse eu a rir.

- Não, mas gostei de usar essa desculpa. Queres dançar?

Depois da segunda bebida, senti-me ainda mais solta que acabei por aceitar o pedido do Dave. Quando ele me deu a mão senti uma energia estranha a passar pelo meu corpo e que me queria aproximar mais dele. Ele puxou-me para perto dele e a minha cabeça tocou no peito dele. Ele cheirava a couro e a madeira, e por baixo da t-shirt dele conseguia sentir o músculo a mexer. Apesar da música acelerada, nós mexíamos devagar e totalmente fora do ritmo.

A cara dele estava no meu cabelo e eu estava a gostar demasiado da nossa proximidade. Sentia-me livre e por mais estranho que pareça, sentia-me confiante e no lugar certo. A nossa dança mais parecia uma tentativa de se esfregar um no outro de uma forma menos óbvia. Sentia a sua mão a descer e a subir pelas minhas costas enquanto a outra segurava na minha mão. Senti que ele estava a mexer a cabeça e eu decidi levantar a minha. Os nossos olhares cruzaram-se e só conseguia ver os olhos escuros a olhar para mim e a aproximar-se de mim.

- Olha, eu e o Luke vamos andando. - Quase gritou Nicole ao meu ouvido fazendo-me afastar do Dave e estragando o momento entre nós.

- Bom, se calhar a festa ficava por aqui, meu amigo. – O Dave pegou o Luke pelo braço separando-o da Nicole. - Nós vamos andando, Payson. Foi o prazer conhecer-te. - Ele aproximou-se de mim e deu um beijo na minha cara.

- Meu, eu estou bem. - Ria-se o Luke.

- Não vou discutir isso contigo. - Dave dirigiu-se para a saída e eu deixei de o ver.

- Quando é que conseguiste beber tanto? – Perguntei eu à Nicole. Estive a olhar para ela o tempo todo e ela tinha os olhos de quem bebeu muito mais que eu. Não devia ter me distraído com o Dave.

[RESCREVENDO] Lembra-te dos sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora