capítulo 8

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A água quente do chuveiro escorreu em meu corpo levando embora pelo ralo todo o sangue negro de vários Zs. A adrenalina e euforia foram embora deixando para trás um corpo fraco que mal se mantinha em pé. E assim como meu corpo minha mente estava uma desordem, a realidade desses dias me atingiu e resultou em um choro descontrolado que permanecia guardado por tanto tempo. O ocorrido naquele campo mexeu comigo. Eu havia matado vários zumbis, e tinha gostado, porém depois a lembrança de que eles já foram pessoas normais, amigos de alguém, maridos e esposas, veio a minha mente e fez meus joelhos fraquejarem, não aguentando ficar em pé, me sentei no chão e só deixei a agua rolar. Porém o desejo de matar todos eles, ainda me corroía por dentro. Dava a desculpa para min mesma que tudo foi para proteger Beatriz, mas eu havia gostado, na primeira vez em minha vida, eu não senti medo. Eu era um monstro por gostar de matar?

Depois de muito tempo sai do banho e enxuguei meu corpo, não sabia o que vestir, as minhas roupas estavam encharcadas de sangue. Me enrolei em uma toalha preta e abri a porta esperando encontrar Juliana, porém quem estava lá encostada na parede a frente da porta era Laura. Fui surpreendida por um abraço e o meu choro veio de novo à tona.

— Senti tanto a falta do seu abraço.

— Me perdoa?

— Não tenho o que perdoar, depois de tudo que aconteceu entendo o seu medo.

— Eu não sinto medo de você. Eu sinto é culpa. Eu fui egoísta e só pensei em me salvar. Eu não tinha nada a perder, devia ter sido eu a abrir aquele portão.

— Você não fez nada de errado, estava em choque pela sua mãe, e eu estou aqui, tudo deu certo, de uma maneira louca mais deu certo. E além do mais descobrimos que aquelas aulas de arremesso de faca que você teve com aquele mágico de araque foram úteis afinal. — Laura caiu na gargalhada, a um ano atrás ela se apaixonou por um malabarista de um circo que fazia truques com facas, ele a chamou para fugir. Foi a primeira vez e única que Laura pensou em realmente ter algo sério com alguém, porém ela o pegou no flagrante com outra menina.

Juliana entrou no corredor mancando de sua perna esquerda, em suas mãos algumas peças de roupas, uma calça jeans azul escura, uma camisa branca. Me vesti e pedi para ver Beatriz.

— Ela está no quarto do senhor Dimitri. Ele está contando contos russos as meninas, uma maneira de distrair Clara que está muito abalada com o ataque e a morte de Silvia. — Ao tocar no nome de Silvia, juliana começou a chorar, Laura e abraçou e eu a consolei, aquela pobre senhora enfrentou o primeiro Z invasor para dar tempo de Juliana fugir com as meninas.

Subimos as escadas e adentrei o quarto do senhor que mais cedo se encontrava dormindo, e que agora estava sentado apoiado por vários travesseiros. As meninas estavam sentadas aos seus pés e doutora Estela estava perto da cama em pé com leve sorriso nos lábios. O senhor contava uma história engraçada sobre uma raposa que tentou enrolar um lobo, e mesmo notando minha presença ele terminou a história. Estela olhou para as meninas e disse:

— Hora de dormir garotas.

Assim que Beatriz desceu da cama e me viu, ela apontou para mim e disse:

— Vô da clara essa é minha mãe.

— Olá mãe da Beatriz, sou Dimitri Karkaroff. Infelizmente não posso sair dessa cama por isso se aproxime.

Com pouco de receio e sobre o olhar da doutora, me direcionei a cama e Dimitri fez sinal para que eu chegasse mais perto.

— Você e um espécime impressionante, — ele tocou meu rosto o que me deixou desconfortável, porém seus olhos eram amáveis o que não fez eu impedir seu toque — seu olho direito, essa coloração, magnífica. Gostaria muito de conversar com você.

Cidadã ZOnde histórias criam vida. Descubra agora