Parte 3

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De manhã cedo as portas foram abertas, as janelas limpas, e todo o resto que escapava dos meus olhos, permanecera igual. O que era visto e necessário foi arrumado e posto no lugar: se enfatizava a nossa casa; o nosso lar foi organizado um pouco depois dos primeiros raios de sol. Na sala que haviam aqueles bonitos azulejos, havia também em duas paredes, três grandes janelas de madeira, que por sua vez era clara que iluminava junto a luz, o cômodo. A sala tinha sua essência natural; dentro, sentada no sofá, retirando livros da caixa, pude notar como era a vida ali: passiva; escutar barulhos de carro ou da cidade estressada ficaria para depois, ou talvez nunca, silêncio nos arrodeava da ponta dos pés a cabeça, é tanto que naquela hora da manhã, o único ser vivo -além da formigas no quintal- que caminhava pela casa era eu, papai e a Su dormiam, sentindo o frio da estação antiga ser retirado -lentamente- pelo calor novo.

Na noite passada assim como nas outras que iriam se seguir, fui eu a primeira a fechar os olhos e descansar. Minha irmã como era de seu costume falar mais do que podia, provavelmente manteve nosso pai acordado com alguma de suas conversas. Ela fez questão de acabar o que começara: a organização de suas roupas. Todas foram devidamente guardadas. A Yasu era muita coisa, contudo não era uma bagunceira nata, odiava responsabilidade, mas ao mesmo tempo promovia a limpeza e arrumação quando fosse preciso. Ela mesma tomava a iniciativa. Foi ensinada assim. A admirava por isso. Por vezes invejei sua paciência para pintura e atividades que requeriam tempo; o que Su mais gostava de fazer era gastar tempo! Por isso se ocupava mais fácil com hobbies: porque fazia quando queria, e se quisesse faria bem feito: impecável. Uma artista.

Descendo as escadas, devagar, vinha a Su ao meu encontro. Já tinha acabado de limpar as capas dos livros. Ela sentou ao meu lado coçando os olhos e não falou nada. Ficou lá apenas me olhando, a gente se encarou um pouco nessa manhã, até eu notar que seus olhos estavam vermelhos.

-Seus olhos... Não dormiu? Sabe que não é saudável ficar acordada pela madrugada... Yasu você precisa de descanso- eu disse

-Ah! Bem queria que o problema fosse cansaço. Irmã desde que cheguei aqui minha mente não para. Tive sonhos horríveis com a mãe e passei o resto da noite acordada.

-E porque não me acordou? Se foi pelo o que falei antes, sabe que era brincadeira. Me acorde se acontecer novamente; eu durmo com você- avisei, preocupada.

-Não Mi... Esses sonhos vão passar. Só preciso me acostumar com essas...- quando falou isso ouvimos batidas no portão, e sua concentração que já era pouca para terminar o raciocínio, se perdeu ao se focar no mistério: quem era o sujeito do lado de fora. -Tão cedo, quem será?

-Não é cedo, você que dormiu demais. Olhe o relógio, são dez horas, o mundo não dorme. Me levantei para atender quem quer que fosse. -Suba e se apronte. Vamos ao mercado.

E assim parti; Yasu para sua missão foi ainda mais vagarosa, ia de passo em passo;lenta; bocejou umas duas vezes só no caminho para o andar de cima, nunca vi tanto sono. Se falava bem, dormia melhor. Observei na porta quando subiu as escadas e tomei meu rumo despreocupada apesar da curiosidade que estava grande. Abri as portas e desci os primeiros batentes chegando no portão. Abri. Estava mais claro do lado de fora, o sol parecia querer entrar na terra com raios fortes, poderiam me dividir no meio, em pedaços, derreteria no chão, como chiclete vencido.

-Pois não- eu disse, dei de cara com um senhor um pouco mais novo que meu pai (ou ao menos era o que eu julgava).

-Soube que Chin Young voltou, e está morando nessa casa- ele disse, pelo o que pude perceber, estava ansioso, diria melhor, eufórico, soube na hora que se tratava de um amigo do meu pai; seus olhos diziam isso, estava com saudade e fiquei receosa pelo preguiçoso ainda estar dormindo, mas mesmo assim, me aprecei em responder.

Os primeiros amoresWhere stories live. Discover now