Interrogatório

34 0 0
                                    


Homem solteiro de 35 anos, esguio, de queixo quadrado, olhar imponente e desinteressado. Cordial e aparentemente muito inteligente, vamos ver se é mesmo.

Talvez, seja o dia mais importante da minha vida, o dia que finalmente vou prender o maior serial killer que esse mundo já viu. Matteo Massimiliano Villa de Angelis, era mais conhecido com o Matte. De origem italiana, sua família era rica. Sua avó era o cadáver ambulante mais valioso da cidade, a velha tinha 98 anos, trabalhava todos os dias e cuidava de um apartamento de 80m² no décimo andar no único prédio que tem na cidade. Padrões completamente fora da realidade do resto da cidade.

...

Quando você começou com os assassinatos?

Não começou comigo.

Então você recebeu um... treinamento, tinha um mestre?

Sim, começou junto com a disputa de terras entre fazendeiros a 100 anos atrás.



Matte era bisneto de Enrico Massimiliano Villa de Angelis, conhecido por ser prefeito da cidade por mais de 10 mandatos. Quase 50 anos sentado no mais alto cargo político de São Sebastião do Paraíso. Sem contar que, vejam só que por coincidência, também era o fazendeiro mais rico da região. Dono de quase tudo que se conseguia ver.

Enrico tinha fama de "bom" entre os habitantes humildes, sempre arrumando emprego para filhos de viúvas, que tinham seus maridos sequestrados, mortos e eram achados depois de meses praticamente irreconhecíveis.

...

Meu Bisavó Enrico, era um cara inteligente. Um visionário nato, enquanto todos estavam procurando ouro no sul de Minas, ele investiu em gado e café. Acabou pegando um mercado que ninguém tinha pensado na época. Quando começou ele até chegou a formar algumas alianças. Era simpático, sabia conversar, era um dos poucos letrados da cidade, tinha confiança de todos. Começou com os assassinatos por interesse económico, depois foi expandindo para a política, depois era por puro e simples prazer. Assim como eu faço.


Então o senhor admite que matava por prazer?

Sim, nunca iria negar isso.


Matte era um gênio. Formado em medicina pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Passou entre os primeiros no Enem, sem muito esforço. Sempre foi respeitado por todos que o conheciam, não só pela inteligência. Mas como todo mundo tem seus problemas e vícios, o calcanhar de Matte é a cocaína. Um gênio metódico que tinha como hábito frequentar festas LGBT privadas abastecidas com drogas. Sem dúvida a luxúria sempre foi um pecado presente na sua vida. -- mas você não disse que ele é metódico? Como poderia uma pessoa assim frequentar esse tipo de lugar? --

Matte segue a própria lógica completamente imprevisível.

Qual foi sua motivação para retomar com os assassinatos? (Detetive)

Sempre gostei de violência... e depois de saber que meus antepassados tinham o mesmo... problema, eu só me interessei mais e mais. (Matte)

Que idade você tinha? (investigador)

Por volta dos 12 anos, comecei a perceber coisas estranhas em minha avó. Na fazenda onde morava depois que eu dormia ela descia e ficava horas lá dentro junto com meu Pai. Uma noite qualquer eu acordei agitado com alguns gemidos vindo de lá. Acordei e fui em direção a lareira, foi aí que eu percebi uma pequena abertura entre o chão e o tapete, observei com cuidado... E fiquei maravilhado com o sangue escorrendo pela testa do sujeito, estava amarrado com correntes e como cristo, em uma cruz de madeira deitada no chão, com o corpo coberto de queimaduras de cigarro. E na sua testa estava entrando lentamente a faca que ele usou para ameaçar e estuprar a filha de 8 anos dá empregada que trabalhava em nosso apartamento na cidade, tínhamos idades semelhantes ela era 2 anos mais velha e costumavamos brincar nos finais de semana. Nunca conseguiram provas contra ele, naquela época a polícia não tinha recursos para investigar, o sujeito era policial. Mulher humilde, quase uma segunda mãe para mim. Sua filha foi estuprada e nunca mais foi a mesma, teve graves problemas psicológicos e aos 15 anos já envolvida com drogas e prostituição, ela foi encontrada morta dentro do quarto pela mãe. Ela se matou com os lençóis. Enrolou no pescoço amarrou na pilastra da varanda e se jogou em direção a morte. Com uma corda pendurada no pescoço dizendo: "Mãe, me desculpe eu não aguentei. Preciso de paz, não consigo esquecer aquele dia. Espero que me entenda e me desculpe pela bagunça, não achei outro jeito de fazer isso com amor Júlia". Foi quando a Mãe se abriu para minha avó em um pedido desesperado de justiça. E a justiça estava sendo feita naquele momento.Em um porão de uma fazenda cercada por uma floresta de café. O jeito que minha avó olhava para os olhos do estuprador, enquanto a faca entrava lentamente entre seus olhos, amordaçado. Desesperado ele se debatia e minha avó dizendo palavras incompreensíveis no ouvido do desgraçado, enquanto a perfuratriz empurrava a faca amarrada que ele usou para colocar no pescoço daquela linda garota enquanto a estuprava. Quando depois de alguns segundos, ele não se debatia mais. Estava tremendo, com o sangue escorrendo entre seus olhos, minha avó tirou a mordaça lentamente e antes de morrer ele disse algumas palavras incompreensíveis, só conseguir ouvir uma delas "perdão". Nem nos jogos mais violentos eu imaginei que veria uma cena daquela. Foi quando minha avó e o meu pai começam a desamarrar o corpo e minha avó começa a subir as escadas. Volto correndo para o meu quarto, como se nada tivesse acontecido. A arte, tortura, os símbolos que se formavam com as queimaduras de cigarro no corpo, pareciam ser milimetricamente calculadas, como escritas em braile. Não consegui dormir por dias. Foi quando voltamos pra cidade. A Mãe de Júlia ainda trabalhava em nosso apartamento, quando um amigo próximo a ela disse que o estuprador de sua filha foi encontrado morto em um canteiro de obras. O enterro foi caixão fechado, todos do batalhão onde ele trabalhava foram lá prestar condolëncia. Minha avó, como era uma pessoa muito importante na cidade, compareceu ao enterro. Levou flores de jacinto roxo que significa o perdão, eu vi tristeza no olhar dela, pena. Ela fazia justiça com pena. Essa é a principal entre ela e eu....

Você não ficou assustado com aquilo? Não se sentiu medo?

Eu sinto o que eu quero sentir. E sinceramente, naquele momento, vendo diante um vão entre o tapete e a madeira eu só senti mais vontade de estar lá de perto com eles vendo cada detalhe.


Naquela salinha dos fundos da delegacia o meu coração já estava acelerado, suando frio, com um medo tão profundo que não conseguia explicar. Não conseguia sequer encarar aqueles olhos vazios. Ele estava calmo, respondendo cada pergunta como se fosse uma conversa entre amigos em um bar, enquanto isso o meu estômago embrulhado só de imaginar o que fizeram com o homem naquele porão e o desgraçado viu tudo ficou maravilhado. Nunca tinha ficado cara a cara com um psicopata desse nível.

Já estamos a muitas horas conversando, gostaria de fazer uma pausa Sr.Matte?

Não precisa se preocupar Delegado Marcus, um pessoal já está vindo me buscar.


Foi quando meu coração gelou. Não é possível que esse desgraçado tenha um plano pra sair daqui a essa hora! Está tudo no sistema, testemunhas, corpos, toneladas de provas arquivadas na delegacia... com esse depoimento, ele está blefando, não pode ser.

Tudo bem, como desejar, continuarei com as perguntas.


Estou a seu dispor - Disse com um sorriso irônico no rosto, colocando as pernas em cima da mesa e cruzando os braços.

Você me disse que sua avó sentia pena e que aparentemente você não sente nada. Então por que ela continuou com as mortes e torturas?

Motivos óbvios Delegado. Minha avó tinha um legado para manter, ela prometeu ao meu avô antes da sua morte que seguiria pregando a ordem e a justiça aos injustiçados. Depois de ter acompanhado por décadas meu avô ajudando as pessoas, expurgando os demónios dessa cidade e trazendo prosperidade para os nossos negócios.


Depois que a última frase saiu de sua boca, escuto barulho de carros, alguns segundos depois barulhos bem sutís parecendo pregos sendo enfiados na parede. Olhei para trás onde estava a porta, virei novamente para Matte e ele estava de pé do outro lado da mesa se alongando - Nossa, eles demoraram. - Disse olhando nos meus olhos. Ele bateu com toda a força com as duas mãos fechadas na mesa, não me assustei, as algemas não deixavam ele movimentar muito as mãos. - Você achou mesmo que ia ser fácil assim me pegar? Essa cidade é minha Delegado! MINHA! - Dois homens fardados e armados com M16A4 com silenciadores. Congelado pelo medo e pela impotência, eu só conseguia pensar na minha família.

A conversa foi boa, mas eu tenho que ir. - O soldado tirou as algemas de Matte que abraçou o soldado dizendo palavras incompreensíveis no seu ouvido e dando tapas na suas costas.


Ele se virou pra mim, com as mãos nas costas, e abaixou deixando seus olhos diante os meus, lentamente foi chegando mais perto, estava congelado de medo. Chegaram mais 3 soldados com exatamente o mesmo armamento dos 2 que estão na sala. Com armas apontadas sobre minha cabeça, Matte começa a me cheirar, passando o nariz no meu pescoço e subindo por meu rosto, ele repete o movimento passando a língua até chegar na minha boca, segurou forte o meu queixo percebendo o meu medo ele disse - Não se desespere ainda Delegado, ainda tenho muito o que me divertir com o Senhor.- 

Contra o DiaboWhere stories live. Discover now