1- Depois da guerra

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Muitas coisas aconteceram durante a guerra e em vários momentos Kiba viu sua vida por um triz. Não precisava se esforçar muito para recordar cada um deles com riqueza de detalhes, já que as lembranças o atormentavam durante a noite toda. Entretanto havia um momento que lhe trazia certa dúvida, um em que as coisas ficavam nebulosas e confusas e isso começava a incomodar.

Desde o retorno a vila e a alta do hospital, ele não havia tido tempo bastante para conversar com seus companheiros de equipe. Seus encontros eram sempre breves e objetivos, todos estavam ocupados com a reconstrução dos próprios clãs. Aquela tarde no entanto, haviam combinado um encontro próximo a rio de Konoha para poderem colocar os assuntos em dia. Essa ideia fazia seu estômago embrulhar, pensando que talvez tivesse a resposta para sua dúvida ali, o que era bom, mas também um tanto assustador.

Ele aguardava sentado em uma pedra próxima a margem. o Sol baixava lentamente e coloria o lugar com seus raios alaranjados, algumas folhas voavam ao vento frio do fim de tarde e o rio preenchia o vazio com o som da sua água batendo contra as pedras. Uma paz invadia o coração do rapaz que aos poucos deixava a ansiedade de lado.

Se espreguiçou com vontade e fechou os olhos enquanto sentia os músculos relaxando, porém voltou a ficar tenso ao sentir duas mãos cobrirem seus olhos. Pensou em xingar Shino pela brincadeira, mas percebeu que eram pequenas demais para serem do amigo. O rosto aqueceu contrastando com os dedos frios que lhe tocavam.

- Hinata...? - Arriscou um pouco hesitante.

Ela riu antes de soltá-lo e ir para o seu lado procurando onde pudesse se sentar. Ele se levantou deixando que Hinata ocupasse o espaço que quisesse depois ficou com o que sobrou.

- Desculpe o atraso. Estamos todos tendo muitas tarefas no clã. - Ela o fitou como sempre fazia: calma, doce, confortável, mas desviou o olhar um instante depois e isso era diferente. - Acho que o Shino não vem mais.

- Ah é? Imagino que sim. Minha mãe quer que tudo esteja pronto antes do inverno, então estamos correndo muito. - Dobrou a cabeça tentando descobrir o que ela procurava no chão, sem sucesso. - E como você está? Digo, depois da guerra. Tem tido pesadelos?

- A guerra... Foi estranho, não foi? Perdi muita gente importante, quase morri. Acho que não tem como não sonhar com isso as vezes, mas eu estou bem. - Levou uma mão a boca e mordiscou o pouco que sobrava de uma unha, os demais dedos machucados pelo mal hábito que ela adquirira nos dois últimos meses. - Quando ficamos tão perto da morte meio que nos faz repensar tudo, não acha?

E como achava. Não teve um só momento de tensão em que Kiba não tivesse pensado nas coisas que fez e nas que gostaria de ter feito. A vida ninja é um perigo constante, mas aquela situação havia sido diferente, vendo tantos companheiros caírem, o medo de perder alguém realmente importante. Foi justamente isso que o fez gritar seus sentimentos no meio do campo de batalha, que o fez agir como se só tivesse uma chance de dizer o que queria, pois sentiu que iria morrer. Só não conseguia lembrar das palavras da Hyuuga ao correr em sua direção quando foi atingido. Agora a julgar pela naturalidade das conversas que tiveram desde então, se perguntava se realmente havia dito, ou se não era apenas uma alucinação que tivera.

- Pois é. Nessas horas a gente fala cada loucura. - Caprichou na risada forçada ao ver a expressão insatisfeita da menina. - Você está estranha hoje. O babaca do seu pai fez alguma coisa?

- Não! - Esfregou os dedos nervosa.
- Kiba-kun, você... Eh... Eu andei pensando...

- O que foi, Hina?

- Eu queria... Quer dizer se você quiser mesmo. - Ela não só ficou vermelha, mas cobriu o rosto com as mãos. Queria fugir, só que as pernas tremiam tanto que perderam as forças. O jeito era esperar a resposta.

- Quer? O quê? - Puxou um dos dedos dela para ver o rosto totalmente envergonhado.

- Você não lembra? Ah, desculpa. - O arrependimento era enorme, queria muito fingir que aquilo nunca aconteceu. Se Kiba insistisse no assunto agora, não saberia como encará-lo. - Eu só... Você tinha dito na guerra... Eu pensei... Esquece, por favor.

A saliva rasgou a garganta do rapaz ao engoli-la com força, tentando conter o nervosismo que o tomava. Então ele realmente tinha gritado que não queria morrer sem estar com a Hinata e isso era de longe a coisa mais constrangedora que já fez, mas não estava com vergonha. Tinha um medo enorme disso estragar a amizade que cultivaram ao longo de todos esses anos, seria muito melhor para ambos simplesmente se fingisse não lembrar de nada. - O vento bateu nas costas dela, o cabelo comprido voou contra o rosto do Kiba, ela estava completamente corada, mas dessa vez os olhos não desviaram. Parecia esperar que ele decidisse como lidariam com a situação e foi isso que ele fez ao dizer:

- Hinata... - Se iria se arrependeria disso depois, não sabia dizer, agora o que importava era que não morreria sem beijá-la como havia prometido.
Foi desajeitado, como costuma ser no primeiro beijo, mesmo que ele já tivesse bastante experiência. A posição em que estavam sentados na pedra, lado a lado, deixou a primeira investida de Kiba meio desconfortável, então ele a jogou para trás mantendo-a em seus braços, uma mão na altura dos ombros a outra apoiando a cabeça enquanto acariciava seus cabelos.

Se afastou um pouco, mas continuo a segurá-la dessa forma. O Sol havia se escondido por inteiro e foi difícil ver a expressão dela, mesmo assim ficou encarando os olhos perolados que pareciam brilhar no escuro.

- Tudo bem? - Trouxe ela de volta a posição normal e acariciou seu rosto com cuidado. - Quer sair comigo? Tipo um encontro?

- Eu... Era a ideia... - Cobriu novamente o rosto, mas dessa vez para esconder um pequeno sorriso. - Por que fez isso?

- QUÊ? - Vasculhou as lembranças novamente tentando reviver aquele momento. Tudo que se lembrava era de ter gritado seus sentimentos para ela, mas não as exatas palavras. Ao que parecia, não tinha falado sobre beijo. Agora era tarde, o negócio era deixar rolar. - Porque você é linda, eu estou apaixonado e sou um idiota apressado.

- Kiba... - Algo pareceu crescer dentro dela. Uma sensação estranha de euforia muito agradável.

- Desculpa, Hina. Prometo que se sair comigo nada de beijos. Vou me comportar. - Ele ajoelhou com a cabeça no chão em um gesto bastante exagerado.

- Não precisa disso, Kiba, por favor. - Tocou o ombro dele pedindo para que se levantasse. - Eu vou...

Quando ele se ergueu novamente ficou na ponta dos pés para alcançá-lo, Hinata selou os lábios nos dele por uma fração de segundo, antes de correr para longe deixando-o totalmente abobado.

Família Inuzuka - MenmaNGحيث تعيش القصص. اكتشف الآن