Capítulo 6

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- Ei! Anomalia, acorda! - ouvi Chloe me chamar pelo apelido que o filho de uma puta do Ethan inventou pra mim. Eu resmunguei me virando na cama e colocando o travesseiro no rosto. - Malía é sério, a mamãe tá te chamando, é importante. - eu abri meus para encará-la. Ela também estava com cara de sono. Olhei para o relógio que ficava na minha cômoda. 9:35. O que há de tão importante para que minha mãe viesse me importunar essa hora da madrugada de um domingo?

- Mas o que aconteceu? - eu perguntei para Chloe enquanto me sentava na cama esfregando os olhos.
- Eu não sei, só desci para beber água, tinha algumas pessoas lá na sala e ela me mandou te chamar. Não prestei muita atenção. - ela falou revirando os olhos e saiu do quarto. Eu me levantei, lavei o rosto, escovei os dentes, e troquei de roupa bem rápido para descer. Quando cheguei lá em baixo minha mãe servia chá para dois policiais que estavam sentados no sofá.
Policiais?
- O... que houve por aqui? - perguntei me aproximando.
- Malía O'connell? - um dos policiais perguntou levantando. Ele era gordo e tinha um bigode parecido com um filhote de esquilo.
- Sim...? - eu disse, assustada – com o bigode, é claro.
- Recebemos uma denúncia esta manhã de que você havia pichado e amassado a lataria de um carro na festa de ontem a noite. - O-ou - Isso é dano á patrimônio de outra pessoa, consequentemente, um crime. 
Eu arregalei os olhos. Merda! Richard leva as coisas muito a sério. Minha mãe deve ter percebido minha cara de espanto, pois logo se pronunciou:
- Malía, isso é verdade?
- Ah... Ah... - merda! Merda! Merda! - E como podem provar que fui eu?
Me voltei para os policiais.
- Bem, o dono carro me falou que você já vinha invadindo casas de pessoas a um tempo... - ele olhou suas anotações no seu bloquinho de notas - Ligou para os amigos e eles confirmaram que há duas semanas você invadiu a casa de um garoto, aparentemente jogou cola no cabelo dele, deixou o quarto dele revirado e um bilhetinho assinado com a letra M. Alguns dias depois invadiu a casa de uma garota, roubou um... Chocolate? - ele franziu a testa.
- Mas eu devolvi! - falei rapidamente.
Ele continuou:

- Irritou o cachorro dela, e foi vista por mais ou menos dez pessoas depois de cair da escada... - o outro policial tentou segurar a risada ao ver a cara de confusão do amigo. - Inclusive foi vista pelo garoto da cola no cabelo. E entregou na mão da garota, mais um bilhete assinado com a letra M.

- E o carro do garoto de ontem também tinha um bilhete assinado com a letra M. - disse o outro policial que aparentava ser um pouco mais novo que o bigodudo. - E algumas pessoas da festa disseram que viram você saindo da casa de forma muito suspeita e sem contar que ainda era muito cedo também, e depois disso você voltou causou uma briga e saiu de novo.


Incrível como esses linguarudos só prestam atenção na estranha, mas a popular – Lizzy – entra e sai sem levantar suspeitas.
- Mas existem muitas M's no mundo, não podem provar que fui eu. - eu tentei inutilmente me defender, mas não havia jeito, eu estava ferrada.
- Acho que já temos provas e testemunhas suficientes. Sinto muito mas terá que nos acompanhar até o reformatório. - disse o bigodudo tirando as algemas do bolso. Minha bonequinha interior estava tremendo de medo, meu coração batia tão forte que chegava a balançar a blusa que eu usava.
Fudeu?
- Antes de levá-la, preciso ter uma conversa com ela, é bem rápido. - minha mãe disse. Oh sim! A luz no fim do túnel. Eu amo a minha mãe!
O policial concordou e minha mãe pegou delicadamente na minha mão me conduzindo ao andar de cima. Nós entramos no quarto dela, e ela foi procurar algo no seu guarda-roupas.
- Ótimo mãe, você fez muito bem em ter me chamado aqui pra cima. Vou pular pela janela. - falei andando até a janela e abrindo-a.
- A-ah. Paradinha aí Malía. - ela falou ainda procurando algo em seu guarda-roupas. Virou a cabeça pra mim. - Tire o short. - ela disse simples.
- O quê? Porque? - perguntei sem entender nada.
- Sem perguntas Malía, me obedeça! - ela falou e voltou sua atenção para o guarda-roupas, provavelmente ela me daria alguma roupa sua para que eu vestisse no lugar do short. Sem mais pestanejar eu fiz o que ela mandou.
- Achei! - ela falou virando-se para mim com um cinto de couro extremamente grosso. Essa não.
- Não! Não mãe! Por favor mãe não faz isso! - eu falei enquanto ela me fazia ficar de bruços na cama. Então ouvi o estalo, e logo depois senti a dor. - AAAAAHHH! Mãe porque você faz isso comigo?! - ela bateu outra vez. - AAAAHHHH! Para mãe por favor! - então ela bateu outra vez e outra e outra. O escândalo que eu fazia poderia ser ouvido na vizinhança inteira. E eu cada vez gritava mais alto para que os policiais escutassem e subissem até lá em cima para ver minha mãe me agredindo. Eu comecei a pedir a Deus para que ela torcesse o braço como a mãe do Chris, mas isso não aconteceu. Depois que o braço dela começou a doer ela parou de me bater.
- Veste logo esse short! - ela berrou jogando o cinto no chão. Eu levantei da cama gemendo e fazendo um esforço enorme para vestir minha roupa. - Agora vamos! - ela gritou mais uma vez, me segurando pela orelha e me levando lá pra baixo.
Os policiais encararam de olhos arregalados aquela cena.
- Levem essa delinquente daqui! - ela me jogou na direção dos policiais. O mais magro veio me algemar, enquanto o de bigode foi falar com a minha mãe.
- Ela só passará alguns dias por lá, para aprender a lição. Nada que precise se preocupar. - o policial disse e minha mãe concordou me olhando com desprezo.
- Não! Vocês não podem fazer isso comigo! - gritei enquanto era arrastada pra fora de casa pelo policial que algemou. - Eu tive meus motivos! Vocês nem sequer se preocuparam em ouvi-los! Eu me recuso a sair de casa! - eu me segurei na lateral porta – já que tinha sido algemada com as mãos para frente –, os policiais tentaram me puxar, mas eu continuei me segurando e gritando. O policial de bigode começou a me puxar pela cintura, e outro pelas pernas, depois de tantas tentativas, eles acabaram me tirando do chão, mas eu continuei segurando na porta. Conforme eles tentavam me puxar, a porta ia fechando. Eu tirei minhas mãos de lá só por um segundo enquanto a porta se fechava totalmente. Mas logo voltei a me segurar, com uma das mãos no trinco. Ainda nos braços dos policiais, eu não parava de gritar:
- Por favor não me levem! Aquele garoto fez coisas horríveis comigo! Eu só dei o troco! Vocês têm é que prender a pessoa que roubou o meu diário! Ela sim é delinquente! - eu acabei desistindo de me segurar no trinco, mas não parei de me debater nos braços dos policiais. Eles me jogaram de qualquer jeito no banco de trás da viatura e eu me arrastei até a janela do outro lado. O policial de bigode fechou a porta de trás e tomou o lugar do motorista, logo o outro sentou ao seu lado, no banco do carona. Com muita dificuldade – por conta das algemas – eu abri a janela, que dava visão pra casa de Olliver e gritei o mais alto que pude:

O Diário de Uma TrouxaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt