Jungkook

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Então, se o amor não é nada além de um desperdício do seu tempo, desperdiçe comigo.

Waste it on me, BTS


2018, Seul

É incrível como podemos acostumar-nos a algo que nos é imposto, sem reclamar nossos próprios direitos de escolha. Era intrigante pensar que podemos esconder sentimentos tão profundos por tanto tempo, fazendo com que nós mesmos acreditemos que nunca havíamos sentido aquilo de fato. Mas, era ainda mais estranho saber que alguns sentimentos esquecidos podem voltar em fração de segundos, destruindo qualquer barreira que você tenha construído, ultrapassando todo autocontrole que possa existir em você.

E por mais que seja uma droga, você só precisa descarregar tudo que está sentindo.

Caminhei pela rua deserta, murmurando frases incompreensíveis comigo mesmo. Eu precisava socar alguma coisa, descarregar toda e qualquer fagulha de brasa que queimasse em mim, qualquer resquício de Kim Taehyung de meu corpo. Porque não seria suportável continuar sentindo o gosto doce de seus lábios nos meus, resultado de um deslize de puro impulso que meu autocontrole não pôde conter. Logo agora, depois de quatro anos; depois de reencontrá-lo na faculdade; depois de meses fingindo que aquele reencontro não significava nada.

Um pouco mais à frente, um bar estava aberto a quem quisesse apostar em algumas doses de álcool. Era exatamente ali que Lee Chaeyeon estava, assim como havia me dito que estaria, divertindo-se com suas amigas, em sua mensagem de texto horas atrás. Segundo ela, a festa que estávamos havia perdido toda a graça depois que Taehyung, eu e seus dois amigos foram embora. Em mais um momento de impulso, caminhei até a entrada rústica, agradecido por reconhecer Chaeyeon rapidamente entre as outras. Seus longos cabelos castanhos com algumas mechas azuis nas pontas eram inconfundíveis. Ela sorriu ao me ver.

⸺ Oppa! ⸺ proferiu, com sua usual voz aguda.

Ignorei seu cumprimento, pois odiava ser chamado assim e ela sabia disso. Cumprimentei suas amigas de forma simplista e puxei seu braço sem muita cerimônia, levando-a até um canto escuro do bar, entre os banheiros e a saída. Ela pareceu surpresa por um segundo, mas passou os braços pelos meus ombros logo depois.

Observei seus lábios pequenos e vermelhos, tão diferentes dos que eu provara algumas horas atrás. Então a beijei, afoito, desesperado. Beijei-a com tanta intensidade que me permiti esquecer o maldito Taehyung por um momento.

Durante todos esses quatro anos havia escondido com todas minhas forças qualquer sentimento que meu coração nutria por ele. Era quase como um pecado. Eu simplesmente não podia sentir nada porque não havia sido real.

Amaldiçoei-me mentalmente por não ter sido capaz de segurar meus próprios instintos, por ter me levantado, mesmo tendo Chaeyeon ao meu lado naquele momento. Ela sempre estava lá afinal, e mesmo que eu me sentisse quebrado cada vez que que nos beijávamos ou trocávamos algum tipo de carinho afetivo, eu precisava de um suporte que mantivesse todas as aparências das quais minha vida era mantida. Eu precisava dela para manter a minha vida.

Taehyung e eu não havíamos ficado tão perto durante os primeiros meses de aula e, apenas a possibilidade de ter aqueles lábios nos meus mais uma vez ⸺ da forma doce quente que eu jamais seria capaz de esquecer ⸺, me fez perder o controle pela primeira vez. Todas barreiras que eu havia construído tão meticulosamente, desabaram. Eu queria Taehyung de novo e eu não me cansaria até tê-lo em meus braços. Porém, infiltrada em minha insistência, existia uma necessidade de vingança, tal qual ainda manchava partes do meu coração, mesmo depois de anos. Eu precisava fazer Taehyung sentir tudo o que eu havia sentido depois de ser abandonado.

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