faço as aulas por obrigação

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   O Colégio Interno de Wonju tem que se certificar de que os alunos problemáticos não vão voltar a se meter em confusão quando retornarem à sociedade. Eu não estive aqui minha vida toda para ter visto como as medidas foram estabelecidas e implantadas, então tudo o que eu tenho são as histórias de Chan e dos que vieram antes dele – afinal, eu ainda sou um primeiranista. Repetente, porém, primeiranista.

A primeira medida foram os grupos de reabilitação: basicamente para os alunos que se envolveram com drogas antes de adentrarem o colégio. Esses alunos têm de que usar uma pulseira especial, e há um consenso interno entre os outros estudantes de que não podemos vender drogas para aqueles na reabilitação. Somos adolescentes, não acéfalos.

A segunda são as classes especiais: são apenas aulas opcionais que servem para que o estudante em questão encontre um sentido na vida que não seja cometer infrações. Cada aluno do colégio tem que escolher ao menos uma classe especial por ano. Eu escolhi três, porque sou indeciso.

A terceira, é o grupo de religião: eles aceitam qualquer religião, contato que você tenha uma. Alguns fodidos de lá são homofóbicos, mas honestamente todos sabem que é tudo fachada.

Heterossexuais em Wonjun são como gatos que gostam de água – quase não existem.

Mas o ponto de eu estar explicando isso é algo muito além do que a minha própria necessidade de entender, mas porque, em uma das minhas aulas especiais, Kai também está lá.

Carpintaria.

Não tem nada a ver comigo, na verdade nem sei porque me inscrevi nessa aula, acho que foi uma das ideias loucas do meu cérebro que gritava que ia dar certo sim – ou talvez tenha sido porque eu vi algum garoto bonito se inscrevendo nela logo antes de mim, mas isso não é importante agora.

Pelo lado de fora da janela, pude ver que o dia na montanha estava frio e acinzentado, com uma névoa super baixa que me fazia lembrar de como a fumaça dos cigarros saíam pelos lábios de Huening Kai durante nossas madrugadas de insônia. Me lembro novamente de quão macia era sua boca, e de como queria colar a minha contra a sua e não me afastar mais.

E ele está ali, do outro lado da sala, prestando atenção nas explicações do nosso instrutor do terceiro ano, espremendo o lápis HB de esboço contra seu lábio inferior, e eu imagino que posso simplesmente jogar tudo para o lado apenas para o puxar para fora desta sala e prendê-lo contra a parede. Ele olha de volta pra mim com o canto do olho, mas eu percebo, e meus dentes começam a trabalhar para arrancar a pele que me resta.

Puxo um papel do meu bloquinho de notas pequeno e escrevo perguntando se vamos escapar hoje, mas não esquecendo do nosso alfabeto diferente. Miro e dou um peteleco na notinha, fazendo-a cair em sua mesa. Ele lê e puxa disfarçadamente sua orelha duas vezes, o código para "sim".

Acho que abro um sorriso gigante, porque logo o instrutor está me olhando, com uma das sobrancelhas franzidas.

— Bem, se quiserem andar no mundo da Lua como o Yang faz, podem simplesmente mudar a inscrição para as aulas de artes plásticas.

Os outros alunos riem mas me sinto ofendido, porque artes plásticas é outra das minhas aulas especiais – mesmo que eu seja pior nisso do que em carpintar.

Começamos, então, a trabalhar nos projetos de hoje – como estou com os estudantes do primeiro ano, fazemos sempre coisas bem fáceis, como prateleiras quadradas banquinhos com três pés, depois testamos. Quando o relógio bate em três da tarde eu pulo para minha outra aula especial, em música.

É um pouco melhor mas tem ainda menos pessoas.

E às quatro eu corro para a aula de artes plásticas.

O instrutor em artes plásticas é meu favorito – seu nome é Minghao e ele é chinês. Foi mandado pra cá quando os pais descobriram que era gay, e também porque usava LSD. Ele também é um dos principais exemplos do grupo de reabilitação, carregando sua "pulseira metálica da vergonha" – como ele mesmo chama.

Por algum motivo, ele gosta dos meus rabiscos.

Conto os minutos para às cinco da tarde, para então sair e correr até meu quarto sem dizer nada para Chan nem para ninguém mais do SKz. Eu queria um tempo com ele, queria poder me perder em ilusões de que algum dia poderia tê-lo. Queria poder dividir um cigarro de menta e conversar sobre aleatoriedade e assuntos sem nexo.

   Queria discutir sobre o universo e o que acontece depois que morremos, e queria beija-lo, com a desculpa de que um dia nada mais vai importar.

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Queria dizer que ri surprese de ver tantas pessoas aí KKKKKK
Bem, vou tentar interagir com vcs um pouco mas notas finais, então vou fazer umas perguntas aleatórias tipo

Sei la, essa fic é tão peculiar, como você veio parar aqui?

entre mentiras e cigarros de menta;; StayxTOnde histórias criam vida. Descubra agora