Capítulo 45

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Evans acordou no dia seguinte livre de qualquer pensamento coerente. Sabia apenas que estava cansado como á tempos não se sentia.
Esticou os braços soltando o ar e relaxando os músculos. Tossiu. Sua garganta estava seca demais.
Ele suspirou como se criando coragem, e olhou o relógio que marcava cinco e quarenta e quatro da manhã.
Empurrou as cobertas tossindo novamente e soltou um palavrão baixinho quando trpeçou no pé da cama. Amarrou com força o roupão e começou a descer as escadas, tentando fazer o menos possível de barulho para não acordar Scarlett, que certamente ainda dormia.
A cozinha estava mergulhada na escuridão, mas isso não o impediu de achar o interruptor. A luz branca da lampada, o fez estreitar os olhos até que estes se acostumassem com a nova iluminação.
Encheu um copo de água gelada e tomou todo de uma vez. Estava no fim do segundo copo quando seus olhos focaram na pequena peça em cima da mesa. Ele se afogou, e secou a boca com o dorso da mão, voltando a praguejar.
Pegou a pequena e delicada peça entre os dedos enquanto largava o copo na pia.
O que a calcinha de Scarlett estava fazendo em cima da mesa?
As lembranças da noite anterior lhe invadiram a mente de uma só vez e ele voltou a ficar com a garganta seca, porém desta vez não de sede.
A imagem de Scarlett nua sobre a mesa, enquanto ele lhe explorava com a língua, lhe veio a mente e então ele se lembrou de tudo... Haviam transado na cozinha, na sala, no quarto... Tais memorias lhe provocaram um comichão na virilha e tentando mudar o rumo dos pensamentos apanhou um pedaço de papel descartável para secar a água gelada que havia escorrido por seu pescoço.
Sua mente continuou vagando e em questão de segundos ele também se lembrou de que novamente acordara sozinho, mesmo depois de tudo.
Milhares de pensamentos giraram em sua cabeça com uma rapidez recorde. Perdido e distraído entre eles, Evans foi até a lixeira largar o papel molhado, mas deixou cair a coisa errada. Ao invés do papel, a calcinha havia ido direto para o lixo. Ele a juntou rapidamente agradecendo por não haver nada orgânico no lixo, somente algumas embalagens de comida pronta, um teste de gravidez, e mais papéis descartá...
A mão dele paralisou e seus olhos se arregalaram focando o teste em meio as outras coisas.
Ele quase pode sentir a adrenalina começar a correr em suas veias, enquanto seus dedos trêmulos agarravam aquela pequena coisa que mostrava duas linhas.
Ciente de que suas pernas estavam moles e que o suor frio começava a gotejar sua testa, ele sentou-se em uma cadeira em frente a mesa.

- Meu Deus... - ele sussurrou apoiando as mãos na cabeça, deixando o teste em cima da mesa bem debaixo dos seus olhos.

Ele respirou fundo uma, duas, três vezes, e a sensação de que precisava de ar continuou lá, presente.

- Evans? - alguém sussurrou tão baixo que ele mal identificou o som. - Evans?! É você? - agora um pouco mais alto - Se for me responda... por favor.

Ele viu a sombra de Scarlett que se aproximava da cozinha com passos cuidadosos e amedrontados.

- Evans? - ela repetiu colocando a cabeça para dentro da cozinha - Mais que merda. - Ela gritou com a mão no peito - Quase me matou de susto. Acordei com um barulho, e depois escutei passos e... - ele a interrompeu.
- Quando você ia me contar?
- Quando eu ia o que? Pode repetir? Meu coração está acelerado depois e... - ele voltou a interrompê-la.
- Quando é que ia me contar sobre isso, droga?! - foi a vez dele gritar - Eu achei que você tomava anticoncepcional...
- Eu tomo anticoncepcional.
- ... por isso nunca usei camisinha, por isso ontem eu não usei camisinha.
- Evans, do... - ele a interrompeu.
- Quando você ia me contar? Você ia algum dia me contar? - ele disse com o olhar triste.
- Do que vo... - ela se interrompeu quando viu o teste sobre a mesa - Evans, não é o que você está pensando! - ela disse depressa.
- E o que eu estou pensando? - ele perguntou erguendo o olhar e a encarando pela primeira vez.
- Doritos, me escuta. - ela pediu com a respiração entre cortada.
- Eu estou escutando. - ele disse apertando o maxilar.
- Certo calma. - ela disse de novo e devagar.
- Eu estou calmo. - ele disse pausadamente.
- Certo, eu... eu... - ela gaguejou - eu não posso te contar.
- Ah, você não pode me contar? - ele disse parecendo irônico.
- Não, dentro de alguns dias, juro que te explico tudo, mais agora não posso te contar.
- Até quando você pensava em esconder?
- Como assim esconder?
- Por Deus mulher, se eu não achasse esse maldito teste no lixo, nem saberia da existência dele! - ele gritou levantando de repente.
- Mas Evans... - ele não a deixou falar.
- Como você pode esconder isso de mim?! - ele disse caminhando até ficar completamente de frente pra ela - Como?
- Me entenda por favor, eu prometi. - ela disse nervosa.
- Prometeu? - ele disse com desdem - E o que você prometeu? Que não iria me contar que está gravida? Que não iria me contar que está esperando um filho meu? Quando você pretendia me contar isso Scarlett?
- Este teste não é meu Evans! N4ao é!
- E o que ele está fazendo na lixeira da cozinha?
- Evans, eu não posso te contar, eu...
- Não pode me contar? - ele repetiu bravo.
- Me escute, droga!
- Eu estou te escutando! - ele disse gritando.
- Não, não está. Você está gritando... não me escutando. - ela também gritou nervosa - O teste não é meu.
- Então de quem é? - ele perguntou tentando se acalmar.
- Não posso lhe dizer. - ela disse com o olhar baixo - Sinto muito mas não posso.
- Você não quer, é diferente, não está achando coragem pra dizer. - ele retrucou - Mas isso também já não importa porque eu achei esse bendito teste, e amanhã mesmo nos vamos ao médico, porque você já demonstrou que não vai ser uma mãe responsável ou está com medo de ser mãe agora, eu como pai terei que tomar as providencias de cuidar direito de você e do nosso bebê, você está com fome? Vou fazer... - ela o interrompeu.
- Céus, eu não estou grávida. Eu tomo anticoncepcional! Não estou grávida Evans, nunca lhe esconderia se o estivesse!
- Então de quem é o teste? - ele perguntou irônico crente de que ela estava apenas com medo de contar a ele.

Scarlett suspirou enquanto o silêncio se espalhava pela cozinha.
Ela tinha prometido a Elizabeth que não contaria, mas as coisas não estavam nada bem. Haviam saído do controle mas do que qualquer um podia planejar.
Nunca havia quebrado uma promessa para com Elizabeth, porém, Evans continuava ali a olhando com aqueles olhos verdes e que pareciam cada vez mais intensos. Ela não tinha outra saída se não contar.

- Promete que não vai contar pra ninguém?
- Pelo amor de Deus... - ele disse revirando os olhos.
- Prometa.
- Porque? - ele disse relutando.
- Porque isso não é assunto nosso e não devemos nos intrometer, então ou você promete e me da sua palavra, ou eu não conto nada.
- Tudo bem... - ele disse erguendo as mãos - Eu prometo. Te dou minha palavra que não direi nada a ninguém.

Ela suspirou lentamente assentindo. Abriu e fechou a boca duas vezes, e finalmente na terceira falou com a voz fraca.

- É da Elizabeth.

Evans arregalou os olhos bastante surpreso.

- Ela está gravida? - disse parecendo desconfiado - Desde quando?
- Ela descobriu a pouco tempo e me pediu para que não contasse para ninguém, muito menos para você.
- Porque? - ele parecia ao mesmo tempo desconfiado e ofendido.
- Porque ela precisa de tempo com Chris, e como vocês são amigos ficou com medo que você pudesse falar algo.

Ela não soube dizer o que a expressão dele representava.

- Tem certeza? - ele disse dando mais um passo e pegando as mãos dela entre as suas, um toque comum que fez acender ao corpo de ambos - Sabe, se você estiver gravida... nós podemos dar um jeito... eu e você, nós podemos... - ele disse se enrolando nas palavras.

O que ele estava querendo dizer afinal?!

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