#05

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{ LIAM POINT OF VIEW }

— LIAM? LIAM? — ouvi minha mãe gritando.
— O que foi? eu aqui, to aqui! — Eu gritei de volta.
Ela entrou na adega de vinhos e bebidas que ficava no porão da nossa casa e me avistou perto da prateleira de Whiskys.
— Pensei que tinha fugido de novo. —  ela disse. Eu revirei os olhos e bufei.
— Pode deixar, dessa vez vou me comportar. Afinal eu não tenho outra alternativa. — eu disse levantando o copo de dose cheio de Royal Salute na direção dela e depois o virando garganta abaixo. Ela fez uma expressão de decepção, mas eu já havia me acostumado com ela.
— Por favor Liam, fique sóbrio. — Ela disse com firmeza. Eu sorri e caminhei até a porta e parei perto dela
— Fica tranquila mamãe, eu não vou estragar seu teatro. — Eu disse sob seu ombro. - Mas depois do jantar vocês vão desbloquear meus cartões, certo? - eu questionei. Ela me olhou com
reprovação e saiu sem dizer nada.
Aquela situação estava me deixando irritado, um casamento forçado? Eu não pretendia me casar nem por livre e espontânea vontade.
Eu nem sequer acredito em casamentos e toda essa baboseira... Mas agora eu seria obrigado a me casar com uma garota que nem conheço por que meu pai "se cansou do meu comportamento e acha que preciso limpar minha imagem"? Eu nem me importo com a merda dos tablóides, por que meus pais se importam tanto em como eu vivo a minha vida? Infelizmente eu não tive escolha, meu pai ameaçou tirar tudo de mim e depois de eu dar um bolo em um jantar com a tal garota, as ameaças ficaram sérias demais quando bloquearam meus cartões de crédito. Então eu faria o que eles queriam, faria esse contrato, daria o que eles querem, são só 2 anos. Eu recuperaria a confiança do meu pai e depois que me tornasse CEO do Shopping, eu não precisaria mais me preocupar com nada além de expulsar a estúpida esposa de mentira da minha nova mansão e viver minha vida da melhor forma que eu poderia.
Eu subi as escadas e fui para a sala de jantar, ali avistei quatro pessoas já sentadas. Acho que eu estava atrasado, todos olharam para mim assim que entrei na sala.

— Aí está ele. — Disse meu pai olhando pra mim, ele sorriu de uma maneira estranhamente falsa.
Eu já havia conhecido Ricardo Gilleard pois ele havia estado aqui outras vezes em conversas com meu pai. Ele se levantou e apertou minha mão.
- Bom te ver de novo, Liam. - Disse ele.
Eu dei um breve sorriso e não disse nada. Me sentei e minha mãe limpou a garganta parecendo reprovar meu comportamento mas eu não me importei. Meu pai começou a falar sobre algo em que eu não estava interessado. Bebi um pouco da água que estava no copo a minha frente e pela primeira vez olhei para a garota sentada na minha frente. Ela vestia um blazer rosa e seu cabelo preto escorria por todo o seu busto, ela era bonita. Muito bonita. Não bonita de uma forma artificial como as garotas que eu estava acostumado a encontrar nas baladas, não parecia estar usando maquiagem e sua roupa mostrava pouco a sua pele. Mas ela era bonita, serviria para uma ou duas noites, certamente. Eu parei por um instante ainda olhando para o rosto da garota. Parecia que eu conhecia ela de algum lugar, mas eu tinha certeza de que nunca havia visto ela antes, pois apesar de eu já ter pegado todas as garotas ricas dessa cidade, dela eu me lembraria.
Ela pareceu se incomodar com a forma que eu a analisava, olhou para mim e manteve o olhar fixo no meu, estava séria, quase como se estivesse com raiva. Acho que ela estava odiando toda essa história ainda mais do que eu, eu me inclinei para trás me encostando na cadeira sem quebrar o contato visual, parecia que tínhamos entrado em algum tipo de guerra fria e com toda a minha competitividade natural, eu não queria perder.
Até que ela finalmente cedeu e desviou os olhos para os outros da mesa e respirou fundo antes de falar algo.

{ HELLENA POINT OF VIEW }

- Com licença. Preciso ir ao banheiro. - Eu disse. Meu coração estava disparado e eu sentia que ia vomitar ou desmaiar a qualquer momento. Ficar cara a cara com o Liam depois de tanto tempo não tinha sido exatamente como eu imaginava. Eu sabia que era ele, toda a raiva que eu sentia ainda estava lá. Mas quando olhei para ele, depois de tanto tempo, agora com a aparência de um homem adulto e parecendo nem mesmo me reconhecer, foi diferente, como se não fosse aquele mesmo Liam, era como se ele fosse um completo estranho. E de certa forma, aquilo seria bom, se a lembrança do passado não existisse dentro de mim me fazendo querer gritar de tanta raiva.
Se eu ficasse mais um segundo naquela mesa encarando aquele cara, eu ia acabar jogando um copo na cara dele. Empurrei a cadeira pra trás e me levantei, ir no banheiro iria me dar alguns minutos para respirar e me recompor.
Então a mãe de Liam disse:  - Claro querida! Liam,  por favor, mostre o banheiro a nossa convidada. -
NÃO. POR FAVOR NÃO! Eu gritei em meus pensamentos.

- Com todo prazer. - ele disse se levantando.
Eu sentia uma enorme vontade de vomitar. E de preferência nele.
Ele saiu andando pela frente, analisava que vestia uma calça social preta com cinto e uma blusa social branca, de costas pude ver que como todo homem hétero superficial ele passava muito tempo em academias, e nem mesmo a seu novo visual "Thor" o fazia parecer menos desprezível para mim. Chegamos em um corredor afastado da sala de jantar onde eu parei subitamente.
- Obrigada pela consideração no nosso primeiro encontro. - Eu disse sem pensar direito. Queria ofende-lo de alguma forma e decidi falar sobre o restaurante. Ele parou e se virou com uma expressão confusa, mas logo conteve um sorriso.
- O jantar estava bom? - Ele disse com sarcasmo. Eu revirei os olhos. Ele não deveria alimentar mais a minha raiva.
- Saiba que eu estou odiando essa história o suficiente e não pretendo aturar mais as suas gracinhas. - Eu disse cruzando os braços. Os olhos de Liam me percorreram de cima a abaixo até voltarem pro meu rosto, ele riu como se fosse uma piada e aquilo me irritou ainda mais.
- A única gracinha aqui está bem na minha frente. - Ele disse com um sorrisinho de canto. Eu fiquei paralisada. O que ele queria dizer com aquilo? Eu abri minha boca naturalmente em choque.
- Liam. Não tente debochar de mim de novo. Eu não sou mais uma garotinha indefesa. - Eu disse descruzando os braços. Uma enorme onda de raiva passava pelo meu corpo. Por um instante eu não o via mais como um desconhecido mas conseguia ver o mesmo Liam de 14 anos me chamando de "baleia esfomeada" ali na minha frente.

Ele olhou pra mim novamente, com expressão de confusão, parecia não ter entendido. Confirmando o que eu havia desconfiado, ele realmente não tinha me reconhecido, ele nem mesmo se lembrava de mim.
- Do que você ta falando, gracinha? - Ele perguntou.
Eu sorri, não por felicidade mas por raiva. Ele destruiu a minha vida com suas palavras estúpidas e seguiu sua vida tranquilamente, esquecendo que eu havia existido, enquanto eu tentava me reerguer e superar os traumas que ele havia me causado.
- Saint Francis School... 2014... - Eu disse o nome da escola e o ano em que infelizmente o conhecera, ele olhou para o chão brevemente parecendo pensar e depois olhou para mim forçando os olhos, eu olhava fixamente para ele repleta de raiva e logo um breve lampejo passou pelo olhar dele.
- É claro que você não se lembra. Eu era só mais uma das suas vítimas, não é mesmo? - Eu disse cruzando os braços novamente.
- Não! Não é possível. Você era a gordinha do oitavo ano? - Ele disse e então começou a rir, aquilo fez a raiva se acender dentro de mim. Senti meu rosto queimar com a sensação horrível que eu sentia em ver ele rindo. Minha garganta se fechou e eu não conseguia dizer mais nada.
- Gracinha, o tempo te fez bem. Você fez uma bela dieta hein? - Ele disse em tom de deboche cruzando os braços, ele se encostou na parede e pareceu analisar meu corpo. Aquela atitude me deixou completamente enojada. Em um forte impulso eu não aguentei e caminhei para perto dele e dei um forte tapa no rosto dele. Eu nunca tinha batido em alguém e era totalmente contra agressão, mas a sensação de fazer aquilo foi maravilhosa.
O som estalou assustou mais a mim do que a ele, como se não fosse o primeiro tapa que ele recebia de uma garota. Ele levou uma mão no rosto que agora estava vermelho.
- Garota, você ficou louca? - ele perguntou parecendo surpreso. Ele não esperava por aquilo.
- Você merecia isso. A muito tempo. - Eu disse respirando fundo. Por algum motivo toda a minha raiva parecia ter sido descarregada naquele tapa.
- Você é completamente maluca. Está com raiva de uma brincadeira de criança que aconteceu anos atrás? - Ele dizia. Ele realmente tratava aquilo como se não fosse nada. E para ele não era nada, ele não sabia nem da metade dos danos que ele havia causado em mim.
- Brincadeira de criança? É disso que você se lembra? Seu idiota, eu precisei de trocar de escola. - Eu disse. Ele pareceu se recompor, ajeitou a postura e caminhou até mim, eu dei um passo para trás quando ele estava mais próximo do que era confortável para mim.
- Se vamos morar juntos, vê se aprende a superar o passado, gracinha. - Ele disse de uma forma fria. Eu olhei firme em seus olhos.
- Nunca mais me chame de "gracinha". - Eu disse antes de me virar e fazer o caminho de volta para a sala de jantar.

Assim que me sentei, Liam veio logo atrás de mim, e também voltou ao seu lugar, o clima ficou estranho e todos pareceram perceber. Assim que nos sentamos o jantar começou a ser servido, Liam limpou a garganta.
- Desculpem a demora, eu estava conhecendo melhor essa gracinha aqui. - disse Liam, em tom de malícia, propositalmente, direcionando os olhos para mim. Meu pai tossiu, e os pais de Liam forçaram uma risada de constrangimento. Senti meu rosto corar e desviei o olhar para ele que me encarava com uma expressão desafiadora, senti raiva novamente. Ele estava me provocando.
- N-não, ele não quis dizer isso! - Eu disse tentando explicar mas acabei gaguejando, fazendo Liam rir. Eu queria me levantar e sumir daquela mesa mas isso seria infantil então eu permaneci ali.
- Nós entendemos querida. - Disse a mãe de Liam, que se sentava ao meu lado, com um sorriso.
Eu lancei um olhar de ódio pra ele, que sorria satisfeito.
Ele quer guerra? Ok, que comece a guerra, futuro marido.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now