#27

13.1K 882 88
                                    

{ LIAM POINT OF VIEW }

Eu cheguei no lugar conforme o endereço me informava, eu já havia falado com um contato alguns dias atrás, e sabia que tinha várias opções de como acabar com aquele lugar. Ele conseguiria fazer o local ter falsas irregularidades e mesmo se ela tentasse salvar, meu contato tinha acesso à um advogado particular que ficaria responsável por toda a parte burocrática fazendo com que a única escolha da instituição fosse vender a propriedade, e eu claro, seria o comprador. A minha carta já estava na manga. Eu esperei pelo dia em que ela estaria lá, eu queria ameaça-la bem no local, para ela ter grandes motivos maiores para pensar melhor. Eu estava certo de que ela abriria mão do cargo facilmente, mas não hesitaria em seguir com o plano se fosse preciso. Se ela não fizesse o que eu queria, eu compraria essa propriedade e faria questão de demolir cada parede. Mas a faria pagar por tirar de mim o que era meu.

Eu entrei pelas portas de madeira do local, que parecia ser um Orfanato Católico, pois tinham freiras andando por toda parte. Eu fui até a recepção e fingi minha melhor cara de simpatia para falar com a freira que estava atrás do computador.
— Olá, bom dia! — Eu disse com um sorriso.
— Olá, em que posso ajudar? — ela respondeu também sorrindo.
— Bom... Eu estou procurando minha esposa, o nome dela é Hellena. — falei, a freira pareceu se surpreender e arregalou os olhos quando eu disse o nome dela, e então ela sorriu ainda mais.
— Ah claro! É um prazer receber aqui o marido da Sra. Hellena! Acredito que ela esteja agora na sala de leitura com as crianças, fica no segundo andar, sala 7. - Ela disse educadamente.
— Obrigado. — Eu agradeci mantendo meu sorriso simpático.

Eu subi as escadas, tudo era revestido de madeira escura e as paredes tinham um tom claro de bege, me lembravam um pouco antigas igrejas. Cheguei até a porta número 7 e abri de vagar. Quando olhei pra dentro, avistei cerca de 30 crianças sentadas em tatames coloridos no chão, elas não pareciam ter mais de 8 anos. Estavam ouvindo atentamente uma história que ecoava pela sala na voz de Hellena, eles estavam tão atentos que nem perceberam a minha presença ali. E então eu olhei para ela, que estava completamente envolvida no conto. Eu por um segundo tentei entender por que uma garota com tanto dinheiro gastava seu tempo aqui, lendo para crianças abandonadas ou órfãs.
Eu acabei me distraindo um pouco enquanto observava Hellena fazendo a leitura, por um breve segundo eu me esqueci do que havia ido ali para fazer. Até que uma criança me notou ali, parado na porta entreaberta e cochicou com outra que também olhou e rapidanente todas as crianças olhavam para mim, Hellena pareceu perceber que algo chamava a atenção das crianças na porta e então olhou também. Assim que ela me viu a sua expressão mudou de suave para tensa. Seu sorriso sumiu e ela parecia meio perplexa. Ela se levantou rapidamente.
— Crianças, esperem só um minutinho. — Ela disse vindo até mim. Eu considerei simplesmente virar as costas e ir embora sem dar mais explicações mas eu ainda estava petrificado ali. Ela veio até mim, me puxou pelo braço para o corredor e fechou a porta, olhava para mim com um olhar de confusão.
— Liam, o que você está fazendo aqui? — perguntoi ela exigindo explicações.
— Eu... — Comecei a dizer, mas por algum motivo eu não conseguia me lembrar direito o que eu tinha planejado dizer. Todas as ameaças cruéis que eu havia planejado em minha mente pelo caminho até lá, simplesmente se esvaíram da minha mente. De repente, eu não estava só prestes a ameaçar uma garota que me irritou e tirou algo de mim, mas estava prestes a ameaçar um monte de crianças com olhares inocentes que foram abandonadas ou perderam seus pais, crianças que provavelmente já tinham sofrido mais do que eu jamais havia sofrido na vida, crianças que a garota na minha frente se importava o suficiente para dar seu tempo para elas ao invés de fazer qualquer outra coisa. Naquele momento eu vi meu reflexo nos olhos escuros de Hellena e eu vi que ela não estava errada quando disse que eu era desprezível, comparado a ela, eu era mesmo miserável e desprezível. Todo o motivo para eu ter ido até ali perdeu o sentido no segundo em que eu vi que os olhos dela possuíam exatamente a mesma pureza dos olhos de todas aquelas crianças. Ela não merecia isso.

Amor em Chamas: O ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora