Carter

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CARTER

10: 35 pm

— Aff — resmungou uma voz feminina que se mesclou com o ranger da porta da cela.

Isso mesmo, acabei minha noite em uma cela na cadeia. Que noite. E só iriam me liberar pela manhã ou com a presença do meu pai, o problema era que meus pais estavam viajando.

Com dificuldade, me sentei no gélido banco de matéria, pressionando a bolsa de gelo, que gentilmente foi me cedida, contra meu olho roxo e dolorido, certamente ficaria alguns dias sem conseguir enxergar.

Finalmente encarei uma jovem loira, magra, pele clara e ansiosa caminhar de um lado para o outro inquieta. Arrancando seus sapatos dos pés, os segurou em suas mãos. Parecendo meio pálida com uma mistura de verde.

— Está bem? — perguntei um pouco preocupado, afinal não queria ter que socorrer mais uma mulher naquela noite.

— Não — murmurou sem me encarar, andando de um lado para o outro — Minha noite está sendo um desastre. Meu pai vai me matar.

Choramingou, jogando a cabeça para trás e encarrando o teto que era da mesma cor que o resto do ambiente, cinza, algo deprimente, o único que parecia não se importar era nosso companheiro, deitado em um banco do lado, de costas para nós e dormindo pesadamente, em um profundo e sonoro ronco.

— Bem vinda ao clube — ela me encarou pela primeira vez.

Ela parou, me olhando fixamente, como se inclusive não me visse.

— Não estou me sentindo bem — resmungou

Com medo de que ela caísse ali no meio do cimento frio, em um salto me pus em pé, para segura-la. Cauteloso segurei seu antebraço e sua mão pousou no meu ombro, se apoiando.

— Está tudo girando — chiou entre os dentes — Acho que bebi de...  — antes que pudesse terminar a frase baixou sua cabeça e tudo que estava em seu estômago foi parar no chão e nos meus sapatos.

Ótimo.

Encarei o teto sem graça, para não acompanha-la naquele gesto nojento, sim tinha nojo de vômitos alheios. É nojento.

— Era só o que me faltava – murmurei para mim mesmo.

Ela passou o punho em seus lábios, limpando algum resquício.

— Desculpa— com um olhar sincero ela me encarou

— Tudo bem

A guiei em direção ao banco de cimento, a ajudando a sentar e agora com facilidade achei o lenço escondido em minha jaqueta

— Toma — lhe ofereci — Para se limpar.

Ela agarrou o pedaço de algodão branco

— Obrigada — sussurrou — Que noite — disse se recostando na fria parede de concreto e recuperando parte de sua cor.

Fiz o mesmo e me recostei, esticando as pernas, virei a cabeça para fita-la.

— Encontro difícil? — questionei curioso.

Uma lufada de ar saiu de seus lábios, parecendo exausta esvaziou seus pulmões.

— Semana apavorante — com os olhos fechados, como se estivesse recuperando suas forças, respondeu — E posso defini-la em: meu namorado me traiu, bebi horrores, roubei o carro do meu agora ex-namorado e fui pega dirigindo bêbada e sem carteira — suspirou — Ou seja, fiz muitas besteiras.

Meu Primeiro Encontro com Você [✓]Where stories live. Discover now