Sleep in your house

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Harry

Eu tento manter o foco nos exames, alguns deles de senhoras com setenta anos e muito saudáveis por sinal, outras com apenas dezoito e já destruídas por dentro, infelizmente. Não entendo por qual motivo a vida tem que ser assim, alguns nascem para ter uma existência longa e saudável, outros pelo contrário, terão seus dias limitados.

O trabalho só parece ficar mais duro e cansativo a cada dia, devo entender agora a razão pelo meu pai ser tão feliz fora do consultório. Não que ele já tivesse alguma vez demonstrado tristeza a algum paciente. Porém, ele está onde mais quis estar durante todos os anos de plantões e sono acumulado. Mal vejo a hora desse meu dia chegar e finalmente poder ter uma noite completa de sono com paz.

Carregar um grande consultório médico nas costas é como correr a maior maratona das olimpíadas. São tantos problemas diários e assuntos complicados para tratar que essa semana eu quis ligar para meu pai e dizer, quem sabe, que estou cansado, que o cargo para comandar a diretoria da clínica merece ser de outro médico que ele confie, seja mais novo e tenha mais disposição. No entanto, o amor pela medicina e a falta do que fazer dos dias tediosos que viriam, não me deixaram completar a chamada e o Dr. Styles ficou apenas com um "Estou com saudades pai, venha me visitar" Porque eu realmente sinto falta do meu pai, da minha mãe e do carinho que eu costumava receber quando era mais novo.

Júlia apareceu semanas depois de Mariah sair correndo da minha vida. Ela colocou Eduarda nos braços e falou que já tinha resolvido sua vida e o meu tempo com a menina tinha finalmente acabado, antes disso é claro, eu fiz o teste de DNA, o resultado foi exclusão de paternidade e lendo aquelas letras vermelhas "o suposto pai está excluído de ser o pai biológico do filho" meu coração parou como se eu estivesse perdendo uma boa parte da minha história. Eduarda foi uma oportunidade de vida, eu estava acostumado com a vida de pai e todas essas coisas.

Por consequência das crises de ansiedade, procurei um psicólogo. Todos os dias a mesma coisa, sentar, conversar, receber alguns conselhos e voltar para casa com uma pontinha de esperança no peito. Esperança que algo bom volte para mim e por Deus, como eu quero que esse algo bom seja Mariah.

Louis tem me ajudado, alguns dias ele vem aqui em casa e arruma uma coisa ou outra. Não tenho mais empregados, me afastei de uma porção de pessoas durante o tratamento e decidi que só depois de ficar bem é que eu volto a contratar. Ninguém merece encarar meu mal comportamento ou surtos involuntários durante o dia.

Na maioria das noites eu peço pizza e meu melhor amigo me acompanha no jantar silencioso da minha casa. É quase lei Tomlinson encher meu saco para não ficar sozinho, sair mais e "superar" o que eu estou passando.
Existem milhões de fatos para isso ter acontecido e por pura consciência não culpo ninguém específico desse desastre psicológico.

Ele entra na sala trazendo um vinho e alguns CD's aleatórios nas mãos. Fecho a tela do notebook e arrumo os exames na mesinha central.

"Não acredito que trouxe CD's" Sorrio tentando parecer o melhor possível, é a primeira vez que ele me encontra desde ontem, tenho que parecer bem. Por mais que nada passe despercebido por Louis Tomlinson, ele é bom na arte de notar tragédias.

"Trouxe e nós vamos assistir todos eles, pronto para a noite dos rapazes-lindos-solteiros-ricos de Londres?" Diz sentando no sofá diante da TV, otimista como sempre.

"Você por acaso sabe que eu tenho assinatura na TV e o pacote mais caro da netflix? Ninguém mais usa essas coisas Louis" Entrelaço os dedos para passar neutralidade. Ele revira os olhos.

"Para de chatice, só quis fazer algo diferente" Cruza os braços e me fita, querendo ler meus pensamentos.

"Eu estou bem Louis, não me pergunte como foi o dia ou se tive crises, está ficando clichê essas perguntas" Murmuro sentindo o ar faltar "Você sempre vem aqui tentando fazer algo diferente e me animar, só que todos esses malditos dias estão sendo uma droga para mim, e não Louis, eu NÃO tenho esperança que Eduarda vai aparecer correndo pela sala e pedindo para contar história para ela dormir, eu NÃO tenho esperança que ela vai pedir para comprar doces e encher o meu peito de alegria. Eu não tenho Louis, juro que não" No fim, a voz falha, ele tem a mão no meu ombro com um ato de carinho.

Doctor Styles •hesWhere stories live. Discover now