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Dezembro de 1990 

O som do piano atravessa o corredor da escola, sinal de que está ocorrendo uma aula de ballet em uma das salas, onde, na ponta dos pés, as bailarinas dançam com maestria e doçura. Animadamente, a professora incentiva suas alunas com palavras de apoio, está orgulhosa em ver que aprenderam todas as lições que aplicou durante o ano. 

Entre as alunas, está Lunna. Para ela, o momento de colocar o tutu de bailarina e as sapatilhas são momentos mais esperados do dia e mais do que especiais. Aos seis anos de idade, quando chegou naquela escola e viu uma bailarina pela primeira vez dançando, sentiu lá no fundo do peito que era isso que queria, aprender ballet e ser profissional. Desde então, hoje com 12 anos, a  menina nunca  mais parou.

No momento que Lunna olha para o vidro da parede da sala de aula, vê um menino de cabelos lisos escorridos, usando uma camisa branca com a logo da escola que estudam e óculos bem grossos a observando, e abre um belo sorriso para ele, no qual a retribuí na mesma proporção, é seu amigo Jota. Todas as sextas feiras, o garoto corre para a sala de dança assim que termina a aula para vê-la dançar, e depois, irem embora juntos.

Adoro ver a Lunna dançar, principalmente porque ela sempre está linda. Parece que hoje ela se superou. Pensa, encantado, tocando levemente no vidro.

A amiga dança com muita delicadeza e sem nenhum embaraço, gosta quando ele vem vê-la. Em cada rodopio, um sorriso diferente, ainda mais por saber que hoje é aniversário do amigo de infância. A menina finge não estar lembrando, só para aparecer na casa dele de surpresa. 

Eu sei que todo o aniversário do Jota a mãe dele faz um mega bolo de chocolate, então vou lá para comer um pedaço. Pena que não tenho dinheiro para comprar um presentinho...

 Jota não tem muitos amigos e Lunna é uma das poucas, além disso, é vítima de valentões na escola por ser muito magro e ser considerado muito feio. 

— Muito bem garotas! — Diz a professora, encerrando a aula. — Podem sair, até semana que vem. 

A pequena bailarina pega suas coisas, sai da sala de aula, cumprimenta o amigo e vai até o vestiário para trocar de roupa, para então ir embora.

Mais tarde, Lunna se arruma para ir até a casa de Jota, deixa seus cabelos compridos e cacheados soltos, finalizando com um laço violeta. Aperta a campainha da casa simples e, já na janela, vê o amigo espiando e abrindo um sorriso. Rapidamente ele abre a porta e corre em direção a ela, no portão.

— Feliz aniversário! 

É recepcionada com um grito. Ele dá um salto de alegria para abraçá-la.

— Pensou que eu havia me esquecido? — Ela diz com um grande sorriso.

— Não, você nunca se esquece do meu aniversário!

Assim que eles entram, Lunna é recepcionada pela mãe do garoto, que a convida para comer um bolo de chocolate, como imaginara. Ele possuí velas no formato de números, juntos formam o número 13.

— Que bom que veio, Lunna, estava te esperando. — Diz o amigo.

— Não precisa agradecer. — Responde, com a boca cheia de bolo.

— Você é a minha melhor amiga. É uma pena que não tenho amigos suficientes para fazer uma festa. 

— Ah, não fique triste, Jota... Quer que eu dance para você? — A garota tenta animá-lo.

— Quero sim!

Na sala de estar, Lunna dá saltos e rodopios graciosos, tomando cuidado para não quebrar nada, pois da última vez, levou uma bronca de dona Georgia por ter quebrado um vaso de flor. Cada gesto delicado encanta o amigo, sentado no sofá da sala.

Entre sapatilhas e coturnosWhere stories live. Discover now