Capítulo 3 - Discuto sobre meu pai vagabundo com uma japonesa

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Aí, eu tô amando escrever isso aki, quero ver até que hora eu vou gostar


Phoebe abriu sua primeira garrafa com o isqueiro que usara para acender seu cigarro. 

Estávamos sentados na beirada de uma piscina de uma casa que, segundo Phoebe, os donos estavam viajando. Estávamos em silêncio, mas era um silêncio reconfortante, aquele que te faz lembrar que você tem boa companhia. Ela tinha tirado da bolsa algumas maquiagens e um espelho, e se virou para se maquiar, cujo tal ato não me permitia vê-la. 

Meus pés estavam submersos na água gelada. A piscina estava limpa, movimentada pelo vento e com algumas dezenas de folhas alaranjadas em sua superfície. Eu movimentava meus pés em circulos e observava o curso da água. Eu era bom em me distrair com pequenas coisas; o que, embora pareça um problema, me ajuda nas grandes filas. 

O vento passou sobre nós, arrepiando-me até a nuca. Olhei para o horizonte e  vi algumas nuvens cinzentas se aproximando. Olhei para cima e vi o sol azul-claro e alegre, que logo seria dissipado pela deprimente e lastimosa chuva que se aproximava. E algo me dizia que seria uma tempestade digna de primavera. 

Olhei para a água novamente, encarando meu reflexo. Meu rosto se ondulava, meu cabelo tapava um pouco minha face. Eu não gostava de me olhar muito no espelho. Me sentia estranho. Não tenho os cabelos cacheados e castanho-claros da minha mãe, nem seus olhos amendoados finos claros. Não tenho sua boca, nem nariz. O formato do rosto nem mesmo o sorriso. Me sentia deslocado. Eu a amo tanto, mas tão pouco temos em igual. Pode até parecer bobagem, mas eu queria ter pelo menos algo que eu pudesse olhar e falar "eu tenho isso da minha mãe". O pior é saber que você é a cópia do seu pai e não ter o conhecido. 

Minha mãe tinha se separado do meu padrasto, pai da minha irmã, oito anos após o nascimento de Ellie, me teve com outro cara, se separou dele também e voltou com meu padrasto. Eu me sinto o erro da história, embora minha mãe me ame tanto... digo, me amava tanto. Às vezes desejava nunca ter nascido. Desde sempre trago problemas, pareço um imã de tragédias. 

Eu estava encarando a mim mesmo há um bom tempo, olhando profundamente para meus olhos arredondados claros, com os mesmos pensamentos deprimentes. Cara... se minha mãe nunca tivesse conhecido o palerma do meu pai, quem eu nem conheço, muitas coisas não teriam acontecido. Minha irmã nunca teria sido atropelada por causa de mim e ainda conseguiria desenhar, meu padrasto não teria tanta raiva de mim a ponto de descontar em minha mãe, nossa família iria ter muito mais dinheiro e não precisaria, até hoje, ficar pagando aquele maldito Bugatti que me culparam de ter explodido na quarta série. Minha irmã não teria problemas com aluguel e minha mãe... ela nunca teria morrido... 

Seja quem for meu pai, eu o odeio.

Não percebi quando lágrimas começaram a cair de meus olhos para a piscina. 

- E então? - Perguntou Phoebe, tão repentina que me assustou. - O que tu tem? 

- Eu... eu não sei. É como se... Eu odeio meu pai.

- Opa, vá parando por aí. Você não o conhece. Não pode simplesmente falar assim do cara. 

- Ele arruinou minha vida.

- Ele te deu a vida.

- Ele deve ser um baita de um canalha. Um inútil, sem relevância no mundo.

- Mas todos somos irrelevantes.

- É - Me deitei e fiquei observando o céu com poucas nuvens. - Somos tão inúteis. 

Ela procurou a garrafa sem olhar para trás. Olhei para a garrafa, e como mágica, ela levitou e foi parar na mão de Phoebe, tão naturalmente e rápido que nem teve tempo dela perceber.

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⏰ Last updated: Jul 24, 2019 ⏰

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Edward Gimle e os Semideuses OlimpianosWhere stories live. Discover now