Love Hurts

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"O amor fere, o amor deixa cicatrizes, o amor machuca e marca" - Nazareth

"É só uma visita! É só uma visita Alice, é só uma visita!"
Alice repete incansavelmente em sua mente enquanto se arruma para ir até a delegacia da pequena cidade de Riverdale.
"Você consegue, você é forte! É só o Hall, só o Hall!"
Haviam se passado vários dias desde o atentado cometido pelo ex-marido contra sua própria vida e até então, ela não havia visto ele em momento algum.
Enquanto termina de retocar o batom em frente ao espelho, recorda-se da conversa com Betty na noite anterior, a qual a mesma havia revelado que tinha visitado o pai e que a conversa foi um tanto quanto difícil, mas que a jovem gostaria de ir para a escola e seguir com a vida.
Mirando o reflexo no espelho, Alice observa sua expressão abatida escondida pela camada de maquiagem e encara seus olhos azuis sem brilhos. Suspira e tenta fazer seu melhor semblante de deboche. É hora de enfrentar seu passado para então, assim como as filhas, seguir com seu futuro. E quem sabe não adicionar nele um homem alto de olhos castanhos e sorriso sensual no meio.
Descendo as escadas para seguir até o carro, ela percebe que mais uma vez se encontra sozinha naquela enorme casa e suspira indo em direção a delegacia.
Em poucos minutos dirigindo, a jornalista chega até o local, estaciona e desliga o carro, percebendo que as mãos no volante tremem, assim como o coração está acelerado, batendo descompassado.
Caminhando para dentro do local, ela reconhece o Sheriff e pede para visitar o ex, o que prontamente é atendido.
- Ora, ora ora! Quando disseram que era você, não acreditei... Alice Susana Cooper!
Harold Cooper pronúncia com um sorriso malicioso de braços cruzados na cadeira.
- Smith! Alice Smith!
A jornalista afirma encarando o ex-marido séria analisando a expressão do homem enigmática.
- Ué? Desistiu do nosso amor Alice? Ainda somos casados não se esqueça!
Ele dá uma risada irônica observando a mulher.
- Por pouco tempo! Eu quero o divórcio.
A loira expõe abrindo um leve sorriso presunçoso, percebendo o homem ficar nervoso.
- Então essa é a honra de sua visita meu amor?!
Hall fala sarcástico descruzando os braços e levantando indo em direção a grade que separa ele da mulher.
- Eu te dou com muito prazer! Mas só te digo uma coisa... Você não vai ser feliz. Sua pecadora!
Ele pronúncia sério encarando profundamente os olhos da esposa que sorri debochada.
- Eu já estou muito feliz Harold! E você? Atrás dessas grades, um moribundo. Ainda me pergunto como casei com você? Nem na cama presta como homem!
A mulher o encara sarcástica revirando os olhos, o vendo ficar irritado.
- Sabemos bem o motivo né!
Hall sorri malicioso vendo a mulher se ajeitar e mudar a expressão voltando a ficar séria.
- Fico feliz de saber que você nunca vai conhecer aquela criança! Porque ele tá morto, você matou seu próprio filho Alice! Caiu nas minhas chantagens emocionais e entregou a criança, uma mãe desnaturada, que pensou mais em si mesma que no próprio filho e agora ele tá morto. Aquele bastardo! Tinha nem que ter nascido, você devia era ter feito o aborto como mandei! Sua idiota!
O homem fala friamente em um ar de deboche, percebendo atingir a esposa propositadamente.
- CALA BOCA! CALA A SUA BOCA HALL!
Alice explode, não conseguindo manter a calma e plenitude que havia a poucos minutos, entretanto segura o choro que sobe a sua garganta.
- Você é um idiota! Nem pra ser um serial killer serve. Nunca serviu pra ser um homem e nem pra ser pai! Seu brocha, imbecil. Vai ficar preso pelo resto da vida, mofando numa cadeia, enquanto vou seguir minha vida com minhas filhas, te esquecer e ser muito feliz! Fica aí se deteriorando, enquanto vou pra cama com o FP, porque ele faz comigo em uma noite, o que você não conseguiu fazer em 20 anos de casado. Seu trouxa! Até nunca mais Harold.
Alice pronúncia sarcástica e firme, sabendo ter tocado no ponto fraco do homem, revidando o que ele a fez sentir, já que ele sempre soube que ela ainda sentia algo por FP Jones. Ele fechou a cara instantaneamente e segurou nas barras da grade raivoso.
- Eu devia ter matado você quando tive a chance! Você e aquela tonta da Betty.
Ela fica surpresa com a fala do marido, pois a jovem é filha dele, sangue de seu sangue.
- como pode dizer isso da sua própria filha Hall! Quem você se transformou?
Ainda encarando o homem estupefata, ela fala sentindo o peito acelerar com a maldade do homem.
- Eu sempre fui assim, essa parte minha só estava adormecida! E a Betty, ela também é assim, cuidado quando você menos esperar, ela vai te atacar por trás, ela tem a mesma escuridão que eu! Suas pecadoras.
Ainda agarrado a grade ele pronúncia impiedoso, cheio de maldade no olhar.
- Ela nunca será como você Harold! Não a minha Elizabeth. Ela é boa e tem muito amor!
Irritada, a mulher se aproxima do homem apontando o dedo em seu rosto. Hall ri alto horripilantemente e a encara.
- Você é uma pecadora Alice e pecadores devem morrer! Eu vou sair daqui e matar um por um, começando por suas filhas e por fim você!
A jornalista arregala os olhos assustada e dá um passo pra trás ao ver na expressão do rosto dele e o tom calmo e perverso de sua voz que ele diz a verdade. Por um segundo, ela se sente afetada pelas palavras do homem, todavia, se recompõe e coloca um sorriso no rosto cruzando os braços.
- Você vai morrer na cadeia Harold, enquanto vou estar transando muito com FP Jones e te traindo. Como é sua frase mesmo? Pecadores devem morrer né? Vou morrer mesmo, de tanto orgasmo que meu amante vai me dar.
Alice ri debochada, pegando sua bolsa da cadeira e caminhando sensual para a saída, ouvindo apenas os gritos furiosos e ameaçadores de Hall ficando cada vez mais distante.
- Tudo certo senhora Cooper?
O Sheriff se aproxima questionando e avaliando a mulher.
- Smith, por favor! Quero que providencie que esse homem mofe na cadeia, ele é um perigo para mim e para minhas filhas!
A mulher pronúncia mexendo na bolsa e colocando um dinheiro no bolso da camisa dele que apenas acena a cabeça.
- Tenha uma boa tarde Sheriff!
Ela deseja se despedindo, caminhando em direção ao carro mantendo a postura e seriedade. Entretanto, assim que coloca os pés fora da delegacia, ela sente o corpo relaxar, as mãos tremerem, os olhos encherem d'água e a garganta arder. Com dificuldade, pega a chave de dentro da bolsa e abre a porta do carro, mas assim que se senta no banco e bate a porta fechando, o choro alto sai e as lágrimas começan a descer descontroladamente e em sua mente as palavras de Hall começam a passar, a martirizando.
"Você nunca vai conhecer aquela criança! Porque ele tá morto, você matou seu próprio filho Alice!"
Os soluços saem sem que ela possa controlar, junto com a respiração descompassada. Ela só queria que Betty estivesse ali a acalmando como quando conheceu Chic e foi rejeitada, ou um abraço confortante de FP como quando lhe contou que o filho de ambos está morto.
- E pensar que eu amei você Hall, do meu jeito, mas amei!
Os minutos passam e assim que ela se sente melhor e recuperada, limpa o rosto e segue para casa. Pelo menos, uma parte de sua vida tinha sido encerrada. É isso o que acha.
Na noite do mesmo dia, ela se recolhe cedo sem muitas conversas com as filhas e deitada pensativa, ouve alguém bater na porta do quarto.
- Mãe? Está tudo bem? Não te vi hoje!
Assim que nota a aparência abatida da mais velha e os olhos inchados, Betty se aproxima rapidamente da cama e se senta na beirada.
- Estava chorando novamente? O que aconteceu?
Alice apenas observa a filha se aproximar e tenta segurar as lágrimas enquanto brinca com seu lenço de papel nas mãos.
- Não é nada. Vou melhorar, ainda estou me recuperando de tudo!
A mais velha pronúncia, omitindo o real motivo de sofrimento.
- Eu ia sair com o Jughead, mas se quiser eu fico aqui e faço um chá para nós duas!
Betty propõe colocando as mãos por cima da perna esticada da mãe e acaricia preocupada. Alice sobe o olhar emocionada e nega com a cabeça, levando a mão para o rosto da filha e afagando carinhosamente, sentindo um aperto no peito ao lembrar das palavras do marido sobre a jovem.
- Eu te amo tanto Betty! Você, suas irmã e agora os gêmeos são minha razão de viver. Nunca duvide de meu amor!
Exprime com a voz embargada vendo a expressão de estranhamento da mais nova.
- Mãe está me assustando! Aconteceu alguma coisa e não quer me contar é isso? Pode falar!
Betty tira a mão da mãe de seu rosto e a segura carinhosamente.
- Não aconteceu nada filha! Pode ir sair com seu namorado, só não esqueça de se proteger por favor! Vou fazer um chá e descansar.
O semblante melancólico não convence Betty, mas ela também não continua o interrogatório. Aproxima a mão da mãe de seus lábios e deposita um beijo.
- Também te amo mãe! Qualquer coisa só me ligar, Polly está no quarto dela com os gêmeos.
Elizabeth sai preocupada mirando uma última vez a mãe antes de passar pela porta, deixando Alice emocionada com tal atitude e declaração.
Suspirando e limpando a lágrima que escorre por sua bochecha, ela cria forças para se levantar e seguir até a cozinha. Enquanto prepara o chá, Polly aparece e as duas começam a conversar, ela conta que visitou Hall, mas omite também alguns detalhes.
Sentadas na mesa cada uma com uma xícara, Polly parabeniza a mãe por ter ido visitar o pai e oferece uma ajuda, um amigo da tal fazenda que ela mora e que a ajudou a curar sua dor após a morte de seu namorado. Alice suspira e sorri, aceitando o conselho da filha, disposta a melhorar e seguir em frente em sua vida.
O resto da noite transcorre normalmente e na manhã seguinte, ela levanta mais disposta, se arruma e desce para preparar um café percebendo estar sozinha na residência.
Arrumando a cozinha distraída pensando ainda em seu encontro com Hall, Alice ouve uma batida na porta e se assusta estranhando. Imaginando quem seria aquela hora da manhã, ela caminha em direção a porta sentindo um nervosismo diferente, o coração acelerado e uma sensação de ansiedade. Observando pelo olho mágico, ela nota um rapaz bem aprumado de terno e gravata e sem entender abre a porta vagarosamente vendo o distintivo de FBI aberto.
- Alice Cooper? Sou o... O agente Smith do FBI! Podemos conversar?
O rapaz se apresenta aparentemente nervoso, engolindo em seco no final e observando-a. Mesmo sem entender, ela permite a entrada e enquanto fecha a porta vagarosamente, tenta assimilar a sensação de que essa não é a primeira vez que esteve com ele.

"O amor é apenas uma mentira,
Criada para te deixar triste
O amor fere... O amor fere"
Nazareth

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