Prelúdio

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Está terrivelmente frio quando faço o percurso até a cafeteria onde trabalho há quase quatro anos. Enrolada em camadas e mais camadas de roupas eu me sinto como um boneco de neve caminhando pelas calçadas salpicadas de neve derretendo.

São seis e quinze da manhã e o tráfego de carros e pessoas nas ruas está aumentando exponencialmente conforme Vancouver acorda para mais um dia de trabalho. Pequenas nuvens de fumaça da minha respiração condensando no frio dos menos nove graus sobem ao ar, transformando meu redor numa pequena cortina branca de respirações.

Quando empurro a porta de vidro impecavelmente limpa, o pequeno sino do batente anuncia minha chegada e eu sorrio pequeno para Simon que ergue o olhar ansioso para o hall do estabelecimento. Daqui a pouco aqui estará cheio de pessoas famintas e mal-humoradas indo para seus respectivos serviços.

- Bom dia. - Murmuro e sigo para os fundos da loja, onde depois da cozinha, seguindo um corredor estreito, dá para os armários dos funcionários.

Lá eu tiro as duas camadas de blusas mais grossas que estava usando e as dobro dentro do meu compartimento, junto com a touca, luvas e cachecol. Com o avental devidamente amarrado no pescoço e quadril eu retorno para a frente da loja amarrando meu cabelo num coque firme, onde não acontecerá de nenhum fio de cabelo cair nos produtos que vendemos.

Eu viro a pequena placa pendurada na porta escrita aberto e ajeito o tapete de cerdas duras bem na entrada, depois retorno para o balcão, onde normalmente fico recebendo e passando os pedidos dos clientes para a cozinha e a bancada de bebidas.

Não demora muito até os primeiros clientes entrarem e eu sorrio abertamente para todos, desejando-lhes um bom dia e com bom-humor para deixar o frio e a irritação do lado de fora da cafeteria. Em sua grande maioria são pedidos cafés quentes, em copos térmicos grandes que aguentem o frio glacial do lado de fora.

- Deus, poderia ser verão o ano todo! - Guila entra resmungando, ela tira a touca de lã e abana para que os flocos de neve não umideça a peça e em seguida vem até o balcão e sorri - Oi, Ellie. Como vai?

- Oi, Gui. Estou bem e você?

- Com frio.

Ela ri e eu sorrio desviando minha atenção para o monitor do computador com tela sensível fixado à minha frente.

- O de sempre? - questiono e ela sorri confirmando - São dez dólares. Dinheiro ou cartão?

- Dinheiro. - ela abre sua bolsa de couro preto lustroso e tira uma carteira grande vermelho-sangue, as notas são cuidadosamente colocadas sobre o balcão e eu as recolho entregando em seguida, a comanda para que ela possa retirar seus pedidos depois.

Simon lança um sorriso tímido de bochechas coradas para ela e entrega para outra cliente o copo grande de cappuccino de canela.

- Já estou fazendo o seu - ele balbucia e coloca sobre o mármore da bancada o pequeno prato com um muffin de blueberry, a máquina de chocolate quente apita quando termina de despejar o conteúdo na xícara e eu observo o barista mais eficiente de Vancouver se atrapalhar e quase se queimar por estar sob a atenção da menina que gosta.

- Obrigada. - ela pisca para ele e assim que dá as costas, Simon me olha de olhos levemente arregalados.

Lá fora os flocos de neve continuam caindo, embora com bem menos frequência e eu observo os clientes assíduos e também os novos, refugiados do frio aqui dentro.

O horário de pico terminou às oito e quinze, horário exato que Arthur Pendragon, o dono da cafeteria entra estremecendo o corpo.

- Bom dia, gente. - Ele diz alto, há ainda meia dúzia de pessoas tomando seus desjejum em silêncio absoluto e nós, os funcionários empenhados em organizar toda a bagunça que foi feita até o momento. - Que dia frio.

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