Voyage à trois • {taeyoonseok}

03 | Aquele em que Hoseok está de mau humor

Era noite. O primeiro dia de viagem havia passado relativamente rápido — principalmente após o trisal (e Abigail) conseguirem sair do congestionamento. Tirando as poucas paradas necessárias; como a do almoço, ou a parada para o xixi de Taehyung; não tinham ficado muito tempo fora da estrada. Para Jung Hoseok, tanto melhor, porque quanto menos paradas fizessem mais rápido chegariam à praia, e não que pessoalmente estivesse tão ansioso assim — ele não era lá uma pessoa muito chegada em praias —, mas queria ver seus namorados se divertindo. Queria ver seu Taehyung brincando na areia e quem sabe Yoongi pegando alguma cor, pra variar.

Externo às suas divagações, tocando como um plano de fundo melódico de seus pensamentos, You Know I'm No Good era ouvida num volume relativamente bom no sistema de som não tão bom da Abigail. Aqueles alto-falantes tinham um grave péssimo, mas Hoseok dava — ou tentava dar — um desconto à Del Rey, ao sogrão dono dela e inclusive a Yoongi, que defendia aquele projeto de carro como se fosse sua própria tataravó. Até que Kim Taehyung, um dos dois amores de sua vida, cometeu o crime de falar arrastado, com seu timbre grave e bonito num tom de tédio:

— Seok, eu não aguento mais ouvir a voz da Amy Winehouse.

Terrivelmente ofendido, Jung Hoseok virou-se para trás devagar, sentindo-se traído por Taehyung. Encarou seu namorado mais novo intensa e profundamente, nos displicentes e teimosos olhos castanhos que insistiam em se esconder por trás da franja de um vermelho vivo, sem ser capaz de evitar o comentário que dançava entre suas orelhas: seu mala.

— Nunca é demais ouvir a voz da Amy Winehouse — Hoseok verbalizou sua verdade absoluta. Amy era um ícone e não havia uma única música sua que não o fizesse sentir até mesmo amores e tristezas que não eram seus.

— Coloca Lady Gaga, por favor!

Taehyung fez manha no banco de trás, batendo com o punho no banco. Hoseok revirou os olhos, enquanto ao seu lado, Yoongi permanecia em silêncio; mas pôde ver o namorado mais velho erguendo as sobrancelhas ao se levantar um pouquinho do próprio banco para visualizar o assento traseiro no qual Taehyung batia — igualzinho ao senhor Min.

— Isso aqui é música boa, Taehyung, você não pode ignorar esse fato.

— As músicas da Lady Gaga também! E você faz faculdade de dança, amor, não pode ignorar as performances dela.

Hoseok estalou a língua em resposta e voltou-se para frente, seu olhar e atenção sendo ambos capturados pelo que acontecia do lado de fora do carro, a vista que tinha pela janela. Pequenos pontos brilhantes percorriam seu campo de visão numa breve, curta viagem apenas de ida. Vermelho, laranja, amarelo, azul. Branco. À medida que atravessavam a rodovia, as luzes da paisagem cruzavam com eles pelo percurso, viajando em sentido oposto. E por alguns segundos e pela primeira vez em dias, sentiu paz; a paz que precisava. Ali, dentro de um carro velho e, em sua opinião, também um tanto quanto decrépito; com seus dois namorados; olhando para a rodovia iluminada, um céu cujas estrelas não se revelavam; sentindo a brisa fresca entrando pela pequena fresta nas janelas e circulando por todo o interior do utilitário.

E ele até queria manter aquele momento, mas como nem tudo eram flores, a frase que escapou por seus lábios acabou sendo mais forte que Jung Hoseok — só para não deixar passar, murmurou:

— E quem é Lady Gaga na fila do pão...

Taehyung se apoiou entre os bancos da frente e apontou para Hoseok, o dedo indicador levantado culpando-o tanto quanto sua expressão o fazia, com os olhinhos semicerrados e o bico no lábio inferior:

— Gi, ele 'tá insultando a minha religião.

Yoongi, que estava calado até então, sussurrou algo incompreensível com uma carinha sonolenta, e só então eles se lembraram que Min Yoongi era um ser humano e tinha que dormir. Mesmo porque, após o almoço, Taehyung e Hoseok puderam descansar durante aquele trânsito infernal, porém Yoongi manteve-se acordado até o último minuto e agora, o cansaço estava começando a pesar. Não poderiam prosseguir com a viagem até o dia seguinte, pois o mais velho era o único dos três que possuía habilitação para dirigir.