Damon

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[...] então seguiu ate o criado ao lado e pegou um caderno e um lápis. [...]

Natasha acordou sentindo o calor do raio do sol aquecer sua perna, automaticamente tateou o espaço ao seu lado notando que estava vazio. Apoiou-se em seus cotovelos olhando ao redor:
- John? – Chamou, mas não obteve resposta. Talvez estivesse no deque ou tenha dado uma saída para ir ate a cidade comprar alguma coisa. Ela se jogou novamente na cama se espreguiçando. Decidiu tomar um banho antes de subir para tomar café.
Uns vinte minutos mais tarde Natasha saiu da cabine subindo para o deque e no mesmo instante foi invadida pelo som do violão, e a voz que acompanhava a melodia a entorpeceu. Se aproximou mais e viu John sentado em um dos colchões, com uma perna dobrada e outra no chão servindo de apoio para o violão:
-
Would you hold my hand
If I saw you in Heaven?
Would you help me stand
If I saw you in Heaven?
I'll find my way
Through night and day
'Cause I know I just can't stay
Here in Heaven – Ele tinha uma voz belíssima, rouca e extremamente harmoniosa.
Natasha reconheceu a música que ele cantava, era Tears in Heaven do Eric Clanpton.
-
Beyond the door
There's peace, I'm sure
And I know there'll be no more
Tears in Heaven – Ele cantava a música com melancolia, como se quisesse dizer algo com ela, transmitir seus sentimentos. Nat estava pregada no lugar, não conseguia dar um passo, completamente hipnotizada pela voz dele. Escutara John cantar apenas uma única vez, e fora um simples refrão, e não uma música inteira como essa.
-
Would you know my name
If I saw you in Heaven?
Would you be the same
If I saw you in Heaven?
I must be strong
And carry on
'Cause I know I don't belong
Here in Heaven – Ele dedilhou com mais emoção o ultimo refrão. A música acabou e Natasha queria pedir outra, queria passar o dia todo escutando John cantar. Finalmente conseguiu reaver o controle de suas pernas e encurtou a distancia entre eles. Tocou seus ombros deslizando suas mãos para o peito dele ate se fecharem ao seu redor. Beijou sua nuca e depois sua bochecha.
- Por que nunca me disse que cantava tão bem?
- Mas eu não canto
- Só pode estar brincando. Sua voz é linda e tão sexy, eu poderia ficar o dia escutando e não enjoaria.
- Sério?
- Com certeza. Pelo visto você tem muitos talentos escondidos, mas esse é um que não vou mais deixar esconder de mim.
- Fico feliz que tenha gostado, mas saiba que minha voz jamais será melhor que a sua.
- Isso é apenas um detalhe – Beijou outra vez seu rosto e foi então que notou o caderno de desenho ao lado dele. John tinha desenhado uma criança e parecia ser um menino. Natasha se afastou para sentar na frente dele e então pegou o caderno olhando com mais atenção para o garotinho sorridente no papel. Quase no final da folha estava escrito "Damon". Ela percebeu que por ter um nome o garoto não era fruto da imaginação dele. Tocou os contornos do desenho como sempre fazia. Sorriu ao notar a riqueza de detalhes nos traços, parecia uma fotografia – Que menino bonito.
- É o Damon – Ele olhava atentamente para sua esposa reparando em cada uma de suas expressões – É o nosso filho.
Qualquer traço de alegria sumiu por completo do rosto dela. Olhou para ele como se tivesse escutado a maior revelação de todas:
- O que? – Parecia que seu sangue havia sido drenado do seu corpo, pois estava branca.
- Minha linda você disse que quando estava em coma conseguia escutar tudo o que eu falava não e?
Ela apenas concordou com a cabeça:
- Lembra-se dos sonhos que eu contei que tive com você?
- Sim...
- Tem um que eu não contei, e foi no mesmo dia em que você acordou
Natasha olhou para o desenho em suas mãos juntando as peças:
- Um dia antes eu fui ver meu pai no cemitério, precisava falar com ele, desabafar, eu só queria vê-lo... E parece que ele atendeu o meu pedido, pois a noite ele apareceu nos meus sonhos, mas não foi como os outros, uma simples ilusão ou uma lembrança, ele foi realmente falar comigo, disse que eu o havia chamado.
Natasha abriu a boca para puxar o ar, pois suas narinas já não conseguiam mais suportar a quantidade de ar que ela exalava, suas mãos tremiam violentamente:
- No primeiro momento eu vi um garotinho correr para o meio das árvores, e no inicio pensei que fosse eu, pois já tinha sonhado comigo quando era criança, mas quando eu estava no barco o menino apareceu outra vez, mas estava na margem do lago, um pouco distante e meu pai disse que era meu filho, nosso filho.
Natasha começou a lagrimar e afastou o caderno para que não caísse sobre a folha e estragasse o desenho:
- Esta noite ele veio em meus sonhos outra vez, só que não estava longe e sim bem perto, falou comigo, disse coisas que somente uma pessoa... Viva, poderia saber sobre mim...
- O que ele disse? – Perguntou com a voz embargada.
John respirou fundo e contou todo o sonho a ela, cada palavra, do inicio ao fim. No final Natasha estava se acabando em lágrimas:
- Ele disse que gosta do seu nome e acha você muito bonita – Ate John estava deixando suas lágrimas caírem – Disse que nos perdoa mesmo sabendo que não tivemos culpa pelo acidente.
- Oh Meu Deus... – Tapou o rosto com uma das mãos enquanto soluçava.
- Ele me pediu para dizer que ama você
- Aah – Colocou a outra mão no rosto e juntou as pernas perto do corpo.
- Ele ama você minha linda – John se ajoelhou na frente dela.
- Ah meu bebê – Colocou os pés de volta no chão e abraçou o caderno – Eu também o amo muito.
- Ele sabe disso, sempre soube – Tocou os pulsos dela sentando ao seu lado. Nat se jogou nos braços dele abraçando-o.
- Por que isso tinha que acontecer John? Por que eu tive que sofrer aquele acidente? Não é justo, por que tinha que ser logo com o nosso bebê?
John fechou os olhos ao lembrar-se do acidente e da culpada. Lucy. A raiva invadiu seu sangue, fazendo-o ferver, mas não podia dizer nada, todos que sabiam do verdadeiro culpado foram orientados a não contarem nada a Natasha, tudo o que sabia era que dois homens estavam no carro que a acertou e fugiram do local, mas alguns dias depois foram pegos e estavam na prisão, só isso. Na época Natasha estava se recuperando, e sabiam que se dissesse que Lucy foi a responsável pelo acidente e a perda do bebê, ela enlouqueceria e isso agravaria seu estado. Então por decisão de todos, essa parte da história não deveria ser contada a ela.
- Eu não sei, as vezes acontecem coisas que infelizmente não podemos evitar.
- Mas era uma vida inocente. Eu só tive a oportunidade me sentir mãe por dois dias, e você só soube que ele existiu tarde demais, já não estava mais comigo.
- Eu sei meu amor, eu sei, isso é muito triste, mas nós já conversamos sobre isso. Infelizmente nosso filho não pôde vir ao mundo, ainda, mas teremos outra oportunidade. Você quer ter um bebê não é?
- Sim, eu quero
- Talvez uma garotinha
Natasha abriu um sorriso em meio às lágrimas pensando na hipótese de ter uma filha:
- Sim, uma linda menininha
- Tão linda quanto à mãe – Apalpou seu rosto com carinho.
- Eu quero muito ter um bebê. E você?
- Quero, desde que todos venham de você.
- De outra mulher é que não seria, aí de você John. – Conseguiu fazer piada e rir, já era um bom começo – Eu amo muito você meu amor. Você me faz a mulher mais feliz do mundo, e um dia fará ainda mais quando me der um filho.
- Eu serei um homem completo quando o fruto do nosso amor estiver aqui – Tocou a barriga dela. Natasha ficou ainda mais emocionada e esticou seu rosto para beija-lo.
- Será que eu passaria por invejosa por também querer ter um sonho com meu filho?
- Há! Há! Não, nem um pouco.
- É que eu sei que você é o pai, mas eu sou a mãe e queria muito ver meu filho, poder falar com ele, abraça-lo, senti-lo nem que seja por alguns segundos. Não vale só você sonhar.
- Talvez ele goste mais do pai
Natasha bateu no braço dele e John explodiu em gargalhada:
- Minha linda não se preocupe, um dia será sua vez. – Limpou o rosto dela com a costa da mão.
Nat olhou novamente para o caderno e passou para outra folha descobrindo um novo desenho, tinha ao todo cinco imagens de Damon:
- Ele é tão bonito, e tem cara de travesso – Ela disse acariciando os traços do rosto.
- Ele gosta muito correr no campo, e adora rosas, assim como você.
- Verdade? – Olhou para ele sorrindo.
- Sim. E também quer ser esportivo igual a mim. Escalar montanhas, esquiar, pilotar carros e motos em corrida.
- Ah não, eu não vou deixar meu filho participar dessas corridas perigosas. Ta doido? Eu ia ter um ataque do coração só de pensar ele fazendo aquelas curvas perigosas e acabar batendo.
- Eu participei de diversas dessas corridas e nunca sofri um acidente grave.
- Porque você é louco, e eu não estava por perto para impedi-lo de fazer tamanha loucura.
- Há! Há! Mas você disse que gostou de assistir os vídeos
- Sim, porque tudo já havia passado e você estava inteiro e do meu lado.
- Há! Há! Há! Tudo bem – Beijou a testa dela – Decidiremos isso quando ele nascer.
- Tem razão – Devolveu o beijo no rosto.
- Temos que pensar que Damon está em um ótimo lugar agora e sendo cuidado por meu pai.
- E que é uma ótima companhia. Pensar nisso me conforta.
- Sim – John a puxou para seus braços abraçando-a – Não devemos ficar tristes, nosso filho não ia gostar nada disso.
- Tem toda a razão – O abraçou apertado.
- Agora que tal tomarmos café? Estou morto de fome.
- Acho uma ótima ideia – Se afastou.
- Então vamos – Ficou de pé segurando as mãos dela e a levantou – Para o almoço o que acha que comermos lasanha com sorvete?
- Aii! Credo, só de pensar nisso já ficou enjoada.
- O que? Há alguns meses era só o que você queria comer.
- Queria, disse bem, e antes eu estava grávida, sentia esses desejos malucos. Hoje eu não conseguiria comer metade de tudo aquilo que comi.
- Parecia que você não comia há anos, o tempo todo estava comendo.
- Ei em minha defesa eu estava comendo por dois e não sabia disso. – Bufou.
- Estava com medo que virasse uma bola
- Ah! Que horror John – Deu uma cotovelada nele.
- Há! Há! Há! Há! Brincadeira – Ele a conduziu ate a mesa no deque.

Simply, I love youWhere stories live. Discover now