Amor Bandido

Capítulo 2

Bruno

Ver minha irmã com 17 anos, saudável e feliz é a maior conquista da minha vida

Ai você me pergunta: você sempre quis ser chefe do morro?

Com certeza não, isso não foi muito uma questão de escolha, era isso ou a miséria, e por mais que seja considerado errado o que eu faço, eu não me arrependo de ter feito essa escolha.

Quando eu fiz 5 anos, eu vi o meu pai bater na minha mãe pela primeira vez, e eu simplesmente não podia fazer nada, então eu chorei.

1 ano e meio depois a minha mãe ficou grávida da Bia, e eu não podia conter a alegria de estar tendo uma irmãzinha, já que a única pessoa que eu tinha era o Thiago, que tava comigo desde que eu me conheço por gente.

Nós morávamos na parte mais pobre da comunidade, e eu nunca entendi muito bem o porque, já que o meu pai era policial e recebia um bom salário, esse que a família não via nem o cheiro.

A gravidez da Bia sempre foi de risco e depois do parto o médico disse que a minha mãe teria no máximo 10 minutos de vida, e nesse tempo, minha mãe pegou o neném no colo, disse que ela iria se chamar Beatriz, deu um beijo nela, e escreveu uma carta que era pra ser entregue pra Bia quando ela fizesse 18 anos.

Já haviam se passado extamento 8 minutos, e eu lembro até hoje quais foram as últimas palavras da minha mãe pra mim.

"Filho, eu te amo mais do que você possa imaginar, e eu quero que você ame mais do que você possa imaginar a sua irmãzinha também, a partir de hoje você deve cuidar dela como se fosse o tesouro mais precioso do mundo, e nunca a culpe pela minha morte, mais que ela seja uma lembrança do meu amor por você"

Ela morreu exatamente 12 minutos depois de dar a luz, e eu só não acabei com a minha vida por causa da minha irmã, ela sempre foi minha esperança.

Meu pai nunca cuidou dela, dizia que ela era a culpada pela morte da mamãe, e se não fosse por mim ela tinha morrido.

A tia do Thiago tinha ganhado a Nay fazia 3 meses, então ela amamentou a Bia, me ensinou a trocar fraudas, como fazer quando ela não parava de chorar, a tia Lúcia tratou minha irmã como se fosse filha dela, e não há nada no mundo que eu possa fazer pra agradecer de forma suficiente por tudo que ela fez por nós.

A Bia foi crescendo com o meu amor e o desprezo do meu pai, ele nem disfarçava, e quando eu fiz 14 anos e a Bia 7 ele morreu, e por mais que aquele homem fosse um ordinário, era dele que vinha nossa renda, ai eu fiquei sem saber o que fazer, porque não tinha como a tia Lúcia e tio Mauro alimentar 4 crianças.

E foi aí que o Pezão me procurou, ele era o chefe do morro na época, e me conhecia desde muleque, ele foi quem muitas vezes impediu que meu pai matasse a minha mãe nas surras dele.

Então perguntou se eu queria virar seu funcionário e eu aceitei, comecei vendendo na boca, e pelo menos dava pra colocar comida em casa.

Com 16 anos eu já era o braço direito dele, comandava tudo do alto, levava aquilo ali a sério. Tava tudo correndo bem até que 1 ano depois tio Mauro e tia Lúcia morreram em um acidente de carro, ai quem teve que virar funcionário foi o Thiago pra conseguir criar a Nay.

Quando eu tinha 20 anos, um dia o Pezão virou pra mim e disse que tinha conhecido uma pessoa, e que não queria mais ficar no Brasil e tava deixando todo seu império pra mim, me elegeu como novo chefe do morro na frente da comunidade e simplesmente desapareceu do mapa depois.

A única coisa que ele me disse antes de ir embora foi "Nunca mate por matar, e nem mate pessoas inocentes, não deixe o poder subir pra sua cabeça, continue humilde. Não faça nada pra chamar atenção e nem deixe seus funcionários chamarem, lembra que por mais que a polícia saiba que você ta aqui, eles só vão te atrapalhar se você incomodar eles, então fica na sua que eles ficam na deles. E o mais importante, sempre ajude a sua comunidade, do mesmo jeito que eu te ajudei, boa sorte garoto!"

E foi assim, fiz do Thiago meu braço direito, a gente se mudou pras "mansões da realeza", que são as duas que ficam na parte mais alta do morro, e eu sigo tudo que o Pezão me ensinou até hoje.