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Era por volta das 21:30 da noite quando vi Anthony voltando para dentro do PUB depois de ir atender a ligação de Isabella lá fora. Estava sentada no banco perto do balcão do bar, o local tinha as paredes pintadas de preto, algumas luzes e um palco onde uma banda local tocava uma música que eu não conhecia. Haviam muitas pessoas ali e aquele não era o tipo de lugar que eu gostava de frequentar então eu já ansiava ir para casa. Eu vestia uma saia preta, uma blusa cacharrel cinza e um blazer preto por cima, calçava botas pretas de salto meia pata. Anthony se sentou novamente ao meu lado e me lançou um olhar preocupado.
- A Isa também não vai poder vir... Ela disse que está gripada. - Ele disse.
- Ah, sério? Caramba que péssimo. - Eu disse. Mas logo percebi que o encontro entre amigos acabou virando um encontro só nosso, exatamente o que eu não queria que acontecesse. Um clima estranho surgiu e eu chamei o barista atrás do balcão.
- Uma pepsi, por favor? - Eu pedi. Anthony aproveitou para fazer o pedido de um mojito. Ele logo trouxe nossos pedidos. Eu observava as pessoas ao redor bebendo e conversando e me perguntava como elas conseguiam gostar desse tipo de ambiente escuro e barulhento.
- Então... o lugar é maneiro. - Eu menti.
- Sim, bom... não que eu goste de Pub's mas Eduardo é um amigo de infância e estava bem animado para a inauguração de seu negócio. - Ele disse. Eu me senti aliviada por não ser a única que não gostava desse tipo de local.
- Ah entendo... bom, boa sorte para ele! - Eu disse. Anthony me fitou em silêncio e eu secretamente lamentei por perceber que depois daquela declaração e daquele breve beijo, nossa amizade nunca mais seria a mesma. Eu não me sentia mais à vontade com ele, mas constrangida. Ele pareceu perceber meu constrangimento e limpou a garganta.
- Lena eu acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu naquela noite eu... - Ele disse. Eu bebi um pouco do meu refrigerante para umedecer a garganta.
- Não! Não precisamos. Sério! Vamos esquecer, e seguir em frente. - Eu disse. Mas quando vi um traço de tristeza no seu rosto temi que tivesse soado diferente do que eu imaginava.
- Eu entendo que você esteja chateada comigo. Eu não me arrependo do que eu fiz mas eu queria te pedir desculpas por... te beijar do nada. - Ele disse, desta vez olhava para baixo parecendo sentir vergonha.
- Ta tudo bem, sério. Águas passadas! - Eu disse e forcei um sorriso. Ele começou a me encarar com o mesmo olhar daquela noite de novo e eu rapidamente desviei os olhos para a banda tocando atrás dele.
- Tudo bem... - Ele disse.
Nós seguimos conversando sobre o local, músicas e principalmente sobre a ong. Depois de mais 3 mojitos ele voltou a ser o Anthony espontâneo e engraçado e eu me senti um pouco mais à vontade. Por algum tempo eu acreditei que tudo poderia sim voltar a ser como era antes e que nada iria mudar na nossa amizade, até que chegou a hora de irmos embora. Já eram 23:40 quando deixamos o Pub.
– Onde você estacionou? Vou te acompanhar até seu carro. - Ele disse.
– Ah, você não quer uma carona? - perguntei.
- Não precisa! Minha moto está logo ali. - ele disse apontando para a rua ao lado do Pub.
- O que? De jeito nenhum! Você bebeu e não vai pilotar assim. - Eu disse.
- Eu não bebi tanto assim, está tudo bem Lena. - disse. Ele realmente não parecia bêbado mas eu não podia deixar ele correr nenhum tipo de risco.
- Anthony, você não tem escolha. Vamos, eu te deixo em casa e amanhã você busca sua moto. - Eu disse. Eu sai andando e ele não teve opção a não ser me acompanhar.
- Ok, não vou discutir com a realeza. - Ele disse levantando as mãos em rendição e eu ri.
- Isso, sem questionamentos ou te mandarei para a masmorra. - Eu brinquei.
- Aposto que realmente tem uma masmorra na sua mansão. - Disse pensativo.
- Se tivesse, eu já teria transformado em uma sala secreta cor-de-rosa cheia de pufes quando eu tinha uns 10 anos. Afinal eu era uma criança sozinha dentro de uma casa enorme com muito tempo livre. - Eu disse. Chegamos no meu carro e entramos. Eu liguei o carro e comecei a dirigir até a casa de Anthony, que não ficava muito longe dali.
- Deve ter sido difícil. - ele disse de repente.
- Oi? - eu falei sem entender.
- Deve ter sido difícil ser uma criança sozinha dentro de uma casa com tantos quartos. - Ele falou parecendo pensativo.
- É... eu me acostumei. - Eu disse com um sorriso.
- Mesmo que eu não aprove... fico feliz que agora você vai ter uma companhia para viver. Não vai mais... se sentir sozinha. - Ele disse. Eu engoli seco.
- A gente pode... não falar disso? - Pedi serrando os olhos enquanto dirigia.
- Desculpa. - Disse ele. Eu ri para quebrar o clima estranho que iniciava ali. Ficamos em silêncio até que chegamos em frente o prédio onde ficava o apartamento dele.
- Entregue, são e salvo! - eu disse ao parar o carro. Ele riu e se virou para mim.
- Lena... eu sei que você pediu para não falarmos sobre isso mas saiba que eu tenho certeza de que eu poderia te fazer feliz. Realmente feliz. - Ele disse. Mais uma vez eu fiquei sem palavras olhando estaticamente para ele. - Eu espero que esse... Liam... Te valorize pois você é literalmente a garota mais linda, interessante e altruísta que eu já conheci. - completou ele. Senti meu rosto corar com o elogio, ele falava sério e olhando nos meus olhos, eu olhei para baixo. Não sabia o que dizer.
- É uma pena que você não possa ser minha... Se eu tivesse sido sincero antes talvez... - Continuava falando.
- Anthony! - eu o interrompi. Ele tirou o sinto e me lançou um olhar cheio de encanto.
- Hellena. - Ele disse. Até mesmo o som da voz dele era meio sedutor.
- Olha... você é um cara incrível. E em outras circunstâncias... seria fácil eu me apaixonar por você. Mas se é difícil para você aceitar que isso não pode acontecer nas circunstâncias atuais... então eu acho melhor a gente se afastar. - Eu soltei. Ele pareceu não gostar da ideia de nos afastarmos.
- Eu... não quero isso. - Ele disse.
- Eu gosto da sua amizade, mas não pode existir nada mais que isso entre a gente. - Eu disse.
- Eu posso me contentar com a amizade... - disse Anthony, seus olhos se desviaram dos meus e pararam na minha boca e isso me deixou realmente nervosa.
- ... mas não posso prometer que vou parar de querer mais que isso. - Completou ele. Eu virei meu rosto para frente e apertei o volante com as mãos. Por que ele tinha que fazer isso comigo? Logo agora? Eu pensava em como minha vida amorosa tinha sido parada por tanto tempo. Bom, eu completei o ensino médio em um internato só para meninas então passei toda essa fase bem longe de meninos. No fim do último ano eu fui para um acampamento de verão onde conheci um garoto, vivemos um breve romance mas deu tudo errado e nem mantemos contato. Desde então alguns rapazes tentaram se aproximar de mim na faculdade mas eu estava ocupada demais estudando, fazendo estágios, participando de workshops, fazendo cursos de idiomas, aula de piano, aula de ballet, aula de muay thai, fitdance, sendo voluntária na ONG, no Asilo, no Orfanato, viajando com meu pai nas férias para viagens de negócios disfarçadas de "viagem de pai e filha", praticando corrida e yoga... que sempre vi eles como a menor das minhas prioridades, afinal, eu nem tinha tempo para isso. Minha terapeuta dizia que eu me ocupava com muitas coisas para tentar superar o trauma de ter sido uma criança solitária, mas eu preferia acreditar que me sentia bem com uma rotina agitada. Mas agora eu tinha me formado, não fazia mais todas essas atividades e tinha mais tempo livre. Seria o momento perfeito para conhecer um cara legal, viver um romance e quem sabe... me casar de verdade. Mas eu não poderia. Por que logo eu estaria presa por um contrato por 2 anos. E logo agora, Anthony decidia expor todos os seus sentimentos por mim.
- Anthony, por favor, não complique as coisas. - Eu disse baixo encarando o volante. Senti o toque da mão dele no meu queixo, ele virou meu rosto suavemente para ele. Olhei para os olhos dele, pareciam brilhantes e inocentes enquanto ele olhava para mim.
- Eu só estou sendo sincero. O que eu devia ter feito a muito tempo. - Ele disse me encarando.
- Eu espero que você encontre uma garota legal e que vocês sejam felizes da forma que você merece ser. - Eu disse enquanto olhava nos olhos dele. Por um segundo foi como se eu visse seu coração se partir através de um raio de dor em seus olhos e isso fez meu próprio coração doer dentro do meu peito. Senti um nó na minha garganta quando ele soltou meu queixo e respirou fundo. Eu destranquei as portas do carro.
- Não vai valer a pena por que ela não vai ser você... - Ele disse olhando para frente. Seu olhar parecia vazio e eu não sabia mais o que dizer, então permaneci em silêncio.
- Boa noite Hellena. - Ele disse, olhou para mim por alguns segundos e então desceu do carro. Eu esperei que ele entrasse no prédio antes de dar partida. Fui para casa e por algum motivo algumas lágrimas caíram dos meus olhos enquanto eu dirigia.

Amor em Chamas: O ContratoWhere stories live. Discover now